Mais um S. Mateus termina hoje e mais uma vez temos que fazer o balanço das Festas da Cidade.
Antes de mais o que é que podemos dizer? Tudo na mesma, ou seja umas festas em declínio.
Dirão uns: a culpa foi do tempo. Dirão outros: as atracções não atraem ninguém. Dirão outros: a feira cada vez está mais incaracterística. E haverá ainda outros que se estão nas tintas para tudo.
Eu não me conformo com a ideia deste imobilismo e de ver o declínio do S. Mateus até chegar a um ponto de não retorno. É triste.
E isto porquê? Pela teimosia de quem está à frente da Confraria e do seu conservadorismo. Isso mesmo.
Ouvi com muita atenção a entrevista dada à Rádio Elvas pelo Juiz da Confraria e é confrangedor ouvi-lo dizer que a Câmara não dá um passo na sua direcção para depois confessar que a Confraria também não o dá. A Confraria está de “tanga”, mas não dá um passo para resolver a situação. Pior, recusam-se a fazer um debate público sobre o assunto. Pobres mas orgulhosos. E como é que tudo isto vai acabar? Numa morte há muito anunciada. Os elvenses não contam para nada. Agora aquela sensação de poder que os mesários têm é que é no mínimo ridícula. Sentem-se pessoas importantes e absolutas em que a opinião dos outros não conta para nada. Sem ofensa pelo paralelismo, parecem-me aquelas mulas velhas a quem se tem que por umas palas nos olhos para não poderem olhar para o lado.
Uma boa semana para todos
Jacinto César
Como se já não bastassem as más notícias sobre a economia nacional, em que fazemos austeridade e as contas teimam em piorar, agora aparece uma daquelas notícias que deixa as pessoas ainda mais preocupadas: até meados deste século (e o que é que significa meados, um ano, dez anos , cinquenta anos…) vai haver um sismo destrutivo em Portugal e mais precisamente em Lisboa.
Penso que o bom senso anda muito fugitivo. As pessoas já andam preocupadas com o dia a dia e para as martirizar ainda mais toma lá mais esta.
Já que estamos no capítulo das previsões, eu acrescento que para o ano vão morrer milhares de pessoas em Portugal, que vai morrer uma pessoa importante, vai cair um avião, os chineses vão continuar a ser mais e que vão haver conflitos no médio oriente. Catastrófico não é? Eu também sei ser Zandinga quando leio as cartas e a bola de cristal. Vá lá, mais uma previsão a nível local: Rondão Almeida vai continuar a dominar a câmara, mesmo sem ser presidente! Querem mais?
Um bom fim-de-semana para todos, apesar das previsões serem de chuva.
Jacinto César
Há por aí cada safardana que merecia uma coisa que estou a pensar mas que não posso dizer. Estou a referir-me aos membros do Conselho de Ética para as Ciências da Vida. Então não é que estas bestas propuseram ao Ministério da Saúde que gastasse menos dinheiro em medicamentos com os doentes com cancro ou HIV que têm uma esperança de vida curta? Será que estes animais reagiriam da mesma forma se tivessem alguém de família nestas condições? Ou será que como têm dinheiro para pagar os ditos medicamento do seu bolso se estão nas tintas para aqueles que o não têm? Será possível que a nossa sociedade tenha chegado a este ponto, em que as pessoas já não contam?
Eu sempre gostava de saber o que é que o Ministério vai fazer.
Perdoem-me este palavreado, mas isto é resultado da raiva de quem já passou por uma situação destas. Como é que se pode chegar tão baixo?
Jacinto César
Aqui há uns dias atrás manifestei a minha insatisfação por estarmos a ser governados por políticos sem experiência de vida e qualificações profissionais. O resultado disto tem sido aquilo a que temos assistido nestes últimos anos. Não quero de modo algum por em causa a honestidade de alguns, mas de um modo geral, estes políticos formados nos próprios partidos como governantes não valem nada. Vão andando à boleia deste ou daquele amigo, recrutados para empresas geridas pelos barões desses mesmos partidos e assim vão subindo. De assessor a Secretário de Estado, de Secretário de Estado a Ministro e depois quando sair tem a sua vida mais que organizada. Basta portanto desde muito novo pertencer às J´s, ir lambendo uma botas e ala a subir.
