(S. Mateus - Capa do programa de 1962)
Amanhã entramos em Setembro, o que quer dizer que o S. Mateus 2012 está aí à porta. No entanto gostava muito que alguém me respondesse a uma pergunta muito simples: S. Mateus 2012 ou S. Mateus 2000, ou S. Mateus 1980? Não, não precisam de responder, já que são todos iguais. Aquilo que deveriam ser as Festas da Cidade modernizadas, continuam a ser as velhas festas de sempre. Sempre iguais umas às outras, sempre as mesmas coisas. A única razão da sua existência é a fé renovada das pessoas ao participarem na Procissão dos Pendões. Quanto ao resto sempre o mesmo e com tendência para piorar. Recordar-se-ão os mais velhos da Feira de Maio e a sua grandeza. E hoje? Há aí mercados bem maiores do que a feira. Infelizmente e sem querer ser profeta da desgraça, o S. Mateus tem o mesmo destino. E o dia que chegarmos a esse estado, ninguém foi responsável pelo desastre. Mas para mim há-os. Foram as últimas Mesas da Confraria e a actual os responsáveis.
Já escrevi mil vezes sobre o assunto, já pedi que se fizesse em debate público sobre o assunto. Nada! Silêncio total.
Já passaram 12 anos desde que o século XXI começou, mas o S. Mateus resiste heroicamente à passagem dos anos. Até quando?
Jacinto César
VESTIGIOS DA DOMINAÇÃO ROMANA (Continuação)
Pudemos obter uma copia da inscrição gravada na pedra que existe no casal da herdade de Domingos das Candeias Pires, próxima á aldeia de Santa Eulália. Devemo-la ao Sr. padre Domingos António do Carmo, que foi durante alguns anos pároco daquela freguesia, e a obteve agora por uma pessoa da localidade.
É ainda uma lápida sepulcral do tempo dos romanos. Não podia vir mais a propósito que na ocasião de tratarmos das cousas daquela grande nação, a que juntaremos agora mais algumas noticias que se nos iam escapando, e ficariam deslocadas noutro qualquer capitulo.
A lápida foi dedicada a Marco Clodio Juliano, de 21 anos de idade, por seus pais Tito Clodio Modesto e Blesidiena Marcella. Tem á esquerda, um preferículo, e á direita uma pátera, conforme explica o Sr. Paz Furtado.
Heis a legenda:
D. M. S.
M. CLODVIS. IVLI
H. S. E. S. T. T. L.
TITVS. CLODIVS.
M O D E S T VS. ET.
BLESIDIENA. MAR
CELLA.P.ET.MFILIO.
Agora as outras noticias particulares dos romanos:
A circunstancia de ter Quinto Sertorio elevado Ébora a capital da Lusitânia, quando sonhava estabelecer uma republica independente na Espanha Ulterior, e a do imperador Augusto haver transferido essas honras e prerrogativas á cidade de Emérita, quando procedeu a uma nova circunscrição administrativa, estreitaram mais que nunca os vínculos entre a cidade que decaia, e a cidade que se elevava, e necessariamente daí proveio a abertura de novos caminhos comunicando-os entre si.
Isto equivalia a ligar Emérita ao oeste e ao sul do moderno Portugal, porque de Ébora partia uma estrada para Olísipo, ou Felícitas Julia, a oeste, e outra para Pax Julia, a sul avançando dali para o moderno Algarve por dois diferentes caminhos, o de Myrtilis e o de Rarapia.
A partir de Ébora para Emérita, conforme as memorais que nos legou o imperador António no seu Itinerário, havia uma estrada, ou via
militar, cujo traçado não tem sido possível até hoje determinar precisamente, quer reportando-nos ás distancias, quer aos nomes das suas diferentes estações intermédias.
A primeira estação nomeada era no rio Adro, a 9 milhas, a segunda em Dipo, 12 milhasadiante; e a terceira em Evandriana, a 17 milhasde Dipo, e a 9 aquém de Emérita. Mas a distancia total de 47 milhasestá mui longe da que realmente separa as duas cidades; e como no decurso não entrava a via fluvial, apenas se pode admitir a exactidão do Itinerário se ele se referia ás milhas construídas dum caminho, que não estava ultimado ao tempo.
Esta parte do caminho devia ser entre Ébora e o rio Adro, ou Anas, e o ponto de passagem em Pax Augusta(Badajoz), único que distava de Emérita o numero de milhas designadas no Itinerário.
