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Sábado, 10 de Novembro de 2007

As tais pequenas diferenças

Ontem quando escrevi aqui, que por vezes as pequenas coisas marcam a diferença, lembrei-me de um episódio passado comigo no princípio da semana.

Por motivos que não interessam, estiveram de visita à Escola Secundária da nossa cidade, dois técnicos de uma instituição sediada em Lisboa. Tive a oportunidade de acompanhar o final da visita e falar um pouco mais com o mais velho dos dois. Este, depois de ter percorrido as instalações comentava comigo a diferença entre as escolas da capital e a nossa. Dizia ele que quando passou o portão de entrada, se não fosse a quantidade de rapazes e raparigas a circular, não estava numa escola. Fez rasgados elogios à conservação das instalações, à limpeza, aos espaços verdes e a tudo mais por onde passou. Fazendo uma comparação à moda dos hotéis, disse-me que de 5 estrelas não seria, mas de quatro e meio seria justo. Claro está que me senti orgulhoso pelo elogio feito à minha “primeira casa”. Conhecendo como conheço algumas escolas da capital e arredores, recordei-lhe que o segredo não está em quem faz a manutenção das instalações, mas sim na “massa” humana que a frequenta, ou seja, os ALUNOS.

Todos nós vimos e ouvimos histórias de arrepiar passadas noutras escolas do país, para já não falar do que se passa além fronteiras.

Todos nós também tivemos a oportunidade de nos sentarmos nas mesmas salas onde hoje se sentam os nossos jovens.

Todos nós também sabemos as “patifarias” que fizemos quando por lá passámos, e temos que admitir que não fomos muito melhores do que aqueles que “por lá andam” hoje. Eu confesso sem problema algum, que fiz algumas que não lembram nem ao diabo e até era bom estudante. Ora comparar a “nossa rapaziada” com o “pessoal” das grandes cidades é comparar o incomparável: os “nossos” até parecem “anjos”.

Acabada a visita, dirigindo-nos para a saída, passámos em frente das escadas que dão acesso ao exterior do edifício principal, no momento em que a rapaziada saía das aulas. Como se pode calcular saem cheios de pressa com “saudades do ar livre”. Três alunas mais apressadas acabaram por dar um encontrão no senhor que eu acompanhava.

Surpresa das surpresas para o visitante. As alunas pararam e voltando-se para ele disseram uma coisa muito simples: DESCULPE! O “homem” pasmou. Pequenas diferenças, não são?

Jacinto César

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Tasca das amoreiras às 23:54
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Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

A propósito de … Educação 4

No artigo anterior referi alguns dos elementos perturbadores do bom funcionamento do Sistema Educativo em Portugal. Analisei um a um os intervenientes no processo e as suas responsabilidades no insucesso escolar que se verifica há uns anos a esta parte.

Deixei para último lugar aqueles que considero os maiores responsáveis pelo colapso da educação no nosso país: os PAIS e a FAMÍLIA.

Contra mim falo, pois também sou pai e sei que não devo ter sido um pai e educador exemplar. Mas à frente.

Com o evento do 25 de Abril, repentinamente os valores sociais tradicionais perderam-se e até se atingir o desmembramento familiar foi um passo. A unidade básica da sociedade foi-se perdendo e desestruturou-se. Não quero com isto dizer que o regime anterior era melhor, só que talvez por culpa desse mesmo regime, que não soube ou não quis promover uma transição suave para a democracia, deu origem a uma rotura social brusca. A liberdade chegou como um raio e as pessoas não estavam preparadas para tal. Com isto não quero dizer que o 25 de Abril não era necessário, antes pelo contrário. Só que as mudanças foram muito rápidas.

Mas falemos de Educação e das mudanças para o melhor e o pior que a revolução nos trouxe.  

Até aí a família auto-controlava-se e auto-regulava-se. Havia valores que eram “sagrados” e ninguém se desviava do caminho. As crianças e os adolescentes recebiam educação em casa, eram acompanhados no seu dia-a-dia pelos mais velhos e iam para a escola receber a formação que os tornaria homens. Os pais tentavam dentro das suas possibilidades acompanhar a vida escolar dos seus filhos e saber do seu percurso. Se o insucesso se aproximava, havia sempre, ou quase sempre, medidas compensatórias para que tal não acontecesse. Havia por parte da família um interesse permanente em todas as actividades escolares ou extra-escolares. Sei, por experiencia própria, que nem sempre os meios utilizados eram os melhores, mas o que é certo é que quase sempre resultavam. A escola era um espaço de respeito. Tinha defeitos? Muitos! Tinha virtudes? Muitíssimas!    

