“Segundo notícias vindas hoje a público, o Vaticano vai excomungar as 800 mil pessoas que foram à Feira de S. Mateus de Viseu. Adianta o Vaticano que há 622 anos anda a alertar as autoridades locais por estarem a comemorar o dia de S. Mateus em 9 de Agosto e não a 21 de Setembro.”
Claro que a notícia é falsa e foi inventada por mim para começar este escrito que mais uma vez aborda a questão das datas do S. Mateus.
Noticiava ontem o Jornal “O Público” que de 9 de Agosto a 12 de Setembro, quase 1 milhão de pessoas visitaram Viseu durante a feira que ali se realiza e que segundo parece é a mais antiga da Península Ibérica. Acrescentava ainda a notícia que o grosso dos visitantes foram turistas portugueses e estrangeiros e ainda os emigrantes que por esta altura de férias ali se deslocaram.
Ressalvando as devidas proporções, até porque o número de dias em que a feira decorre é 4 vezes maior que o da nossa Feira de S. Mateus, eu já me contentava, não com um quarto dos visitantes, mas tão-somente 100 mil.
E porque é que isto acontece? Porque os visienses são mais inteligentes que os elvenses. Mais uma vez vou enumerar as razões que levam a que as nossas festas cada vez tenham menos importância e que estejam condenadas a que um dia se transformem num mercado um pouco maior que ao habitual, tal como aconteceu com a Feira de Maio.
As razões que apresento para que se repense as datas das Festa em Honra do Senhor Jesus da Piedade são as seguintes:
1 – As referidas festas foram originalmente feitas no mês de Outubro e não como muita gente pensa, que foram sempre em Setembro. As razões dessa mudança foram que a data de 20 de Setembro, antigamente marcava o fim de um ano agrícola e o princípio do ano agrícola seguinte. As pessoas que moravam no campo aproveitavam esses dias de interregno nas actividades agrícolas para virem vender os seus produtos e comprar outros que lhes faziam falta. Como as festas não coincidiam com esses dias de descanso, mudou-se então a data para que houvesse essa coincidência. Como a data escolhida coincidia com o dia de S. Mateus, as festas adoptaram esse nome. Para os que têm dúvidas posso apresentar o documento que efectivamente marcava as festas no mês de Outubro. Só ainda não consegui saber com exactidão o ano em que se deu a alteração das datas.
2 – Como também é quase certo, com o 20 de Setembro entra-se no Outono e chegam as primeiras chuvas. Se pensarem um pouco, lembrem-se de quantas festas foram prejudicadas pelo factor climatérico. São mais os anos em que chove do que aqueles em que a chuva não marca presença.
3 – Um dos mais importantes factores que se deveria ter em conta para uma mudança de data é o calendário escolar. Há muitos anos atrás, as escolas começavam a funcionar no primeiro dia útil a seguir ao feriado do 5 de Outubro, ou seja, toda a rapaziada ainda estava de férias e até os pais muitas vezes deixavam uns dias de férias para essa data. E agora? No começo do S. Mateus já vamos na segunda semana de aulas e a rapaziada tem que se levantar cedo e os pais também. Por este motivo e como é do conhecimento geral, quem tem filhos a estudar tem que marcar as suas férias obrigatoriamente no mês de Agosto. O que acontece em Portugal também acontece por essa Europa fora e o número de turistas no mês de Setembro cai a pique.
4 – O fenómeno que atrás se descreve, aplica-se também para os nossos conterrâneos que vivem fora de Elvas e até no estrangeiro.
O S. Mateus é não só uma festa como o reencontro de famílias e amigos que só se vêem nestes dias. O que acontece é que aqueles que vivem fora, mas em Portugal, lá arranjam uma maneira de pelo menos no dia 20 estarem presentes na Procissão dos Pendões.
5 - Mais razões haviam, mas estas só por si já são suficientes para se pensar no assunto.
Há anos que me ando a bater para que ao menos se faça uma discussão pública no sentido de se poder adiantar no calendário as Festas da Cidade. Já estive reunido inclusive com a Mesa da Confraria do Senhor Jesus da Piedade há uns anos atrás, mas nada. Apresentaram-me as razões mais incríveis (de natureza religiosa) para que não se mexesse na data. E tudo vai ficar na mesma, mesmo que as festas entrem em coma.
Para terminar deixo aqui mais uma vez um desafio: estou disponível para um debate público com a Mesa da Confraria e com a Câmara Municipal de Elvas para discutir o assunto “ao vivo e a cores”. Mais uma vez também desafio aqui a Rádio Elvas para que promova esse debate. Se for caso disso e em último recurso dê-se a palavra ao povo e promova-se um Referendo Municipal.
Jacinto César
Blogs de Elvas