Cremos também, que, estando Elvas situada no caminho mais curto que ligava Ébora a Pax Augusta, seria uma das estações intermédias desta estrada militar quando concluída.
Estas suposições já antes de nós fez também Tiago Menezes de Vasconcelos (Scholia in 4 libros Resendi, junto ás Antiq. Lusit. pag. 363), e outros autores, que chegaram mesmo a viciar o Itinerário, com o propósito de fazer corresponder as distancias. (Silveira- Mappa Breve da Lusit. antiga. pag. 111.)
Reforça-as a opinião do sábio Hubner, que «os antigos lugares a que se referem varias inscrições descobertas em Montemor o Novo, em Arraiolos e Estremoz, assim como em Elvas e Badajoz, eram situados provavelmente sobre uma estrada, que é indispensável supor, não obstante o Itinerário não a mencionar, a fim de ligar pelo caminho mais curto, por um lado Ébora e Olisipo, por outro Ébora e Emérita» (Soromenho- Not. Archeol. de Port. pag 21.)
E quase nos tira todas as duvidas o aparecimento de dois marcos miliários nas proximidades de Barbacena para a parte de Estremoz, e doutros dois em Elvas, de que Rezende teve conhecimento, e nos conservou a memória.
Um destes marcos, muito mutilado, deixava apenas inteligíveis as primeiras palavras, das quais se depreendia ser do tempo de Severo (193 a211 da era vulgar):
IMP.CAES. DIV
RI. PII. FIL.
O outro, quase completo indicava distintamente ter sido levantado no tempo de Marco Aurélio António (Heliogabalo) imperador e César, filho de António, o Pio e o Grande, e neto de Septimio Severo, o Pio. A Marco Aurélio se juntam neste monumento os títulos de Pio, Feliz, Augusto, Pontífice máximo, com os poderes de tribuno, por segunda vez cônsul e procônsul, Pai da pátria, Fortíssimo e Fidelíssimo príncipe (218 a222 da mesma era)
IMP. CAES. DIVI. ANTININI. PII.
MAGNI. FIL. DIVI. SEPTIMIL. SE
VERI. PII. NEPOTI. M- AVRELIO.
ANTONINO. P. FEL. AVG. PONT.
MAX. TRIB. POT. II. COS. II.
PROC. P. P. FORTISSIMO. FELI
CISSIMOQVE. PRINCIPI. .RA
M. P. XXII
Este marco miliário contava de Evo ali só22 milhas; esta distancia porém não corresponde á verdadeira, porque talvez a pedra estaria quebrada ou gasta naquele sitio, mostrando XXII onde estivera XXXXII.
Quanto aos marcos que estavam em Elvas, para onde uma pessoa considerada da terra os fez conduzir dum caminho público, e os conservava em sua casa já no tempo de Rezende tinham tão sumidas as letras, que apenas podiam ler-se duas ou três em cada regra.(Rezende- Antiq. Lusit. 1790. pag 219)
Não se sabe o que foi feito destes artigos monumentos. Provavelmente foram aproveitados para alizares de portas e janelas, e hoje, se não for aquele precioso livro de Rezende, não teríamos ocasião de juntar á resenha dos monumentos romanos esta memória que demonstra até á saciedade, que Elvas ficava sobre a estrada militar, que os romanos construíram para facilitar as marchas dos seus exércitos, na travessia directa da Península, desde as gargantas dos Pyreneos até á embocadura do Tejo.
(Continua)
Muito se fala em Portugal sobre o facto de haver portugueses de primeira, de segunda e por aí fora, assim como que à moda das castas indianas. Acredito que há imensas desigualdades no nosso país. Mas quando damos um pulo em frente e verificamos o que se passa na Europa, esta, trata os países de forma desigual.
Olhe-se para a pressão, chantagem e até ameaças que se têm feito aos gregos. Estes têm sido alvo de atitudes por parte da Europa que eu jamais pensei que se pudessem fazer. Em relação a Portugal e à Irlanda, e como meninos bem comportados (mansos) que somos, essas atitudes da Europa não são visíveis em público, mas acredito que em privado o são.
E o tratamento que se dá à Itália e à Espanha é o mesmo que se dá aos outros? Pois, são demasiado grandes para se poderem meterem com eles e têm medo da reacção dos respectivos povos. Sempre se há-de arranjar uma solução para estes dois países sem chegar ao humilhante resgate, nem que para isso o BCE que se mantém de “cofre” fechado “ há meses, tenha que abrir os cordões à bolsa.