Ontem foi-me enviado por uma amigo o currículo do nosso Primeiro-Ministro. Só não fiquei pasmado por saber o que se passa “lá por dentro”. Gostava que olhassem bem para ele e depois tirassem as conclusões. Aqui vai.
Nome: Pedro Passos Coelho
Morada: Rua da Milharada - Massamá
Data de nascimento: 24 de Julho de 1964
Formação Académica: Licenciatura em Economia - Universidade Lusíada (concluída em 2001, com 37 anos de idade)
Percurso profissional: Até 2004, apenas actividade partidária na JSD e PSD;
A partir de 2004 (com 40 anos de idade) passou a desempenhar vários cargos em empresas do amigo e companheiro de Partido, Eng.º Ângelo Correia e de Horácio Luís Carvalho (também arguido no BPN/SLN) de quem foi diligente e dedicado 'moço-de-fretes', tais como:
(2004-2006) Administrador Financeiro da HLC Tejo,SA.
(2004-2006) Director Financeiro da Fomentinvest,SGPS,SA;
(2004-2009) Administrador Delegado da Tejo Ambiente, SA;
(2005-2007) Administrador Não Executivo da Adtech, SA;
(2005-2007) Administrador Não Executivo da Tecnidata SGPS;
(2005-2009) Presidente da Ribtejo, SA;
(2007-2009) Administrador Executivo da Fomentinvest, SGPS, SA;
(2007-2009) Presidente da HLC Tejo,SA;
(2007-2009) Administrador Executivo da Fomentinvest;
(2007-2009) Administrador Não Executivo da Ecoambiente,SA;
Este é o "magnífico" CV do homem que 'teoricamente' governa este País! Um homem que nunca soube o que era trabalhar até aos 37 anos de idade! Um homem que, mesmo sem ocupação profissional, só conseguiu terminar a Licenciatura (numa Universidade privada...) com 37 anos de idade!
Mais: um homem que, mesmo sem experiência de vida e de trabalho, conseguiu logo obter emprego como ADMINISTRADOR... em empresas de Ângelo Correia, "barão" do PSD e seu tutor e patrão político!... E que nesse universo continua a exercer funções!
O dono/patrão da HLC é Horácio Luís Carvalho, o tal fulano arguido no Procº do Aterro Sanitário da Covilhã (Cova da Beira), cujo julgamento recomeçou a semana passada, passados 19 anos do “esquema” montado na Adjudicação da Obra. Foi o célebre Eng.º António Morais (ex. Prof. de José Sócrates) que “tratou” dessa Adjudicação, sendo nessa altura o Secretário de Estado Ambiente o Eng.º Sócrates.
A única coisa que eu gostava de perguntar é se isto é currículo de um Primeiro-Ministro?
É o país que temos.
Jacinto César
Desde o anúncio aqui há uns meses atrás aquando do corte dos subsídios de férias e de Natal aos Funcionários Públicos e reformados, que sempre disse que tal medida era injusta já que abrangia só uma parte da população. Não foi necessário vir o Tribunal Constitucional vir dizer que não havia igualdade de tratamento dos cidadãos, quando toda a gente sabia isso.
Pelos vistos agora vai fazer-se justiça e o sacrifício é a dividir por todos. Já não falo dos rendimentos mais baixos, mas por que cargas de água um FP que ganhasse mais de 1500 € por mês tinha um tratamento diferente dum funcionário privado que ganhasse o mesmo? Concordo com a medida de que aqueles que mais ganham sejam mais penalizados do que aqueles que ganham pouco, o problema é que não era para todos. Pior ainda era o facto de haver excepções mesmo dentro da FP. Mas enfim, parece que se vai fazer justiça.