Este sistema se tivesse evoluído progressivamente com o tempo era muito natural que não se tivesse chegado a este estado de coisas. Mas assim não aconteceu.

E agora como se processam as coisas? No actual contexto e de um modo muito geral os alunos de uma escola provêm de dois tipos de famílias: as estruturadas ou mais ou menos estruturadas, e as famílias desfeitas (cada vez mais vulgar, infelizmente).

Olhemos para as primeiras e para o seu modo de vida actual. São constituídas geralmente pelos pais e em alguns casos (poucos), algum dos avós. Ambos trabalham e como tal levam o dia fora de casa (as dificuldades da vida assim o exigem). Os filhos são “despejados” nas escolas e estas que tomem conta deles, de preferência, o dia inteiro. A escola que os eduque e os forme. A escola que os substitua a eles, pais! O contacto com os filhos acontece a maior parte das vezes somente à hora de jantar. Por pouco tempo que fosse, e até à hora de deitar sempre haveria umas horas para conversar e conviver com os filhos e saber dos seus problemas e necessidades. Só que infelizmente há sempre uma novela, umas notícias e uns futebóis a interporem-se. Não há tempo! Ponhamo-nos nós adultos no papel dos jovens. Que faríamos? Pois bem, os pais que deveriam ser o modelo, deixaram de o ser. E que modelo escolhem os jovens? Qualquer e nem sempre o melhor e depois a consequências estão à vista. Perante o insucesso escolar consumado com mais algumas “tropelias” pelo caminho, que fazem os pais? Disparam em todas as direcções. Tentam encontrar sempre um culpado para a ocorrência, mas que não os próprios. É muito difícil admitir a culpa própria e muito mais fácil apontar o dedo a terceiros.

Agora se juntarmos a tudo isto os problemas das famílias semi-estruturadas, onde os próprios pais são o pior dos problemas, como serão os filhos? Há hoje como é sabido de todos, famílias a sofrerem de problemas gravíssimos, como o alcoolismo, a droga, a violência doméstica entre outros. Que capacidade terão uns pais assim de educar os filhos? Com exemplos destes em casa, como será a personalidade de uma criança criada numa família assim? Alguém tem dúvidas do que irá acontecer, salvo raras excepções, no futuro a estes jovens? Eu não as tenho porque infelizmente lido com elas diariamente. O insucesso e o fracasso são o presente e o futuro destes jovens e daí até à delinquência vai um pequeno passo. E se perguntarmos aos pais quem são os culpados da situação? Invariavelmente será de todos e menos deles. E para mostrarem que assim é são capazes de tudo como se esse “tudo” demonstrasse algo. É preciso ir à escola e insultar-se toda a gente? Não há problemas! É preciso recorrer-se à violência? Mas aonde é que está a dúvida?

E assim se transforma a escola numa espécie de prisão, onde os que estão dentro não podem sair para fora e os de fora não podem passar para dentro. E para isso há a polícia à porta! E para isso há seguranças dentro.

Falemos agora nas famílias desestruturadas ou monoparentais. Estes casos são cada vez mais frequentes, pois hoje todos os pretextos servem para que uma família se destrua. Lembro-me com tristeza e ironicamente dito por um cómico brasileiro aquela frase que andou muito tempo nas bocas dos portugueses: “ Casa, separa, casa separa …”. E os rebentos destes casamentos? Como serão? Há muitos que conseguem superar os traumas, mas muitos outros nunca o conseguirão. A educação é feita na base do empurra agora para o pai, ora logo para a mãe num pingue-pongue interminável e por vezes o pingue-pongue é feito com familiares mais afastados quando não por terceiros. Mas estão como é? Se eu fosse filho num caso deste perguntaria: e EU? Que vai ser de mim e do meu futuro quando os meus próprios pais não querem saber de mim?

Este é o panorama actual. Este é o material humano que é trabalhado na escola diariamente. E que fazer?

Por mim e em primeiro lugar seria o governo do país a encher-se de coragem e sem pensar nos votos que perderia, apontar o dedo a quem devia.

Em segundo lugar criar obrigatoriamente uma ESCOLA DE PAIS.

Eu cá por mim ainda acrescentaria, se não podem ser bons pais, não tenham filhos, porque assim só estamos a contribuir para a infelicidade das próximas gerações.

Jacinto César


Tasca das amoreiras às 02:14
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Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007

A propósito de … Educação 3

O presente

A partir do final dos anos 80, princípios dos 90, tudo começou aparentemente a melhorar. Novas escolas começaram a proliferar por todo o país, os equipamentos e materiais didácticos foram aparecendo, os serviços modernizaram-se, os apoios aos alunos foram melhorados (serviços de transportes escolares, alimentação, apoio social, etc.) e finalmente começaram a chegar às escolas uma nova geração de professores.