Mas para que é que estou eu aqui a gastar o meu latim se sempre assim foi e sempre assim há-de ser, sempre há-de haver “Les Uns et les Autres” como dizia o Claude Lelouch.
Jacinto César
VESTIGIOS DA DOMINAÇÃO ROMANA – 3 (Continuação)
Já é tempo de deixa a lúgubre dos sepulcros para entrar em assumpto mais atraente.
Vamos falar dalguns monumentos que se atribuem aos romanos, sem contudo, pela nossa parte, nos abalançarmos a emitir opinião, porque a nossa ignorância na história da arte nos aconselha a maior reserva.
Estes monumentos, dizem, pele imperfeição com que foram trabalhados, devem referir-se ao período de decadência das belas artes no baixo-império; parece-nos contudo, que não haveria dúvida em conceder-lhe maior antiguidade; porque, como é notório, embora nas grandes cidades o crescente aperfeiçoamento das artes chegue a tocar o apogeu, nas terras secundarias, executados os trabalhos por mercenários inábeis, tem ela uma infância tão prolongada, que chegaria a confundir-se com a idade caduca, se lhe fosse dado envelhecer.
Começaremos pois a resenhar estes monumentos, sem mais preâmbulos, deixando a uma pena autorizada o encargo de apurar precisamente o período a que eles pertencem.
As colunas que sustentam a abóbada da igreja d' Alcáçova, escreve Varela (Theath. Hist. ibidem ), que eram de fabrica romana, porque o costume de lavrar colunas com capiteis e bases foi especial daquele povo; querendo talvez dizer, que outro tanto não acontecia ás fabricadas pelos árabes.
Sendo assim, parece que deviam os árabes, como os nossos Maiores as aproveitaram para a igreja cristã, tê-las apropriado para mesquita sua, dalgum templo pagão dos romanos.
O mesmo autor se inclina a crer, que esse templo seria erigido a Serapis, porque na dedicação transcrita acima, feita por Anthymo Reburino, houve quem interpretasse as três letras SER como abreviatura daquela divindade (Rezende, ibidem) opinião contrariada pelo sábio Hubner, que afirma não se declarar o nome do deus a que se faz a dedicação (Soromenho- Not. Archeol. citadas).
O segundo monumento nos apontou o já nomeado D. Luís Vermell quando esteve em Elvas, dizendo que lhe parecia ser de origem romana.
É uma torre do recinto que fecha a Elvas primitiva, e está incorporada na casa que foi dos Mesquitas Pigmenteis, hoje do Sr. Francisco de Paula Santa Clara.
Era fácil descobri-la ainda ha quatro anos quem fosse ao adro das freiras dominicanas, antes de transpor o arco, que dá serventia para a Alcáçova. Hoje está coberta duma camada de reboco que os pedreiros tiveram o mau gosto de lhe estender , ao reparar a casa em1876. Acantaria de que é fabricada está sobreposta em ordens de pedra faceadas, unidas tão estreitamente, que chegámos a duvidar se as liga a argamassa, ou não.
A respeito do vão desta torre, que supomos também sofreu modificação, e que formava uma casa abobadada, com uma cruz de laçaria embelezando-lhe a abobada, como se vê no arco da praça, disse-nos o Sr. José Afonso da Palma, inquilino que foi do prédio em cujas dependências ela está, que pelos anos de 1854 ou 1855, num artigo do Rei e Ordem, ou da Lei, comunicado pelo brigadeiro José Maria Baldy, ao tempo governador da praça, se fazia uma referencia á casa em questão, como tendo sido alcácer do kaid ou governador mouro da fortaleza.
Não nos veio á mão esse escrito, e sentimos nada mais poder acrescentar.
Além destes dois monumentos ha ainda um terceiro, que oferece mais probabilidades de ter sido lavrado em tempo dos romanos, e por escopro hábil e experimentado.
É um medalhão de mármore, em baixo relevo, representando o deus Endovéllico dos celtas ( talvez o Amor dos romanos ). Foi achado quando, reduzindo-se ao estado actual as fornicações, se escavou a parte do fosso compreendida entre a igreja de S. João de Deus e o revelim da porta falsa da Cisterna, numa das faces do qual está encravada, por cima da casa dos utensílios do jardineiro do passeio.