Uma medida que foi proposta pela Confederação do Comércio tem muita piada e que se refere ao aumento em 30% do preço do tabaco. Vamos lá ver se pensam da mesma maneira que eu. Qual é a consequência deste aumento no imediato? É diminuir o número de fumadores. Certo? Se tal acontecer, o imposto recolhido é também menor. Certo? Então o que é que se ganha com a medida? Melhorar a saúde dos que deixam de fumar e piorar a saúde (económica) de quem o vende, para já não falar no aumento do contrabando do mesmo. Resumindo, uma medida que se toma só para atirar poeira para os olhos das pessoas, já que os que têm posses continuam a fazê-lo e tiram uns dos poucos prazeres dos pobres.
Ainda a respeito disto quero lembrar que 25% de toda a actividade económica do país é uma actividade paralela o que prejudica todos os que pagam impostos. Aí sim, deveria fazer-se um grande esforço para acabar com tal cancro.
Jacinto César
De vez em quando, venho aqui desancar nos políticos, coisa que faço com um certo prazer já que não gosto da maior parte deles. As manifestações que ultimamente têm saído à rua são uma demonstração que a maior parte da população está farta deles. Acontece que no meio desta “cambada” toda lá se vai safando algum. Há uns dias atrás falei aqui de um homem que sempre me mereceu um grande respeito e que é o Prof. Adriano Moreira. Hoje gostaria de falar aqui de outro que foi sem dúvida o melhor Presidente da República que já tivemos: o General Ramalho Eanes. Sei que não era pessoa muito simpática e com um ar muito austero, sendo que estes atributos não são fundamentais para se desempenhar um cargo de tamanha responsabilidade. Foi Presidente da República numa das épocas mais difíceis que o nosso país atravessou depois do 25 de Abril. Para não me alongar muito mais sobre tal pessoa, gostaria de vos deixar aqui um episódio em que é protagonista e que demonstra que ainda há HOMENS na política.
“Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.
O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.
Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro.
O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes”
Estes gestos deveriam ser seguidos por todos, mas não. Fazem exactamente o contrário: primeiro fingem servir o país e depois servem-se dele até à exaustão.
Uma boa semana para todos
Jacinto César
Hoje é um dia diferente e como tal deixemos para trás todos os problemas que nos afligem e nos incomodam.
Hoje vamos deixar para trás as angústias e as ansiedades que nos perturbam até nos sonhos.
Hoje é dia de S. Mateus e é dia de encontros e reencontros com a família e amigos.
Hoje é dia de rumarmos até à Igreja do Senhor Jesus da Piedade, pagarmos as promessas do ano e fazer outras.
Hoje é dia de renovarmos a nossa fé e esperança Naquele que na Igreja está pregado na cruz.
Hoje é o grande dia em que muitos milhares de pessoas caminham até ao Santuário ao som daquele hino que nos arrepia a pele.
Hoje é dia de Festa.
Um bom S. Mateus para todos.
Jacinto César
É por estas e outras que o pessoal se revolta. Ontem ficou-se a saber que gestores, administradores, gerentes e outras profissões de topo só pagam 9,3% de TSU ao contrário dos 11% que paga o comum dos mortais. Pior ainda, não se prevê que esta taxa seja alterada como as outras vão ser. Argumento: “são profissões de responsabilidade”. Mas onde é que para a moralidade deste país? Então um condutor de autocarros não tem na sua mão a vida de dezenas de pessoas? E um médico não entre mãos a responsabilidade de salvar as nossas vidas? E outras profissões não têm responsabilidades muito grandes?
É esta desigualdade que produz a indignação nas pessoas. É o ver que é mais fácil tirar aos fracos do que aos fortes. Arre que isto é demais!
Jacinto César
JELCH (Parte 3)
Da porta nova até á de ferro, ou porta ferrada, havia distribuídas pelo muro, que continuava a descer, não menos de três torres, uma das quais de tão agigantadas dimensões como a da Cadeia.
