Como tinha previsto, as respostas ao meu apelo ficaram se calhar apenas pelas intenções, já que coragem para as discutir à volta de uma mesa não houve. Mas mesmo assim, eu dou a minha opinião aqui.
________________________________
O edifício do BES nasceu na Praça da Republica aquando do derrube do prédio onde estava instalado o Banco de Portugal, e que nos últimos anos era propriedade do Sr. Luís Carvalho, pai do Dr. Luís Lapa de Carvalho falecido recentemente. Era uma construção penso que dos finais do séc. XIX ou princípios do séc. XX. A sua volumetria destacava-se de qualquer outra construção da praça. O seu revestimento era em mosaicos rectangulares vidrados e de cor verde-garrafa. Destacavam-se ainda as portas do piso térreo, em ferro e da altura do próprio piso.
Tal como foi feito, era mesmo uma aberração, ao ponto dele ser a “vedeta” na praça. Tanto pelo tamanho como pelo revestimento.
Nessa época não havia as preocupações urbanísticas que há hoje e como tal é desculpável.
Quando se procedeu ao seu derrube, quem projectou o que se lhe seguiu não era tonto como muita gente pensa, antes pelo contrário. E porquê?
1 - À partida o edifício não podia ser uma cópia de qualquer outro da praça, para não se tornar numa espécie de cama estilo D. Maria feita no séc. XXI. Portanto teria que ser diferente na arquitectura de qualquer outro existente na praça.
2 – A volumetria tinha obrigatoriamente ser idêntica à dos prédios circundantes. Se qualquer pessoa se colocar no tabuleiro da praça e de frente para este, reparará que é quase uma cópia simétrica do que fica do outro lado da Rua dos Sapateiros.
3 – Os materiais de revestimento obrigatoriamente teriam que ser distintos de todos os outros, para não se confundir o antigo com o moderno.
4 – A sua arquitectura teria que ser sóbria o suficiente para não tirar o protagonismo à Sé.
Estas normas não fui eu que as inventei e qualquer arquitecto que se dedique a este problema sabe que é assim. Quanto a mim está bem feito e ponto final.
Efectivamente, a maioria das pessoas não gosta, mas também não sabe porque tinha que assim ser. Dois ou três exemplos do que está bem feito e do que foi mal feito.
1- Teatro romano de Mérida – Aquilo que a maioria das pessoas gosta tanto de ver, não passa de uma falsidade. A grande maioria das pedras que constituem as colunatas são falsas. Quem um dia ali se deslocar, basta olhar com atenção e verá uma pequena marca nos componentes que são falsos. Era uma técnica de reconstrução que se usava há muito tempo e que foi abandonada, apesar de haver muitos defensores. Conseguem imaginar o templo de Diana em Évora completamente reconstruído? Foi por este motivo que o IPPAR chumbou a reconstrução da Ponte da Ajuda proposto pelos espanhóis e muito bem chumbado. Afinal irá ser feito como deve ser: os elementos em falta que se encontrarem serão recolocados no seu local. Os que não se encontrarem serão substituídos por peças iguais mas feitas de cimento armado. Quem num futuro vir a ponte, fica com a noção da sua forma original, mas também fica a saber que só uma parte é que é verdadeira. Poderia citar um sem número de casos idênticos em toda essa Europa civilizada. Basta ir à Grécia. Eu fui e conheço como tem sido a reconstrução dos templos gregos antigos.
2- Todos nós conhecemos os edifícios do Chiado em Lisboa antes do grande incêndio. Por acaso os que foram construídos no lugar daqueles que arderam são iguais aos anteriores? Não! E será que quem planeou a reconstrução do Chiado não sabia o que estava a fazer? (excepção para o edifício do Grandela, cuja fachada principal resistiu).
Acredito que a maioria das pessoas continue a achar que o edifício do BES é uma aberração, agora que foi feito segundo todas as normas do centros históricos não restam dúvidas. Sei que se gostássemos todos de amarelo andávamos todos vestidos da mesma cor, como se costuma dizer, mas o que está bem feito, bem feito está.
Jacinto César
Blogs de Elvas