Ontem escrevi aqui sobre a futura eurocidade Badajoz/Elvas e o perigo que para mim representa a cooperação entre um gigante e um anão. E é só isso que me deixa preocupado.
Todos sabemos que a justiça portuguesa é pródiga em condenar rapidamente os fracos e os pobres e vai-se esquecendo dos poderosos. Todos nós conhecemos casos mediáticos em que pôr atrás das grades um grande é coisa difícil e a muitos deles nunca irá acontecer nada. Resumindo, tal como no caso anterior, o forte impõe sempre a sua vontade sobre os fracos.
E o que é que se passa com as relações entre Angola e Portugal? Exactamente o mesmo.
Não conheço em pormenor o caso, mas faz ideia que algumas figuras gradas da política angolana têm feito do nosso país uma plataforma de dinheiros ilícitos, onde com um simples detergente fica tudo lavado. A Procuradoria Geral da República teve a triste ideia de se meter com estes figurões e agora o caldo entornou-se. Mais uma vez a PGR se meteu num caso em que não tinha força para dominar. Chegou-se depois ao ridículo de ver um Ministro dos Negócios Estrangeiros pedir desculpas por isto. Mas a PGR voltou à carga e o caldo ainda se entornou mais. E daí a passarem-se às ameaças foi um passo. Basta ler os editoriais do Jornal de Angola (que é o mesmo que ler as opiniões do governo) para se ver até que ponto chegou o descaramento desses senhores poderosos.
Angola é um país enorme e com enormes recursos naturais. Portanto teria que ser um país rico e os seus habitantes teriam que ter um nível de vida compatível com o do país. Mas não é isso que acontece infelizmente. Temos uma casta superior que se governa à grande, que faz aquilo que bem entende e um povo a viver na miséria. O que é isto senão um estado corrupto em que as elites enriquecem de uma forma desmesurada e o povo passa necessidades?
As elites dizem que Portugal se comporta como um estado neo-colonialista. E como é que se comportam as elites angolanas perante o seu povo? Pior que os antigos colonos. Conheci Angola e sei como era antes da descolonização. Tenho amigos que lá vivem e outros que lá vão com frequência e que me contam o que lá se passa. É a vergonha.
Jacinto César
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