De esta porta não há vestígios. Quando tratarmos da conquista de Jelch pelos portugueses veremos que ela ficava muito próxima da igreja de S. Pedro; mais tarde, quando alegarmos com um contemporâneo da guerra da aclamação, ao enumerar as que existiam no último recinto fortificado da cidade, veremos que não foi aproveitada para este recinto; porque se não menciona porta alguma entre a dos Banhos, que ficava no baluarte chamado da porta velha, e a do hospital, que ficava a S. João da Corujeira.
Deduz-se de aqui, que a porta ferrada foi privativa da segunda ordem de fortificações que estamos esmiuçando; provavelmente existiu na ladeira de S. Pedro, isto é, quase equidistante da última torre do lanço que descrevemos, e de aquela sobre que se levantou o campanário da igreja.
Resta-nos falar do último lanço de muro, que fechava por completo a povoação; mas de ele sabemos apenas, que galgava pelo doso do monte a encontrar-se com o primeiro recinto num ponto que hoje não é conhecido, entre o castelo e a porta do Malhadeiro; e com esta serventia, á maneira da porta dos Santos, ficava dentro da nova fortificação, se abriu no muro exterior a que depois se chamou porta do Hospital, quase inacessível como a da Traição e a do Templo, e próxima ao local onde se construiu a ermida de S. João da Corujeira.
Deste último lanço não há vestígios senão até pouco adiante de S. Pedro, porque uma parte está soterrada no terrapleno da actual cortina de S. Vicente, e a outra foi demolida para se construir a tríplice ordem de fogos de S. João da Corujeira, e para abrir larga comunicação com Santa Bárbara.
Como dissemos, a parte de este recinto fortificado compreendia entre S. Martinho e S. Pedro conserva-se ainda, quase no mesmo ser em que a acharam as hostes de D. Sancho o Capelo, apenas modificada em algumas torres e quadrelas, como o velho castelo, por obras executadas em tempo de D. Diniz, D. João II, e D. Manuel.
O que de todo desapareceu debaixo da casaria, que de fora se lhe foi encostando, foi a barbacã, que corria igualmente diante da mesma parte do muro, por ser mais acessível o terreno, a fim de dificultar algum tanto a aproximação do inimigo, formando um como fosse entre o muro e a barbacã.
Era de pedra e cal, e alguns restos de ela ainda estavam a descoberto em meados do século XVII.
Temos dado uma rápida ideia do que eram estas fortificações, e pela área a que ficavam circunscritas vemos que efectivamente Jelch deixara de ser uma povoação insignificante.
Ao Hadje El-Mansur, que na incapacidade do Califa Hescham, exerceu o supremo cargo do império do Andaluz, como se ele próprio fora o monarca, se devem senão todas, uma grande parte das obras de defesa que acabamos de enumerara.
Assim o declaravam duas pedras que chegavam a ser vistas por Varela, mas que o desleixo dos nossos Maiores fez desapareceu.
Uma destas pedras estava colocada na porta Nova; a outra existia em casa de um Bernardo do Amaral, que morava ao Salvador.
Os caracteres que nelas estavam gravados foram copiados por aquele famoso antiquário no seu Teatro Histórico (Cap. VII). Como é sabido, o original de esta obra desapareceu também; e duas cópias mais completas que dela ficaram limitam-se a transcrever a sua interpretação; um sumário porem menos desenvolvido, que é o que com o título de Noticias da Cidade de Elvas possui o Sr. major Mata, conservou-nos a memória dos caracteres árabes (?), que havia nas duas pedras, cremos bem que algum tanto incorrectos; mas que, assim mesmo, procurámos transladar com a Maior fidelidade para aqui, a fim de que em algum tempo possam ser conferidos com a interpretação que deles obteve já no século XVII um tal Ascenço de Sequeira de Vasconcelos, quando esteve em Elvas um mouro que parecia assaz entendido.