Ora parecia que todos os ingredientes estavam reunidos para que os resultados finais melhorassem. E melhoraram, mas não proporcionalmente ao investimento feito. E aqui é que surge o problema. Porque é que as coisas estão como estão na educação? Pergunta difícil e com muitas respostas. Estudos atrás de estudos, reformas atrás de reformas e tudo parece andar para trás. Estranho, não é?

Mas analisemos todas as componentes do sistema educativo e seus actores.

Comecemos pela base da pirâmide que são os alunos e que teoricamente seriam os principais interessados em que tudo corresse bem, pois na escola começa o seu futuro. Vejamos então o que se passa:

1-      A grande maioria dos alunos quando sai do 1º ciclo aparece “coxa” ao 2º ciclo e por aí adiante, sendo que o agravamento é progressivo e em bola de neve. E porque é que tal acontece? Porque os responsáveis têm vergonha dos métodos “antigos” e como tal os meninos têm que aprender, brincando! Brincar, brincam, agora aprender é que não aprendem. Não se pode admitir que qualquer aluno que acabem o 1º ciclo não saiba ler e escrever, que não saiba já alguma gramática, saiba a tabuada de cor e salteado e não saiba fazer contas de olhos fechados. Mas não, é anti-pedagógico ensinar os meninos a sério e mais do que isso, é quase proibido reter (vulgo chumbar ou reprovar) um menino, mesmo que o menino nada queira fazer.

Logicamente que os problemas se vão agravado e acumulando de ciclo para ciclo e até que chegam ao ensino secundário num estado quase que irreversível. Usando um termo mais drástico, chegam em estado de “coma”.

2-      É por demais sabido que de modo algum se pode comparar os “atractivos” da sociedade presente com a do passado. Com a panóplia de brinquedos, tecnologias e diversões que estão ao seu dispor, quem quer ir para a escola? Se calhar nós os mais  velhos também não quereríamos. Os chamamentos são mais que muitos e sempre mais “simpáticos” que a escola. Mas alguma coisa tem de mudar. Falaremos nisso adiante.

Resumindo, os actores principais têm culpa, mas muito reduzida!

Passemos à segunda componente: os professores. Se no pós 25 de Abril as suas atitudes e comportamentos eram desculpáveis, dado o estado em que o país vivia, passado este período difícil as coisas teriam que mudar e não mudaram! Porquê? Muitas respostas se podem dar!

1-      O professor perdeu completamente a autoridade dentro de uma escola. Custa a admiti-lo, mas é a verdade nua e crua. O professor passou a ser não somente um FORMADOR, mas também um EDUCADOR.

2-      Socialmente o professor perdeu influência e ficou desprestigiado. Os próprios políticos e alguns “fazedores de opinião” se encarregaram dessa tarefa. Outras classes profissionais se seguiram e mais se seguirão, com a honrosa excepção dos militares e dos juízes. Está a ver-se o porque, não está?  

3-      O professor perdeu a iniciativa, ficando amarrado a normas que por vezes são inaplicáveis à massa humana que lhe é confiada.

4-      Profissionalmente o professor passou a ser como o caranguejo: passou a andar para trás.

Mas pode-se argumentar com a falta de profissionalismo da classe. Mas será que há neste ou em qualquer outro país uma classe profissional perfeita? Como em tudo na vida, há os muito bons, os bons, os assim-assim e os maus. Portanto, os actores professores também têm culpas no cartório, mas tal como os alunos, são mais vítimas que culpados.     

Analisemos a terceira componente do sistema: a escola

1-      A escola que desde sempre foi a vanguarda da sociedade, passou a andar a reboque desta. Foi completamente ultrapassada pela velocidade da evolução. Foi trucidada. Não soube ou não pôde adaptar-se à aceleração dos tempos que correm. Perdeu por completo o comboio do progresso e penso que jamais o apanhará.

2-      A escola por vezes não está desenhada em função do meio em que está inserida e como tal não cumpre a sua função.

3-      A escola tem limitações em termos de autonomia o que complica de sobremaneira o seu funcionamento.

4-      A escola é vítima de uma legislação em constante mutação. O que é verdade hoje podê-lo-á não ser amanhã. Atente-se o caso muito recente das célebres aulas de substituição. Num ano eram a solução para muitos problemas, no ano seguinte passou a ser parte do problema.  

Resumindo, a escola também tem a sua cota parte de culpas, mas também muito reduzidas.

Por último, vamos ver o que se passa no vértice da pirâmide ou seja o Ministério da Educação.

