Visita do Conde de Lippe a Braga em 18 de Maio de 1764
Chega a Braga o Conde de Schaumbourg Lippe, general em chefe do Exército português.
Depois de terminada a rápida campanha derivada da guerra dos sete anos, o Conde de Lippe ficou em Portugal para organizar as forças de terra. O nosso exército ficou a ser constituído por 24 Regimentos de infantaria, 10 de cavalaria e 4 de artilharia. O mais alto posto militar passou a ser o de Tenente General. Por meio de apertados regulamentos, fortaleceu grandemente a disciplina num exército, que mal merecia esse nome, tão desamparado tinha estado pelo governo de Pombal.
Andava, dentro da sua missão de chefe a inspeccionar e organizar a desfesa das fronteiras, nas suas praças de guerra. Vinha de Chaves, quando entrou em Braga. Acompanhavam-no o Conde-Barão, o general de Traz-os-Montes e mais dois generais ingleses.
Sua Altesa o Arcebispo D. Gaspar, avisado, mandou-lhe ao caminho a sua melhor Berlinda, puxada por duas parelhas de magníficos cavalos.
A espera solene fazia-se em S. Victor.
Os regimentos de milícias e ordenanças formaram ali até à Senhora-a-Branca, dando as respectivas descargas, logo que o magnate se apeou, para cumprimentos oficiais. Organizou-se o cortejo: À frente os escrivães de secular, a cavalo, seguidos do Ouvidor e do Juiz de Fóra, em seges,, ambos levando na mão as varas da justiça. Seguia-se a Berlinda do Conde de Lippe, acompanhado pelo Conde Barão e pelo general transmontano. Depois as outras entidades. Os sinos das igrejas repicaram festivamente.
Para aposentadoria de tão nobre personagem, tinha o Arcebispo mandado adereçar convenientemente o antigo Colégio dos Jesuitas, a Santiago. Para ali se dirigiu o cortejo. Era ainda de manhã. Feito um pequeno repouso, foi ao Paço arcebispal visitar o Senhor D. Gaspar de Bragança. Sua Altesa recebeu-o, acompanhado de toda a sua vistosa e numerosa corte. Voltou ao Colégio pela uma hora, para jantar.
Pouco depois entrava Sua Altesa o Arcebispo, a retribuir a visita.
Visita protocolar, de pequena demora.
Saiu a pé, para uma vista de olhos, à cidade. Foi à Sé, onde o cabido o esperava. Admirou o côro e quiz ver o túmulo e a múmia de D. Lourenço, o prelado guerreiro de Aljubarrota. Foi ao Campo de Sant'Ana admirar os velhos cipos romanos, procurando ler algumas inscrições.
Os armeiros de Braga, pela sua fama, tinham sido mobolizados para o fabrico de armas para o exército. Lippe quiz ver de perto como trabalhavam. Visitou as oficinas de João Lopes e de António Ferreira, assistindo a forjar o cano de uma pistola. Não havia melhores artífices na Alemanha. Encantado, encomendou três pistolas, pagando-as generosamente.
Finda a visita, foi cear. Por onde passava, os sinos repicavam. À noite houve luminárias, estando preparado um Outeiro, que não se realizou, porque Sua Alteza Real o Marechal-General se sentia fatigado.
No dia seguinte de manhã foi visitar a Fábrica de Sedas, no Campo da Vinha, e despedir-se de D. Gaspar. Depois de jantar, acompanhado pela vereação, com suas varas, por todas as justiças, fidalguia e pessoas principais veio pelo Campo dos Touros à boca do Campo da Vinha, onde tomou a Berlinda, seguido pela Cónega em direcção a Monção. Em Real esperavam-no as Ordenanças para as salvas de despedida.
O Conde reinante de Lippe era uma excelente figura, muito alto, de rosto comprido de acentuado prognatismo, e grandes olhos claros. Vestia com simplicidade e sem adornos militares; casaca muito bem assertoada, calções negros e botas altas à Frederico. Não quiz pesado à cidade que visitava, e , ao chegar ao Pinheiro, mandou que o esperassem no Pico dos Regalados as duas companhias de cavalaria, que faziam a sua escolta.
Ao sair, distribuiu pelos conventos de freiras da cidade os presentes que lhe enviaram, vitelas, perús, doces e vinhos. Só o Arcebispo lhe mandara oito mulheres com grandes tabuleiros carregados!
Certamente recebeu por isso as orações e as bençãos mais fervorosas.
Artigo publicado no Diário do Minho em 19 de Maio de 1955
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