Antes de mais, quero aqui lamentar e prestar a minha homenagem a um Grande Senhor que tive o privilégio de ouvir cantar em Coimbra várias vezes e quase na clandestinidade e que morreu hoje: LUÍS GÓIS. Grande animador e dinamizador do fado de Coimbra deixou-nos hoje.
Ontem ouvi o Provedor de Justiça dizer uma coisa que me deixou a pensar e que acabei por concordar: fazem falta no governo homens de cabelo branco. E é verdade. Se olharmos para estes últimos anos dos governos de Portugal, a grande maioria dos seus elementos são políticos profissionais saídos das “escolas” dos seus partidos, sendo que a maior parte deles nunca teve um trabalho igual a todos os cidadãos e que lhes conferiria uma experiência diferente. São autênticos políticos de aviário fabricados pelas máquinas partidárias.
Esta tarde de conversa com um amigo concordámos que para ser um bom governante, não é necessário ser-se doutor disto ou daquilo, mas fundamentalmente ser alguém que tenha uma noção de quem vai governar e que tenha bom senso, além de qualidades para o cargo que vai desempenhar. Basta lembrarmo-nos de alguns casos de sucesso nestes últimos anos como John Major, Lula da Silva ou Lech Walesa.
O que tem acontecido por cá tem sido exactamente o contrário. De verdade têm canudo mas fazem-lhes falta os outros predicados. Penso que a actual crise é resultado disso mesmo.
Jacinto César
JELCH – (Parte 2)
Até aqui a descrição da almedina, que assim costumavam chamar os árabes á parte mais vetusta e fortificada das suas cidades.
De ela nos restam ainda: uma parte dos muros do castelo, construindo de taipa sem revestimento de cantaria, em que, se descobre entaipada uma porta ogival, a da tradição, voltada ao norte - a mesquita transformada em igreja paroquial da Alcáçova, com o campanário erguido sobre a mesma torre lavrada, e o depósito de águas coberto de umas abóbadas assentes sobre pilares de alvenaria - e finalmente quase todo o recinto torreado que a abarcava, cuja porta do nascente, hoje anónima, se chamou por muito tempo porta dos santos, de algumas imagens que nela estiveram colocadas, e a do sul, chamada do Mirandeiro, ou do malhadeiro, nos manifesta um specímen, posto que humilde, das construções árabes de aqueles séculos, monumento que entendemos dever ser conservados de preferência a quaisquer outros, que se supõem coévos de esta dominação, porque este tem uma autenticidade de irrecusável.
A povoação moderna estendia-se em diversas direcções, orlando as azinhagas que se foram tornando vielas, e em algumas partes conchegando-se em grupos de casaria, separando uns dos outros por hortas e quinchosos mais ou menos extensos; não por jardins, porque a pobreza das edificações árabes que subsistem nos estão dando a entender, que em Jelch não havia esses jardins sumptuosos, nem se erguiam essas cúpulas e minaretes em grandiosos alcáçares e mesquitas, que só campeavam nas grandes capitais.
Jelch era uma povoação pobre; a sua importância toda provinha da posição que ocupava em relação á capital, e nada mais, e foi esta posição que, no meio das discórdias irreconciliáveis dos muçulmanos, e quando inimigo mais temível, a milícia cristã, se aproximava por vezes, em tom de guerra, das comarcas refrescadas pelo Guadiana, determinaramos poderes públicos a cingir os arrabaldes de novos muros, a fim de protegê-los de uma agressão inopinada de quem quer que fosse.
Então se lhe traçaram as fortificações que desde o principio temos atribuído aos árabes, posto que Varela suponha que sejam ainda coévas dos godos.
Estas fortificações de que tratamos partiam de um ponto antigo recinto, entre a torrinha em que começam os quartéis velhos do castelo, e a porta que se chamou dos santos. E porque ficava de dentro esta porta, abriram no sitio uma outra, no muro novo, que recebeu o nome de porta do tempre ou do templo, depois da conquista.