Se se pensa que por serem os últimos são os mais culpados, tal não corresponde à verdade. Este ministério é um barco gigante que navega e sempre navegou com os ventos da política. É um mal que vem de longe. Há muitos anos atrás, tanto este como todos os outros ministérios eram “governados” por profissionais do assunto a tempo inteiro. Desde o funcionário mais modesto até às chefias, incluindo os directores gerais, directores regionais, iam subindo na carreira por mérito profissional. Somente os secretários de estado e os ministros eram de escolha política. Mal ou bem o sistema ia funcionando. Presentemente até um simples chefe de serviços faz parte de uma carreira, só que política. Vem abaixo o governo e este arrasta atrás de si um sem número de carreiristas políticos, que serão substituídos por outros só que de cor partidária diferente. Mesmo que as políticas educativas fossem as mesmas ao longo dos tempos (que não são), os solavancos são constantes.

Entra um ministro, muda-se a política, fazem-se novas reformas educativas, mudam-se os programas e os conteúdos programáticos, desfazem-se leis e fazem-se novas, mudam-se as caras e os discursos e o problema persiste.

Será então que está encontrado o cerne da questão? Sim e não! O grande pecado dos sucessivos ministérios é o da falta de coragem política de apontar o dedo a quem devia apontar. Só que estes são votos e não convém hostilizar. È mais fácil sacudir a água do capote para cima de outros.

Amanhã escreverei se a paciência não me faltar o último capítulo desta triste novela que é a EDUCAÇÃO em Portugal. É dedicada às FAMÍLIAS e PAIS dos nossos jovens e futuros homens de amanhã!

Jacinto César


Tasca das amoreiras às 02:55
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Terça-feira, 25 de Setembro de 2007

A propósito de … Educação 2

O período pós 25 de Abril

Para os que se lembram deste período, fosse na condição em que fosse, devem recordar-se ainda o que foi a Educação e o Sistema educativo na altura.

Poucas serão sempre as palavras para descrever o que se passou nesses “gloriosos anos” nas escolas e universidades portuguesas. Foi aquilo que na gíria se pode dizer o “regabofe total”. Valeu tudo.

Mas recordemos: no pós 25 de Abril a Escola abriu-se a toda a sociedade, ou por outras palavras, massificou-se. Só que as condições existentes na altura eram muito carentes em todos os aspectos: as Escolas não tinham instalações, não tinham professores, não tinham meios materiais e tinham alunos de sobra. Era o caos! As salas chegavam a comportar 40 e 50 alunos: sentados nas carteiras que havia, no chão ou então de pé. Há falta de melhor construíam-se barracões provisórios que por vezes era o mesmo que estar na rua. Material pedagógico nem vê-lo. Programas existiam os antigos que foram sendo alterados e adaptados aos tempos que corriam. Como não podia de deixar de ser (a política, sempre a política) uns professores cumpriam-nos, outros não. Novos programas, novos conteúdos a cada (des)governo. Como estes eram de curta duração é bom de ver o que acontecia. Se o professor era “canhoto” os temas leccionados pendiam sempre para a análise e discussão das sociedades ditas “de democracia popular e avançada” e a palavra fascista era dita e redita um sem número de vezes. O progressismo, a reforma agrária, as ocupações e nacionalizações eram temas recorrentes. Se o professor era “destro” a conversa era exactamente a contrária, sendo que o adjectivo “comuna” era o mais utilizado.

Resultado de toda esta caldeirada foi, e não podia deixar de ser, as passagens administrativas, ou seja, passava toda a gente.

Para colmatar a falta de professores o sistema não foi de intrigas, e fez professores de toda a gente. Alunos que acabavam o 7º ano num ano, no ano seguinte estavam feitos professores de matérias que como toda a gente pode calcular, estavam “preparadíssimos”. Era uma festa para todos e um caos total.  Era o tu cá tu lá entre os professores e os alunos, a amena cavaqueira das aulas entre duas cigarradas, era eu sei cá que mais. Uma coisa era certa: toda a minha gente andava satisfeita: os professores passaram de repente a ganhar mais, os alunos estudavam menos e os pais contentes de verem os filhos passar de ano.

Depois inventou-se o serviço cívico para entreter a rapaziada mais um ano longe da universidade que passava um mau bocado devidos às mesmas circunstâncias. Finalmente lá se seguia invariavelmente a caminho de Lisboa ou de Coimbra. Por estas paragens o ambiente não era melhor. O faz que faz continuava, umas cadeiras feitas sabe-se lá como, outras compradas, outras conseguidas à custa do “cabedal” (presumo que meia palavra baste), outras até feitas pelo telefone. Era um vale tudo. De vez em quando lá se tinha que fazer mesmo a cadeira, porque o “prof” era um fascista e não dava abébias. Mas poucos professores tinham a coragem de ser exigentes, pois este era o caminho mais curto para o saneamento político. As festas eram o dia a dia. O estudar era quando Deus quisesse. E não é que não queria mesmo.

