Bem, visto o assunto ser polémico, vou voltar à “carga”. Voltemos atrás no tempo até à época próxima do 25 de Abril de 1974.
Factos: com a “invasão” dos espanhóis, o comércio de Elvas cresceu desmesuradamente. Em cada canto ou vão de escadas montava-se uma “tienda” de cacos e atoalhados. O dinheiro nascia e aparecia como cogumelos. Como todo o bom português, os “novos ricos” a primeira coisa que fizeram foi comprar uma vivenda “fora dos muros”. Os que não tinham comércios trataram de fazer negócio e venderam casas e garagens por toda a cidade para mais comércios e vieram embora também. Juntamente com os comerciantes apareceu outra classe com um poder de compra elevado e que eram os despachantes de alfândega. Estes fizeram exactamente o mesmo. Dinheiro significava melhor vida e mudar de casa. Para onde? Para os novos bairros.
Consequências: ainda durante este período florescente da economia, as casas do centro histórico começaram a ser abandonadas sistematicamente e a população a deslocar-se para fora da confusão diária que era o centro. Se já era difícil andar a pé, andar de carro era quase impossível, apesar dos espanhóis se terem habituado a deixar os carros fora.
Bem, penso que até aqui não há contestação.
Como em todas as histórias, passados uns anos as coisas começaram a complicar-se.
Factos: os espanhóis com a abertura das fronteiras deixaram progressivamente de vir às compras e o comércio começou definhar. Com a abertura das fronteiras, a outra classe profissional que ia mantendo a cidade em funcionamento foi extinta.
Consequências: a primeira foi o fecho progressivo dos comércios e o seu abandono. Foram ruas inteiras que ficaram ao abandono. A crise económica instalou-se em força.
E foi neste estado que se aproximou o século XXI.
Conclusão:
1- O primeiro problema, foram os comerciantes. Não se modernizaram nem se tornaram atractivos. O comércio era “monocolor” e quando a coisa começou a correr para o torto, a crise afectou todos. Nada foi feito para alterar o rumo da situação.
2- O número de comércios e residências devolutos aumentaram exponencialmente. Estes foram pura e simplesmente abandonados. A degradação aumentou a grande ritmo.
3- Em consequência a população residente diminuiu drasticamente. A cidade tornou-se numa cidade fantasma e desoladora. Neste momento há serviços, pouco comércio (cada vez mais dominado por chineses) e a população pobre e envelhecida.
Quando no artigo anterior afirmei que a culpa era de todos os elvenses, penso que não andei muito longe da verdade, mas continuamos a atirar com as responsabilidades para outros. A facilidade com que nos vitimizamos é uma constante, mas não fazemos nada para alterar o rumo dos acontecimentos. Só tenho medo é que seja tarde o dia em que abrirmos os olhos.
Jacinto César
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