De todo este lanço não conhecemos vestígios; mas pode ter-se por certo que se encaminhava pela rua dos quartéis coroando a encosta de vila fria até ao local em que está a casa das barcas.
Num manuscrito do falecido marechal António Joaquim da Gama Lobo vimos que, ao concertar-se a calçada da rua dos quartéis, em Abril de 1853, se acharam os alicerces de esta muralha, atravessando-a da casa das barcas para os dois quartéis que ficavam voltados a S. Paulo.
Assim devia ser, porque já Varela nos deixou informação de que a ermida de S. Martinho ficava encostada ao velho muro (Theat. Hist. Cap. XXX), e era de aqui que se passava ao extinto laboratório protécnico, onde hoje está a estação telegráfica, formando uma segunda porta que se chamou de S. Martinho depois de meados do século XV.
Desde o edifício a que nos referimos começam a aparecer distinta e quase interrpompidamente as ruínas de esta muralha, descrevendo uma curva, fortalecida de torres Maiores ou menores segundo as necessidades da defesa, e quase todas quadrangulares, até além da igreja paroquial de S. Pedro.
Entre a porta de S. Martinho e a do bispo, existiam três torrinhas, a primeira octogonal; da do bispo até á porta que saía no campo da feira (arco da praça ), que até agora não pudemos saber, que nome tivesse, achava-se uma torre grande, a da cadeia, e mais duas torrinhas. Esta porta, por certo a mais frequentada, porque dava serventia para os bazares, que mais tarde fizeram chamar feira àquele campo, e porque defrontava com uma planura extensa, que podia vantajosamente ser ocupada pelo exército que tentasse acometê-la, estava defendida por três torres, muito próximas, uma á esquerda, e duas á direita, todas três encorporadas hoje nos paços do concelho. Pouco depois a muralha principiava a descer em rápido declive até á porta nova (arco da Encarnação), que era a imediata, porque até ao tempo de el-rei D. Manuel não existiu o arco de Santa Maria.
Este lanço estava reforçado com outras duas torrinhas, além das que defendiam a porta da feira, e junto da ultima havia outra porta falsa como a do castelo.
A porta nova era uma das mais inexpugnáveis, porque sobre ela se edificara uma torre octogonal, das mais altas e robustas da praça forte, como o afirma ainda o seu estado actual.
Para dizer a verdade ando de tal maneira preocupado com a situação que nem me apetece escrever. Por mais que haja explicações por parte do governo, o que é certo é que conseguiram fazer aquilo que ninguém até hoje tinha conseguido: toda a gente está contra. É verdade! Da esquerda à direita, dos trabalhadores aos patrões, da igreja Católica às Forças Armadas, todos se manifestam contras as medidas tomadas pelo governo. E aqui temos que considerar hipóteses: ou temos um governo obstinado e teimoso ou temos um governo que não consegue explicar as medidas ao cidadão. Com que me recorde, é a primeira vez em Portugal depois do 25A que centenas de milhares de pessoas saíram às ruas sem os habituais promotores e animadores de manif’s. Foi o cidadão comum que saiu à rua estando “manipulado” única e exclusivamente pela raiva que sente de estar a ser espoliado, roubado e humilhado. É o cidadão que já não pode dar mais além daquilo que já lhe tiram. É o cidadão que está cansado dos governos que têm desgovernado o país nestas últimas décadas. É o cidadão que vê o país à beira do abismo.
Como resolver esta situação? Não sei, mas de esta forma não será certamente. Neste momento o que sei é que temos um governo de Robin dos Bosques transvertidos, ou seja, rouba aos pobres para dar aos ricos.
Sinto-me em baixo, deprimido, triste com o que vejo.
Jacinto César
JELCH (Parte 1)
Um viajante árabe do século XII, dando à estampa os seus apontamentos de viagem na Península, deixou notado que, á parte direita do caminho que conduzia de Santarém a Badajoz, ficava, a12 milhasde esta ultima cidade, uma povoação fortificada, com o nome de Jelch, posta nas faldas de um monte, cercada de uma planície semeada de habitações rurais, e de bazares ou mercados, e cujas mulheres eram muito celebradas por sua pouco vulgar formosura. ( Edrisi, Georgr. Tomo II. pag. 29, versão de Jaubert.)
