Elvas sempre em primeiro
Todos os comentários que cheguem sem IP não serão publicados.
Terça-feira, 21 de Agosto de 2007
Depois de ontem ter escrito sobre dois não horrores sob o meu ponto de vista, hoje gostava de escrever sobre não horrores, mas sobre atentados.
1º atentado - Sei que muita gente pensa que a 1ª Câmara de Elvas se situava onde hoje se encontra o Centro Cultural na Praça da Republica. Mas não! A 1ª Câmara de Elvas (administração) ficava situada no actual Largo do Salvador. Aí se situava também uma Igreja cujo nome não me ocorre agora (e por preguiça não vou rebuscar os meus papéis), o mercado diário e o 1º pelourinho. Sem mais nem menos. Um dia contarei aqui os desaguisados entre o “regedor” da época e o padre da referida Igreja e as “peixeiradas” com os mercadores.
Mas não é sobre isto que quero falar mas sim do edifício da Câmara que é nem mais nem menos do que aquele que se parece com um WC. Pois é, o edifício coberto de mosaicos azuis que se encontra no Largo do Salvador. Alguém alguma vez se pronunciou sobre tal horror, que para mim é um verdadeiro atentado? É simplesmente vergonhoso que alguém tenha permitido tal ou se não permitiu que não tenha obrigado a quem o fez que o desmanchasse.
2º atentado - Este atentado apesar de ser mais moderno, começa a desenhar-se há muitos anos. Onde se encontra o actual (ex) BNU, ficava situada a Igreja do Nosso Senhor dos Bens Casados. Sei que esta esteve em ruínas muitos anos. Mas em lugar de se recuperar resolveu-se deitá-la abaixo para construir o referido edifício. O problema é que atrás da Igreja veio também abaixo o Arco do Relógio (o verdadeiro) e o pano de muralha (2ª cerca) que ia da antiga Setubalense até ao horror que é o prédio chamado “mata-gatos”. Esse pano de muralha ligava a actual “Torre Fernandina”, passa pelo interior do edifício da PSP, foi interrompido com o horror da CGD, continua pelo interior da Casa da Cultura e terminava na torre seguinte que se situa no Arco da Senhora da Encarnação. Uma das portas deste troço de muralha é o Arco do Relógio ( o moderno) e a outra a que destruíram e que atrás citei.
Para completar todo este horror nasceu então (antes tivesse sofrido de IVG) o celebérrimo prédio Mata-gatos. Horror, aquilo? Qual quê, aquilo foi atentado!
Para estes dois HORRORES dois remédios.
1º remédio - para a antiga Câmara obrigar o proprietário a deitar abaixo os “enfeites” do tipo casa de banho.
2º remédio – para o prédio Mata-gatos a Câmara Municipal comprava os dois últimos andares e derrubava-os. Sei que quem lá vive deve ter umas vistas esplêndidas, mas para o bem comum …. ABAIXO!
Amanhã continuarei com os Horrores.
Jacinto César
Segunda-feira, 20 de Agosto de 2007
Já que está na moda falar-se das maravilhas e horrores de Elvas e porque o nosso colega Zé de Mello levantou a questão num inquérito no seu blog, então falemos.
Antes de falar propriamente disso gostaria de falar aqui um pouco conservação e restauro de património. Há fundamentalmente três teorias ou escolas sobre a conservação e restauro de património.
A mais curiosa de todas é a inglesa que diz que tudo, nasce, cresce e morre. E é baseado nesta teoria que surgem as célebres ruínas de castelos ingleses: se caiu mais uma pedra, onde caiu aí fica! É a morte que vem aos bocados. Há quem conteste, mas é uma corrente de opinião.
Os nossos vizinhos espanhóis utilizam outra técnica e que se baseia na substituição da peça em falta por uma igual e do mesmo material, sendo esta assinalada como sendo falsa. São os chamados pastiches cujo exemplo mais próximo é o Teatro Romano de Mérida. A maioria das colunatas não são originais. Foi por isso que o nosso IPPAR chumbou a reconstrução da Ponte da Ajuda.
Uma outra teoria é a substituição da peça ou do material dum objecto por outro material totalmente diferente. O caso mais comum é o usado em porcelanas antigas nas quais faltam pedaços e que são substituídos por uma outra matéria normalmente de cor branca ou cinzento neutro. É precisamente esta técnica que vai ser utilizada na reconstrução da referida Ponte da Ajuda. Onde faltam as pedras é colocado cimento. Ficamos assim com uma noção do que era o conjunto (neste caso a ponte completa), mas num material visivelmente diferente.
Depois desta introdução falemos então dos tão badalados horrores.
1 – Praça da Republica - Prédio do BES.
