Que o Sr. José Sócrates, Primeiro Ministro de Portugal, lidava mal com a crítica e até com ideias divergentes das suas, era já do domínio público, mas atitude inédita do passado dia cinco de Outubro ao comentar o discurso efectuado pelo Sr. Presidente da República num acto Público Protocolar, e o conteúdo desse comentário foi realmente de mais.
Fez o Senhor Presidente da República um discurso centrado em dois temas fundamentais para a sociedade portuguesa e para o desenvolvimento do nosso país, como são o combate à corrupção, que aliás já tinha focado no ano passado, e a educação, relativamente à qual face ao ataque deliberado que tem vindo a ser feito à classe docente, e à progressiva desresponsabilização dos país e da sociedade em geral da educação dos nossos jovens, veio chamar a atenção para o “papel e as responsabilidades próprias da sociedade civil”, para “uma cultura de autoexigência que deve ser estimulada nos pais, levando-os a envolver-se de forma mais activa e participante na qualidade do ensino, na funcionalidade e na conservação das instalações escolares, no apoio ao difícil trabalho dos professores” e para “, que a figura do professor seja prestigiada e acarinhada pela comunidade, o que requer, desde logo, a estabilidade do corpo docente.”
À saída dos Paços do Concelho o Sr. Primeiro Ministro resolveu falar para dizer o quê?
- Sobre a corrupção, nada!... A falar teria que admitir que ele e o seu partido recusaram a proposta do Eng. João Cravinho, tendo inclusivamente enviado o mesmo para um exílio dourado em Londres, e que desde o passado ano pouco ou nada se avançou.
- E sobre educação:
o Apontou estratégias para envolver a sociedade civil?... Não!...
o Corroborou a responsabilização do país na educação dos filhos?...Não!...
o Anunciou alguma medida que contrariasse, ou disse alguma coisa que desdissesse a tristemente célebre frase da sua colaboradora “perdi os professores mas ganhei os pais”?...Não!...
Então para que falou?... Para o auto-elogio do costume, cantando as maravilhas das medidas levadas a cargo pelo se governo, que ninguém mais consegue ver, e que os números vêm consistentemente negando.
Não fosse tratar-se de uma intervenção do Primeiro Ministro de Portugal, reveladora de um autismo preocupante, e cujas consequências todos vamos pagando no dia a dia, e ficaríamos com a sensação de tratar-se da conversa de alguém que ofuscado pelas novas tecnologias, está a governar um país virtual na Second Life, mas não é apenas uma tentativa patética de fugir à realidade, e teimosamente não assumir o fracasso dessas políticas, e inflectir a orientação por forma a conduzir o País real a sucessos reais.
António Venâncio
Blogs de Elvas