Na passada Sexta-feira, por força de uma deslocação que tive que efectuar, fui acompanhando na rádio o debate na Assembleia da República e devo confessar que a minha satisfação foi em crescendo ao ouvir as intervenções do Sr. Primeiro-Ministro. Sucessivamente fomos sabendo que no passado ano de 2010 as despesas ficaram abaixo do previsto, que a receita ficaram acima do previsto e que o crescimento era o dobro do previsto, nas palavras do próprio Sr. Primeiro-Ministro:
- São boas notícias.
Fiquei à espera que o Sr. Primeiro-Ministro anunciasse que, na sequência desses bons resultados “acima do esperado”, os reformados com reformas de miséria iriam ser aumentados, ou no mínimo que as taxas moderadoras na saúde deixariam de se aplicar a quem tivesse rendimentos digamos abaixo dos mil euros, ou ainda que o transporte de doentes em ambulância continuava a ser garantido como até final do passado ano, mas a verdade é que sofri uma decepção, nada disto aconteceu, nem uma medida de alivio da situação dos portugueses mais desfavorecidos como consequência dos “bons resultados” obtidos.
Pergunto eu Sr. Primeiro-Ministro:
- São boas notícias para quem?
Seriam realmente boas notícias se, o anúncio destes “bons resultados” viesse acompanhado do correspondente alivio no peso da austeridade sobre os mais desfavorecidos, caso contrário não passam de boas notícias virtuais.
Sei que os Senhores da Economia, me irão responder:
- São “bons resultados” macroeconómicos que nos farão ganhar credibilidade junto dos mercados, e que o aproveitamento desses resultados para aliviar a pressão sobre os mais desfavorecidos daria um sinal de fraqueza no combate ao deficit e conduziria inevitavelmente a um aumento dos juros da dívida.
Poderá ser, mas a realidade é que quase em simultâneo com o anúncio destes “bons resultados” foi emitida dívida no mercado primário a juros recorde. Pergunto eu:
- Onde estão as boas notícias?
Certamente os Senhores da Política dirão:
- Pois é mas estes “bons resultados” não tivessem sido conseguidos, teríamos aí a intervenção do Fundo de Resgate Europeu e do Fundo Monetário Internacional e portanto a”boa notícia” foi que afastámos essa hipótese.
Mas a realidade é que as pressões sobre Portugal para que solicite a intervenção externa aumentam diariamente apesar dos “bons resultados” e vêm de todos os lados, começando pela nossa vizinha Espanha e acabando no poderoso eixo Franco-Alemão. Quando em Abril o Fundo de Resgate Europeu e o Fundo Monetário Internacional intervieram na Grécia, fiquei desde logo convencido que a sua intervenção em Portugal era uma questão de tempo, nomeadamente porque tínhamos passado demasiado tempo a negar a crise em lugar de enfrentá-la. Quando foi aprovado o Orçamento Geral do Estado, longe de supor que essa seria a solução para o problema e que assim se evitaria a intervenção Fundo de Resgate Europeu e do Fundo Monetário Internacional, fiquei convencido que a mesma intervenção se estava adiada para o final do primeiro trimestre de 2011 quando fossem conhecidos os primeiros dados da execução orçamental. Erro meu! Neste momento, e comparando o que se pode ler na imprensa internacional sobre as pressões exercidas sobre Portugal e as declarações dos lideres da França e Alemanha com as que foram proferidas nos dias que antecederam a intervenção na Irlanda, muito me admiraria terminasse o mês de Janeiro sem que esteja decidida e em fase de execução a intervenção do Fundo de Resgate Europeu e do Fundo Monetário Internacional.
Pergunto eu:
Quais são as boas notícias?
Uma dúvida me assalta, se na realidade haverá “bons resultados” ou se estes são só virtuais?
É que de uma coisa estou certo, face ao que atrás fica escrito, as “boas notícias” essas sim são virtuais dignas de um Primeiro-Ministro que governa não o país real mas um país que só ele conhece quiçá na Second Life como aliás já referi aqui em Outubro de 2007.
António Venâncio
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