No sábado e através da Rádio Elvas ouvi o debate entre os candidatos à presidência da Câmara de Elvas. Estive como muita atenção ao que cada um disse, mas todos se referiram a um problema e como resolvê-lo: a desertificação do Centro Histórico. O problema está aí! Como combatê-lo?
Recuemos aos anos 50 do século passado, época em que o viaduto rompeu as muralhas para permitir um melhor acesso à cidade e que para esta se expandisse. Em 1958 e se bem me recordo, a minha família foi uma das primeiras a abandonar o centro para os 3 edifícios que a então Caixa de Previdência tinha construído na futura Av. António Sardinha. Ao todo foram 40 famílias. Por essa época havia “fora de portas” meia dúzia de vivendas no Bairro de Santa Luzia e umas quantas habitações no Bairro da Boa-Fé, sendo que deste último me recordo muito mal. Recordemos que então a cidade tinha sensivelmente a mesma população que tem hoje.
Como é natural, os filhos dos moradores no centro quando casavam, aspiravam uma independência que a não tinham se continuassem a viver em casa dos pais onde coexistiam 2 ou mais gerações “ao molho”. Como não haviam casas no centro começaram a pensar em emigrar para a periferia o que foi acontecendo lentamente. As casas fora do centro foram crescendo há medida das necessidades, ou seja, a expansão urbanística foi feita de uma forma sustentada.
Até aqui tudo bem.
Até que …
A partir da década de 80 e 90 aconteceu um fenómeno que deu origem ao problema actual. E qual foi esse fenómeno? As câmaras viram na expansão desenfreada da cidade uma mina de ouro. Foram urbanizações a crescerem como cogumelos, foram loteamentos de terrenos a serem feitos de uma forma selvagem e finalmente os bancos a “oferecerem” o dinheiro para a aquisição destas ao preço da “uva mijona”. A construção civil era rainha em Elvas.
Resultado final:
1 – As casas já eram mais que os habitantes (uma força de expressão) e que eram em número suficiente para albergar o dobro ou o triplo da população;
2 – A ambição desmedida dos construtores levou-os a construir mais e mais até à falência total;
3 – Os bancos que patrocinaram muitas dessas urbanizações de um momento para o outro viram-se com o menino nos braços e sem solução;
4 – Os donos dos terrenos que não se meteram no negócio mas que venderam aos construtores viram-se de um momento para outro com as mais valias dos seus terrenos com preços inflacionados;
5 - Finalmente a Câmara Municipal que fazia o licenciamento de tudo isto ia arrecadando as taxas e licenças, sendo que era a única a ganhar neste processo todo. Para ela, tanto se lhe dava que as casas fossem vendidas ou não, que os empreiteiros fossem à falência e que os bancos ficassem a perder com os negócios que tinham feito.
Resumindo, à Câmara Municipal saiu o Jackpot deste jogo em que muita gente participou.
Para finalizar deixo uma pergunta à qual não dou a resposta, ou antes, peço que cada um pense no assunto e dê a resposta: QUEM É QUE É CULPADO DA DESERTIFICAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO?
Uma boa semana para todos
Jacinto César
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