Já há muito tempo que gostaria de falar sobre este assunto, mas outros vão passando à frente e a oportunidade passa. Mas antes de falar no assunto gostaria de esclarecer previamente um ponto.
Desde os meus 13 anos que tenho passaporte e desde essa época nunca mais deixei de ser frequentador assíduo da vizinha cidade de Badajoz. Eu ia a festas e bailaricos, eu com o meu grupo musical íamos frequentemente lá a actuar, no verão íamos muito até às velhinhas piscinas dos Montitos e outras coisas mais que já fazem parte de um passado distante. Resumindo, aprendi a viver com os vizinhos espanhóis como se de portugueses se tratassem. Isto mesmo no tempo das ditaduras ibéricas e em momentos de mais ou menos tensão entre os dois países. Penso que os problemas políticos entre os dois países passavam sempre ao lado dos elvenses e dos pacences. Por muito que se diga que muitas vezes os países estavam virados de costas, por aqui nada disso nos incomodava. Os pacences sentiam-se em Elvas como se estivessem em casa e o inverso também era verdadeiro.
Claro que com a entrada dos dois países na UE, as coisas ainda ficaram mais facilitadas.
E tudo isto que acabei de dizer serve para quê? Para dizer que não considero os pacences espanhóis, mas uns vizinhos de sempre.
Chegados a este ponto, gostaria então de dar a minha opinião em relação à futura eurocidade. Para ser franco, eu tenho muitas dúvidas sobre as vantagens que Elvas possa daí tirar. Não por serem espanhóis, mas por Badajoz ser a irmã grande e Elvas ser a pequenina. Dizendo mais claramente, sempre duvidei de associações em que há um poderoso e um fraco.
Recordemos o que ao longo de muitos anos tem acontecido às relações entre Elvas e a “capital” Portalegre. Tudo o que dizia respeito a Elvas tinha que passar pala capital de distrito e todos sabemos que quem reparte e não fica com a melhor parte ou é parvo ou não tem arte. Apesar das cidades se equivalerem em população, Portalegre era a capital e eles é que decidiam. Lembremo-nos da última que nos fizeram há uns anos atrás. Onde é que por direito e pela lógica deveria ter ficado situada a Escola de Hotelaria? Bem vistas as coisas seriaem Elvas. Eque aconteceu?
Voltemos à eurocidade. Eu acredito seriamente que os teóricos e os impulsionadores deste futuro agrupamento tenham a melhor das intenções. O problema está além deles. Quando houver necessidade de decidir algo entre Elvas e Badajoz, quem é que vai fazer valer o seu peso? Badajoz, evidentemente. Estou muito céptico em relação a este assunto e não quero que num futuro Elvas passe a ser um bairro de Badajoz e que deixe de ter vida própria. Como disse, para mim não é um problema de relações entre duas nacionalidades diferentes, mas as eternas relações entre os grandes e os pequenos, em que estes saem sempre a perder. Queiramos ou não, as coisas sempre foram assim e nunca mudarão. A não ser que tenhamos que fazer o papel de David.
Uma boa semana para todos
Jacinto César
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