Nas últimas décadas a globalização provocou mudanças significativas na vida de todos nós. Começou, para o nosso país com a adesão à então CEE e a livre circulação de pessoas e bens. A mão de obra barata, relativamente a todos os outros países, promoveu a deslocalização de algumas empresas para Portugal, e a compra de outras por capitais dos outros países da comunidade para assim aproveitar as “boas condições de vida” dos portugueses para cá produzir alguns bens que esses mesmos países depois consumiam.
Durante esse período o País foi literalmente inundado com subsídios, que nuns casos serviram para financiar através de apoios à formação, isenções fiscais e outros benefícios as empresas que aqui se vinham instalar (veja-se o caso da AutoEuropa), noutros para fomentar a aquisição de maquinaria equipamentos e até bens de consumo, produzidos por esses países (veja-se o que se passou por exemplo com os subsídios à modernização da agricultura).
Mais tarde a Comunidade alargou-se, e deu-se a abertura aos mercados do sudoeste asiático e de imediato as políticas foram alteradas:
- O que era subsídio à produtividade e à modernização agrícola transformou-se rapidamente em subsídio à não produção, estabelecimento e redução progressiva de quotas e consequente abandono das máquinas que pouco tempo atrás haviam sido adquiridas, e aumentando a nossa dependência no tocante a produtos alimentares.
- O que era subsídio à modernização da frota pesqueira passou rapidamente a ser subsídio ao abate de barcos de pesca e limitação da quantidade e variedade de espécies a capturar nas nossas águas territoriais e mais uma vez aumentou a necessidade de importação e diminuiu a produção nacional.
- As empresas que se tinham instalado em Portugal, começara a deslocalizar a sua produção para países onde o “bem-estar” dos trabalhadores era mais tido em conta como a China, a Índia e outros países do sudoeste asiático.
- As nossas empresas adquiridas pelos capitais estrangeiros foram desmanteladas (veja-se por exemplo a Sorefame comprada pela francesa Bombardier) tornando-nos dependentes da importação dos bens por elas produzidos que agora temos que adquirir no exterior a empresas dos mesmos países e até dos mesmos grupos económicos que as tinham adquirido.
Neste momento dizem-nos que temos que ser mais competitivos, a para isso temos que nos aproximar o mais possível aos níveis de “bem-estar” dos países para onde foram deslocalizadas as empresas, trabalhando mais horas, porque o trabalho dá saúde ganhado menos, porque o dinheiro não dá felicidade a ninguém, indo menos vezes ao restaurante, porque a comida caseira é muito melhor, pagando mais pela educação, porque se não estudares não arriscas ser um licenciado no desemprego, aumentando a idade da reforma, evitando assim que sintas o aborrecimento da desocupação, encerrando os centros de saúde e os hospitais e aumentando as taxas moderadoras, porque a frequência desses sítios é doentia, se reparares bem quando lá entras à tua volta só vês doentes, portanto o melhor é manteres-te afastado.
Quando, na sequência destas medidas e de outras que se irão seguir, atingirmos os níveis de “bem-estar” dos chineses, então é certo que seremos competitivos e que a nossa economia crescerá ao mesmo nível da da China.
Mas ninguém imagine que estes cuidados com a aproximação das condições de bem-estar são só aplicáveis aos seres humanos, muito pelo contrário! Sabendo que na Índia as galinhas poedeiras dispõem de ar condicionado e casa de banho com duche quente e frio, e que na China dispõem ainda de televisão por cabo e consola de videojogos, a União Europeia, para não distorcer as regras da concorrência e aproximar as nossas galinhas poedeiras dos níveis de “bem-estar” desses países, resolveu para já retirá-las das “barracas” em que viviam e estabelecer algumas condições mínimas para uma habitação condigna, embora ainda muito longe da qualidade de vida de que usufruem nesses países.
Viva a globalização
Viva a competitividade
Viva a galinha poedeira.
António Venâncio
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