Herculano inclina-se a acreditar, que esta Jelch muçulmana era a Elvas de nossos dias; é do mesmo parecer o autor de uma tradução latina de esta obra, que vimos na biblioteca nacional ( Georgr. Nubiensis. Clima IV, pars I. pag. 158 ); e pela nossa parte não podemos deixar de supor outro tanto, considerando a distancia que separava a Jelch de Badajoz, a sua situação á direita do antigo caminho romano de Santarém a Mérida, e o grau de desenvolvimento que já naquele tempo ela atingira, tornando-se povoação notável de entre as outras mais insignificantes que demoravam naquele extenso itinerário.
E falamos do seu desenvolvimento, porque com efeito a Jelch muçulmana fôra gradualmente crescendo á sombra do seu castelo, que talvez ainda os romanos haviam fundado; e nos últimos tempos, a circunstancia de avizinhar com a capital de um dos mais vastos emirados em que o Andaluz se desmembrara, como era incontestavelmente o Algharb, fizera-a ganhar certa consideração; porque ficava sendo na estrada de Santarém, e mesmo na de Évora, uma como sentinela avançada para deter a marcha ao invasor que, transpondo o Tejo, pretendesse fazer um movimento ofensivo sobre Badajoz.
Foi provavelmente reconhecendo a importância da sua posição estratégica, que os emires de Badajoz se deram pressa em completar o novo recinto fortificado, que já se estava construindo ao tempo do Kalifa Hescham, quando o legendário El-Mansur (Almansor), seu primeiro ministro, levava a guerra ao coração da Galiza, pouco lhe faltando para reduzir os cristãos, como na conquista de Espanha, apenas aos montes inóspitos das Astúrias.
Portanto, nos três séculos quase decorridos, desde a conquista árabe em 712, até á regência do celebrado El-Mansur, que alcançou os anos de976 a1002 da nossa era, Elvas alargara a sua área, para fora dos muros romanos, ao triplo do que primeiro fôra; e os poderes do Andaluz, em vista de isso, entenderam conveniente traçar novas fortificações a Jelch, que ainda assim não puderam abranger os bazares e as demais habitações de que Edrisi nos conservou a memória.
A singela narração de este viajante podemos nós acrescentar mais algumas informações baseadas no exame de monumentos que se conservam ainda de pé.
A mesquinha Elvas romana, fechada por um estreito recinto torreado de forma quase circular, campeava no alto do monte, tendo já substituído quase todas as construções romanas por outras árabes, em que sobressaíam dois edifícios principais: a mesquita, em que se proclamavam que só Deus era Deus e Mahomet o seu profeta; e o castelo ou al-Kassaba, que servia de paços do al-Kaid, e de último recurso para uma briosa guarnição por trir a defesa.
Em este recinto cujas quadrelas ligariam umas 12 torres e cubelos, abriam-se duas portas, uma voltada ao sul, outra ao poente, no castelo havia ainda contra o norte uma porta falsa, como de ordinário todos eles tinham, ás quais depois da conquista cristã chamaram da Traição, porque serviam principalmente para os cercados saltearem os inimigos em arrojadas sortidas, ou para recolherem os socorros que de fora lhe chegavam escondidamente (Pinheiro Chagas - Hist. de Port. II.18.)
Do castelo não temos outras noticias particulares; temo-las sim da mesquita, que, segundo Varela, era de arquitectura quadrada, de quatro naves, sobre colunas de cantaria, (algumas colocadas inadvertidamente com os capiteis para baixo), tendo a um dos lados um abundante deposito de água, e a outro uma torre lavrada toscamente, de cujo terraço os cacizes ou muezins chamavam os muçulmanos á oração. (Varela - Theatr. Hist. VII ).
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