O povo português é por natureza um povo tranquilo e sereno. Está mais na sua génese o protestar baixinho e para pequenas plateias. Já no tempo da outra senhora assim se fazia e assim se continua a fazer. Resumindo: somos um povo manso.
Isto vem a propósito das polémicas sobre as corridas de touros em Portugal.
Gostaria primeiro de vos contar uma história e depois de vos apresentar alguns números estatísticos.
Todos se recordam da polémica causada pelos touros de morte em Barrancos, legalizadas extraordinariamente há cerca de 10 anos atrás. Todos nos lembramos nos anos imediatamente anteriores à sua legalização, as “touradas” que havia antes de começar a tourada propriamente dita. Deslocavam-se para Barrancos milhares de pessoas, umas para apoiar a corrida e outros para protestarem. Eu que não gosto de touradas, recordo-me um ano em que estive vai, não vai, para ir até lá assistir às “primeiras touradas”.
Depois veio a legalização. E que aconteceu? Aos poucos e poucos as assistências foram diminuindo e penso que actualmente a festa de Barrancos está condenada a desaparecer.
São as polémicas que atraem os curiosos, mesmo aqueles que se estão nas tintas para tudo.
Nada tem a ver com as touradas, mas todos se lembram também da polémica causada pelo livro de José Saramago, “O evangelho segundo Jesus Cristo”. Falou-se tanto no assunto em todos os órgãos de comunicação social e na polémica que o livro levantou na comunidade católica, que o livro acabou por se vender às toneladas, mesmo que a grande maioria das pessoas nunca chegasse a ler uma única página. O mesmo aconteceu com os “Versículos satânicos” de Salman Rushdie.
O que é que eu quero dizer com tudo isto? Quanto maior for a polémica, maiores são os benefícios para a causa. Eu próprio noto isso com aquilo que escrevo: quando escrevo qualquer texto mais polémico, os leitores aumentam exponencialmente.
Não sei se considerar este fenómeno, um fenómeno psicológico se sociológico. Os especialistas no assunto que se pronunciem.
Vamos então aos números das touradas e à sua evolução ao longo destes últimos anos.
O número de corridas em Portugal em 2011 foi de 311, tendo diminuído o seu número para as 250 no ano seguinte. Por aquilo que sei, estão previstas este ano até 8 de Novembro, data do encerramento oficial da época, 234, com a possibilidade de muitas das que ainda faltam fazer virem a ser anuladas. Ou seja, aos poucos e poucos o desinteresse por um lado, a consciencialização das pessoas por outro, estão a fazer o seu trabalho e acabar com elas. Os números falam por si.
E a que conclusão quero eu chegar? É que todos os movimentos anti-touradas em Portugal, estão a produzir um efeito contrário ao desejado ao criarem as polémicas. Veja-se o caso de Viana de Castelo. Segundo um amigo meu que nessa cidade reside, se não tivesse havido a polémica que houve, com pancadaria e tudo, o mais certo era nem ter havido tourada pelo desinteresse que as pessoas aí têm demonstrado pela festa brava. Assim, a praça encheu-se.
Caros amigos anti qualquer coisa: quanto mais barulho fizerem, mais prejuízos causam à causa que defendem. O povo português é assim e não há nada a fazer.
Jacinto César
Ontem escrevi aqui, dando a entender que todos os meios (legais) são válidos para apoiar uma causa tão nobre e merecedora de tudo e que são os bombeiros. Graças a Deus nunca tive necessidade da sua ajuda, mas tenho a certeza que se um dia precisar, eles dirão “PRESENTES”. Seja com corrida de touros, por peditórios ou pelos meios que forem, todo o dinheiro que lhes chegar será bem gasto e em prol de todos.
Mas voltemos então ao assunto polémico e que são as touradas.
Eu pessoalmente não gosto e até acho que determinadas partes são bárbaras. Também acho que outras (penso que se diz “tércios) são em termos artísticos e estéticos bonitos. Estou por exemplo a referir-me ao tércio de capote, ao confronto entre o cavalo e o touro e às pegas. Agora também acho que tudo o que fere o animal não tem cabimento nos tempos que correm, visto causarem sofrimento. Mas para resumir, estou-me um bocado nas tintas para o assunto, já que para mim há outros bem mais importantes e graves e que a maioria das pessoas continuam a fingir que não sabem e vão assobiando para o lado como nada fosse com elas.
A mim preocupam-me as crianças!
A mim preocupam-me os idosos e os doentes!
A mim preocupam-me os desempregados!