Não querendo de modo algum entrar em polémica com alguém e admitindo sem problema algum o gosto de cada, para mim é um “não horror” e por vários motivos. A mim ensinaram-me que para detectar um “horror”, poderíamos utilizar a seguinte técnica: coloquemo-nos no centro do tabuleiro da praça. Rodemos sobre nós próprios 360 graus com um movimento relativamente rápido e constante. O que é que nos chama a atenção? A Sé sem a menor dúvida. Significa isso que a nossa vista não encontrou nada de anormal a não ser a Sé! Claro está que se pode aplicar o método em qualquer lado.
Em segundo lugar gostaria de recordar que antes de o referido prédio ser construído estava lá outro prédio, de maior volumetria onde funcionava o Banco de Portugal. Esse prédio era forrado exteriormente por mosaicos rectangulares, vidrados e de cor verde garrafa. Era um edifício antigo, mas esse sim um horror. O actual prédio e para quem está situado de frente para a rua dos Sapateiros, reparará que tem igual volumetria ao que está do outro lado da rua. Inclusive se repararem até as varandas superiores são semelhantes. Quanto aos materiais utilizados, aí já nada se pode fazer pois depende exclusivamente do gosto do arquitecto que o projectou. E quem sou eu (ou nós) para o fazer. Agora que não é nenhum horror urbanístico, lá isso não é, gostemos nós ou não.
2 – Parque de estacionamento subterrâneo – Praça da Republica
Pois bem, se há algum horror neste parque de estacionamento será somente pelo seu nome, já que de resto não vejo o porquê. O que normalmente se critica são os muretes laterais da entrada e da saída dos carros e a entrada do elevador. Pois bem, asneira seria ter feito o mesmo em alvenaria e depois pintados de branco ou ocre. Isso é que era simular uma construção que nunca existiu. Lá se os vidros ou acrílicos deveriam ser como são, se deviam ser vermelhos ou verdes ou pretos às bolinhas amarelas, mais uma vez estamos a discutir o gosto de cada um. Agora sobre o ponto de vista estético e sobre o ponto de vista de uma paisagem urbana protegida está correcto o que foi feito. Há inúmeros casos em Portugal e no estrangeiro da utilização de técnicas semelhantes, mesmo em cidades que em termos patrimoniais não têm nada a ver com Elvas. Quem tiver dúvidas diga que eu apresentarei fotografias de outros casos. Ainda para quem tiver mais dúvidas fale com qualquer arquitecto cá de Elvas.
Há muitas aberrações na nossa cidade, mas estas duas não o são certamente. Amanhã se estiver bem disposto continuarei a escrever das maravilhas e horrores de Elvas.
Jacinto César
Sábado, 18 de Agosto de 2007
Há dois dias atrás quando escrevi sobre a candidatura do conjunto amuralhado e fortes de Elvas e sobre o centro histórico da nossa cidade, falhou-me a arquitectura religiosa.
É inegável que Elvas está dotada de um conjunto de edifícios religiosos que todos nós apreciamos e que são de uma beleza apreciável como é o caso da Igreja de S. Domingos e respectivo convento, a Igreja de N. Sr.ª da Assunção (antiga Sé), passando pela beleza da talha dourada da Igreja dos Terceiros e dos mosaicos do Convento de Stª Clara, à rara arquitectura da Igreja das Dominicanas entre outras. Acredito mesmo que não haverá em Portugal e proporcionalmente, cidade com maior conjunto deste tipo de arquitectura e de qualidade.
Anteriormente tinha afirmado que o Centro Histórico de Elvas jamais poderia ser candidata a Património da Humanidade, e mesmo acrescentando o que atrás disse, continuo a afirmá-lo.
Senão vejamos: que não viu já, quanto mais não seja pela televisão ou fotografias a cidade de Milão em Itália com o seu centro histórico e a sua famosíssima Catedral? Quem é que não ouviu já falar da belíssima cidade de Antuérpia e respectivo porto e fortalezas na Bélgica? E do belíssimo centro histórico de Zagreb na Croácia com a sua magnífica Catedral? E os centros de Gerona e Saragoça em Espanha? E da extraordinária cidade de Luzerna na Suíça e a sua famosa ponte coberta de madeira? E que dizer das cidades coloniais de Mérida e Valladolid no México?
Pois é, estas são algumas das cidades que conheço e que me vieram agora á memória, e que não são Património Mundial. Não acreditam, então vão verificar isso em http://whc.unesco.org/. Até parece mentira, mas é verdade. E aonde quero eu chegar com o que disse: jamais o Centro Histórico de Elvas poderia fazer parte dessa lista tão restrita e exigente (?).
Tal como disse anteriormente, já com as muralhas e fortes é diferente, pois continuo a reafirmar que são um conjunto inédito em todo o mundo. O problema é lá chegar.
