Nestes últimos tempos não se tem falado noutra coisa a não ser dos problemas à volta da comunidade cigana. Vão-se disparando opiniões sobre opiniões, vão-se dando palpites e vão-se empurrando as culpas para cima de todos e os restantes lavam as mãos como Pilatos.
Comecemos então pelo princípio.
Por definição “cigano” é todo aquele indivíduo que vive em comunidade nómada, ou seja, anda de terra em terra sem nunca terem um “poiso” fixo. Vivem normalmente dos “negócios”.
Da definição levanta-se de imediato uma pergunta: a comunidade cigana que vive em Elvas, são ou não são verdadeiros ciganos? Se a resposta for SIM então não têm que ter casas para viver e não devem aqui permanecer muito tempo! Se a resposta for NÃO, então terão que se integrar na restante comunidade.
Como para mim a resposta é NÃO, alguma coisa está mal desde o princípio. Eu explico-me.
Quando era pequeno e andava na Escola Primária, o que já lá vão uns anos, havia em Elvas dois tipos de ciganos: os que paravam aqui meia dúzia de dias e os que se tinham integrado na sociedade. Fazem parte desta última categoria algumas famílias tradicionais, com os filhos dos quais andei a estudar e que ainda hoje vivem na cidade. Ponhamos de parte este grupo. E os outros? Bem, aí é que reside o problema. Até determinada época tudo ia vivendo em paz (com a excepção de algum grupo que provocasse desacatos e que de imediato eram posto a circular). Depois veio então o grande erro e que foi a atribuição de casas no Bairro de S. Pedro e juntá-los todos. Qualquer pessoa que estude os fenómenos dos grupos em Psicologia sabe perfeitamente que se fez aquilo que nunca se devia ter feito. Vejamos a comparação que é lícito fazer-se entre a comunidade cigana e a “tribo” do futebol. Já estive em vários estádios do país a ver jogos do Benfica. Sempre levei uma camisola ou outro adereço do meu clube. Sempre fiquei no meio de toda a gente. E nunca ninguém me incomodou. Porquê? Porque estava integrado no meio de toda a gente. E com as claques dos clubes acontece o mesmo? Não. Toda a gente vê a vergonha que é serem conduzidos que nem um rebanho de ovelhas pela polícia. O fenómeno é o mesmo e está mais que estudado.
Como é que então o problema deveria ter sido resolvido logo no princípio? Se alguma família dessa etnia chegasse a Elvas e manifestasse a vontade de se integrar, esta deveria ir viver para uma qualquer casa na cidade e viver segundo as regras da sociedade estabelecida. Se tal tivesse acontecido, teríamos famílias de ciganos espalhadas pela cidade e a comportarem-se como pessoas perfeitamente vulgares. Mas não. Fizeram-lhe um gueto e agora não sabem como desatar o nó que deram. Pior, quanto mais mexem no assunto, mais asneiras se vão fazendo. E agora?
Para mim havia uma solução. Todos aqueles que continuassem a querer viver como “verdadeiros ciganos” em barracas, não poderiam estacionar em Elvas por mais que um determinado tempo. Os outros, seriam espalhados pela cidade (não é voz corrente que há uma quantidade enorme de casas devolutas no centro da cidade?).
No prédio onde vivo, vive uma pessoa oriunda de um país árabe há muitos anos. Há alguém que se possa queixar deste vizinho? Não! E porquê? Porque se integrou na pequena comunidade que são as pessoas que vivem no prédio.
As mentes mais perversas neste momento estarão a fazer uma pergunta: e se fosse um cigano aceitaria a situação? A pergunta quanto a mim está mal feita, pois deveria ser feita ao contrário ou seja, teríamos que perguntar ao cigano se ele estaria disposto a viver integrado nessa pequena comunidade que é o prédio. Eu por mim, seria mais um vizinho.
Quando estava na tropa havia um ditado que mostra à perfeição toda esta situação: “ 1 marujo é um militar, 2 marujos são 2 militares, 3 marujos é um monte de “merda”.
Jacinto César
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