Estas são sim, as minhas preocupações. E se a maneira de resolver estas minhas preocupações fossem as touradas, que se fizessem todos os dias muitas em todo o país, que eu mesmo sem gostar delas, lá iria.
Vejo todos os dias no FaceBook pessoas a dizerem que encontraram um cão abandonado e que precisam de lhe encontrarem um dono. Muito bem!
Vejo todos os dias no FaceBook pessoas a queixarem-se que A ou B trata mal os gatinhos láem casa. Muitobem!
E quantas vezes vimos no FaceBook alguém a dizer que conhece um casal de velhotes que passam mal e que precisam de ajuda?
E quantas vezes vimos no FaceBook alguém a dizer que conhece crianças a necessitarem ajuda e a mobilizar a comunidade em seu favor?
E quantas vezes é que vimos denúncias de filhos que tratam mal os pais, de pais que maltratam os filhos, de maridos que maltratam as mulheres e outras coisas tais?
Sempre gostei de animais, mas tê-los em casa não. Para mim são uma prisão. Mas também não os maltrato nem gosto de saber que são maltratados.
Mas por muito respeito que me mereçam esses mesmos animais, primeiro as PESSOAS.
Para os “fanáticos” anti-touradas, deixo-lhes aqui um conselho: preocupem-se também com os animais que estão encarcerados no jardim zoológico, com os passarinhos nas gaiolas, com os pombos que são abatidos por desporto em campos de tiro.
O dia que houver uma organização abrangente que proteja os animais, eu serei um activista. Mas continuo a dizer: primeiro as PESSOAS.
Um bom fim-de-semana para todos
PS – Não vale a pena chamarem-me tudo e mais alguma coisa pois a decisão de cortar os comentários no blog é definitiva, pelo menos até ao momento em que eu achar que se comportam como PESSOAS e não como ANIMAIS.
Jacinto César
A semana passada surgiu uma polémica enorme no FaceBook sobre a tourada de beneficência a favor dos Bombeiros Voluntários de Elvas. Foi uma peixeirada das antigas e com ofensas à mistura.
Antes de continuar a escrever o que tenho a dizer sobre o assunto, gostaria de deixar aqui bem clara a minha opinião sobre as corridas de touros.
Teria para aí os meus 5 ou 6 anos quando assisti em Badajoz à 1ª, e ao mesmo tempo, à última corrida de touros. Recordo-me como se fosse hoje a má figura que fiz: só batia palmas quando o toureiro era colhido. Coisas de crianças.
Não sou adepto das touradas, mas dizer que sou fundamentalista contra elas, também não. Se por um lado é uma tradição, por outro lado acho que é um espectáculo muito pouco digno. Masem frente. Ah, ainda outra coisa, queria lembrar aos fundamentalistas anti-tourada que se lembrem que quando se estão a banquetear com uma lagosta se lembre de como ela é cozinhada. O mesmo recado para aquele que gostam do petisco que é um ouriço ou os simples caracóis. A lagosta e os caracóis são cozidos vivos e o ouriço é queimado vivo. Mas continuo a não gostar de touradas.
Mas vamos então à corrida anual dos Bombeiros. Segundo informações que são públicas, a corrida rendeu trinta mil euros, dinheiro esse que bastante falta faz aos Homens que são capazes de dar a sua própria vida em prol das dos outros.
Assim sendo, proponho que todos os anos as pessoas que são anti-touradas se proponham arranjar essa verba e a entreguem aos soldados da paz. O grupo ficava satisfeito por não haver mais uma tourada e os Bombeiros ficavam satisfeitos pela verba que entrava. Seria justo. Ou não?
Aqui há umas semanas atrás montou-se uma campanha nacional no FaceBook a favor dos Bombeiros. Cada pessoa teria que dar 1 EURO num determinado dia. Segundo julgo saber a campanha em Elvas rendeu aproximadamente mil euros. Sabendo eu que muitas pessoas deram mais que o pedido euro, onde é que ficou o resto da população? Em casa comodamente. Mas se precisarem deles, nem que seja para que vos entrem pela janela porque se esqueceram da chave em casa, aí já sabem da sua existência. E aí se chegam atrasados ou as coisas não correm pelo melhor.
Caros amigos anti-touradas: faço-vos aqui o convite para que de tempos a tempos e em nome dos bois, façam um peditório a favor dos quais só nos lembramos quando estamos em apuros, assim como aquele ditado popular, que só nos lembramos de S. Bárbara quando faz trovões. Fica aqui a ideia. Ah, e não se esqueçam de não comerem os tais animaizinhos que citei anteriormente.
PS – Comentários só no FaceBook.
Jacinto César
Blogs de Elvas