Conheço algumas das pessoas ligadas ao dossier e não vou aqui discutir a sua competência. Mas como em tudo na vida é necessário ter amigos e padrinhos, e aí já tenho as minhas dúvidas. Se não houver empenhamento e vontade política do poder central, bem podem ficar sentados á espera da decisão, pois ela nunca irá chegar! É por isso que digo e continuarei a dizer que só com a união de todas as forças locais se poderá lá chegar, coisa em que tão pouco acredito, pois a clubite política o impede!
Como tal, continue a guerrilha! Assim vamos longe.
Jacinto César
Quinta-feira, 16 de Agosto de 2007
Tem sido um tema bastante discutido nestes últimos tempos em Elvas e como tal na blogosfera elvense.
As questões que se têm levantado são fundamentalmente duas: a viabilidade e o plano de acção.
Falemos da viabilidade de Elvas (conjunto amuralhado e fortes) fazer parte dessa lista restrita que é a “World cultural and natural heritage”, mais conhecida por Sítios Património da Humanidade da UNESCO. Para se ter esse privilégio é necessário entre outros atributos que o sítio tenha um valor universal indiscutível, que seja um sítio autêntico e genuíno e de um grande valor histórico (estou somente a referir-me aos sítios ditos culturais). Vamos então analisar a situação de Elvas.
Por felicidade minha conheço umas largas dezenas de sítios Património Mundial (PM daqui para a frente) em muitos lugares do mundo o que é um privilégio. Esses sítios são na sua totalidade 660 (culturais) e distribuídos por 141 países. Se há muitos que não merecem a mínima discussão dado o seu valor, outros há que são muito discutíveis, a não ser que alguma das condições (que desconheço) para se fazer parte da referida lista seja o interesse político e estratégico. Mas continuemos.
Elvas e o seu centro histórico e sendo muito franco, nunca poderiam figurar em dita lista e isso porque do tipo de centro histórico de que se trata há dezenas, para não falar em centenas espalhados por essa Europa fora. Ora estava fora de questão, mesmo para aqueles que pensam que a culpa foi das alterações produzidas ao longo dos anos no tecido urbano. Quero eu dizer com isto que a primeira tentativa que se fez aqui há uns anos atrás estava morta à nascença. Quem tiver dúvidas acerca do assunto consulte as pessoas entendidas na matéria que há aqui em Elvas. Um caso típico de que essas alterações desde que feitas com razoabilidade é Berna na Suíça, onde no centro histórico convivem de uma forma harmoniosa o antigo e o moderno, e esta cidade é PM.
Se falarmos agora no conjunto amuralhado e respectivos fortes, aí a história é outra. Pelo que conheço pessoalmente e pelo que tenho lido, este conjunto é com certeza único no mundo e como tal um valor universal. É um conjunto autêntico e de grande valor histórico e num estado de conservação bom. Perante estas premissas, não nos podem restar dúvidas que não só merecem fazer parte da lista privilegiada como já deviam constar dela há muito tempo. Posso referir sítios de menor valor (falando de fortificações) como as fortificações de Havana em Cuba, as fortificações de Carcassonne em França, as fortificações de Buda em Budapeste na Hungria entre outras. E quanto a isto estamos conversados!
Falando agora dos processos de candidatura. Relativamente á primeira tentativa já fala-mos. Deu para o torto porque houve a ambição de candidatar o que não fazia sentido. Foi um erro de avaliação. Mas quanto a isso já nada se pode fazer.
Em relação à actual candidatura só tenho uma reserva: será útil ou não concorrermos sós ou acompanhados? Eu não sei, mas vamos ter esperança que tudo corra pelo melhor para todos nos podermos orgulhar da cidade em que vivemos.
Nota final – Esta nota destina-se a todos aqueles que estão a fazer força para que a coisa corra mal e depois tirarem dividendos políticos. Porra (como dizem os alentejanos), mas será possível que nem pelo bem comum se possam esquecer da merda da política? Mas que raio de elvenses somos nós? Mas que raio de pessoas somos para desejar mal à nossa terra. Por favor tenham juízo e guardem essas guerrilhas para coisas de somenos importância. Por favor portem-se como HOMENS já que as atitudes são de crianças. (desculpem o desabafo)
Para os outros que têm colocado comentários sobre o assunto noutros blogs elvenses, mais valiam estar calados porque assim só estão a mostrar a ignorância que carregam!
PS: O sítios património cultural e natural da humanidade foram criados em Genebra numa conferência patrocinada pala UMESCO em Novembro de 1973 depois de uma ideia surgida após a 1ª Guerra Mundial com a finalidade de se proteger aquilo que era importante para a humanidade e para a sua história. Fazem parte actualmente da lista da UNESCO 851 sítios, sendo que 660 são culturais, 166 naturais e 23 mistos distribuídos por 141 países.
Jacinto César