Jacinto César   


Tasca das amoreiras às 01:29
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Domingo, 23 de Setembro de 2007

A propósito de … Educação 1

Já há muito tempo que andava para escrever sobre este assunto, mas devido ao melindre tenho andado a evitá-lo, mas com o novo ano a começar sinto-me na obrigação de o fazer.

O ANTES E DEPOIS

O Antes

Qualquer pessoa da minha geração sabe que aquilo que vou contar é verdade e como tal serve o presente artigo para alertar as seguintes.

É verdade que antes do 25 de Abril somente uma pequena parte da população tinha acesso à educação, mas aqueles que podiam ir para a escola saiam com uma FORMAÇÃO diferente e para melhor. Eu falo do meu caso pessoal, que de certeza será parecido com a de muitos outros. Sou filho de pessoas modestas, mas que no entanto fizeram questão que estudasse para poder ter uma vida melhor do que aquela que eles tiveram. Em boa hora o fizeram e por tal lhes estou eternamente agradecido.

Quando fui para a escola primária em Stª Luzia, foi meu professor da 1ª à 4ª classe o saudoso Prof. Candeias. Sei hoje que poderá não ter sido um modelo em pedagogo, mas lá que aprendíamos, aprendíamos. Recordo como se fosse hoje que logo pela manhã todos nós esfregávamos as mãos para as aquecer e não doer tanto as reguadas que de certeza iríamos apanhar de seguida: um erro nas contas, uma reguada, um erro no ditado, uma reguada e por aí acima. Durante o resto do dia ainda tínhamos direito a um brinde: o nó da cana-da-índia nas nossas cabeças e a que chamavam ponteiro. O que é certo é que todos aprendíamos com maior ou menor dificuldade. Nós sabíamos escrever e ler, fazíamos as contas no papel e de cabeça, sabíamos os rios e afluentes, as estações de comboios e apeadeiros, os reis de Portugal, as mulheres, filhos e amantes. Eu sei lá que mais nós sabíamos, mas sabíamos. Recitávamos e cantávamos a tabuada como ninguém, fosse de seguida ou salteada Mas sabíamos. Saído da escola pelas 3 da tarde lá ia a caminho do segundo “suplício” do dia: a Mestra Fava. Se na escola o respeito era imposto à moda do Prof. Candeias, a Mestra Fava não se lhe ficava atrás. Todos os pretextos eram bons para que a minha cara fosse parar às mãos dela. As coisas nem sempre paravam por aqui, pois se chegássemos a casa e contássemos alguma destas peripécias, teria sem dúvida a terceira sessão: alguma tinha feito para merecer. E assim era o meu (nosso) dia-a-dia.

Chegou finalmente o dia da “libertação”: o exame da 4ª classe seguido do exame de admissão. Uns, os mais abastados, faziam-no ao Liceu, os outros à Escola Técnica. Eu pertenci a este último grupo. Finalmente longe da “tirania” da primária.

Santa inocência a minha.

Logo no primeiro dia a reunião geral de alunos no ginásio, presidida pelo seu director: Dr. Amílcar. Conselhos e mais conselhos para o bom funcionamento da escola novinha em folha. Um deles dizia respeito aos corrimões. “Jamais podereis descer a escada pelo corrimão” dizia ele de dedo apontado e eu a ver o corrimão a chamar-me também com um “dedo”. A este segundo, não resisti pouco depois! E quem estava cá em baixo à espera? O Dr. Amílcar, quem mais podia ser. Não é preciso contar o que me aconteceu. O que é certo é que sete anos se passaram e o sistema era igual ao da primária, só com uma agravante: muitos dos professores moravam perto da minha casa e escusado será dizer que a mínima que fizesse era logo do conhecimento dos meus pais. Podem imaginar o “martírio” que passei. Mas há uma coisa que sei: mais estalo, menos estalo, lá íamos aprendendo. E aprendi e aprenderam muitos. E aprendemos e aprendemos bem. A respeito da pedagogia empregue nesses tempos, podereis não estar de acordo com ela na totalidade, mas que as “coisas” funcionavam, lá isso funcionavam. Havia também um factor de extrema importância: a EDUCAÇÃO que recebíamos em casa.

Jacinto César  


Tasca das amoreiras às 01:37
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