Representa uma criança de belas formas, alada, repousando sobre uma pele de leão, cuja parte da cabeça se descobre por cima do rosto da criança. A posição da figura é a de quem dorme, ou a de quem dominado por uma melancolia profunda; tem a tiracolo uma fitinha prendendo-lhe o carcaz, e numa das mãos um facho acesso e duas cápsulas de dormideiras.
Não ha outros monumentos supostos dos romanos em Elvas, nem nas cercanias; mas os que ficam registados neste capitulo, cremos que são suficientes para demonstrar, que a povoação já existia no seu tempo, testemunha muda dessas lutas vigorosas, que um Viriato, e um Sertório, moveram á orgulhosa Roma, eem que Césare um Pompeu se disputaram o poder no calor das guerras civis que deixaram o solo de Espanha empapado de sangue.
Nota - Sabemos que ultimamente foi comunicado á câmara pelo Sr. Joaquim José Antunes Namorado, prior de Santa Eulália, que no casal duma herdade próxima àquela aldeia, de que é proprietário o Sr. Domingos das Candeias Pires, existe uma pedra com caracteres, que revelam a sua existência em tempos anteriores á fundação da monarquia. Como nos não tenha vindo á mão uma copia da legenda, nem o tempo convide a uma digressão até lá, não podemos por em quanto dar os pormenores que desejávamos, nem referir o monumento a uma certa e determinada época. Reservamos esses esclarecimentos para um artigo especial, logo que, ou por informação que nos seja comunicada, ou por testemunho dos próprios olhos, o possamos fazer com segurança. (Continua)
Por uma questão simplesmente de curiosidade vou acompanhando diariamente a evolução dos preços do petróleo bruto e do câmbio do dólar e verifico o seguinte:
- Mantendo-se o dólar estável, a gasolina sobe e desce ao ritmo do preço do petróleo. Só que o que acontece é que se numa semana o crude sobe uma determinada percentagem e na seguinte desce o mesmo valor, a gasolina acompanha a subida, mas não a descida no mesmo valor. Para onde vai a diferença?
- Mantendo-se o preço do crude estável, mas variando o preço do dólar, acontece rigorosamente o mesmo que no caso anterior. Para onde vai a diferença?
Sabendo-se que o ISP é estável, que os comerciantes ganham o mesmo, então só há uma explicação: são as petrolíferas a encaixarem as diferenças.
Nestes últimos dias o novo presidente francês teve que tomar medidas contra as petrolíferas de modo a travar a escalada do preço dos combustíveis por estarem a afectarem toda uma economia. Aplaudo a medida!
E em Portugal como é? Mansos como sempre.
Sei que são os comerciantes de Elvas é que perdem, mas vou continuar a abastecerem Badajoz. Queme perdoem, mas mesmo sendo um fraco consumidor, pesa na carteira a diferença.
Jacinto César
VESTIGIOS DA DOMINAÇÃO ROMANA – 2
Passando agora a tratar de monumentos escritos, temos ainda em Varela memória duma lápida sepulcral, em que o amor dum marido extremoso, Caio Pomponio Maximuno, fez gravar o nome da idolatrada esposa, Julia Amonéa, que a morte lhe arrebatara do tálamo apenas com 23 anos de idade. ( Varela, ibidem)
Era esta a legenda, que nela havia:
IVLIA. AMONEA. ANNO.
XXIII. H. S. S. T. T. L.
G. POMPONIVS. MAXIMY.
NVS. MARITVS. CONIVGI.
CHARISSIMAE. F. C.
Acrescenta Varela, que esta pedra estava na ermida da Graça, servindo para se encostar á porta. Hoje não se sabe dela.
Também nos transmitiu Rezende ( De Antiq. Lusit. 1790. tom. I. 279 ) os epitáfios gravados em duas lápidas, que o descuido dos nossos Maiores fez igualmente desaparecer, talvez para sempre.
Uma delas pertencia ao jazigo que um nobre, que servia na 20ª legião, por nome de Caio Axonio, filho de Quinto, e natural de Fermo, cidade do distrito de Pisa, mandara erigir para si, e para seu irmão Quinto Axonio:
C. AXONIVS. Q. F. PAP.
LEG. XX. NAT. COL.
FIR. PICENO. SE. VIVO.
MONIMENT. FEC. SIBI.
ET. FR. Q. AX. Q. F.
Esta foi achada numa das principais casas da cidade, e é da opinião o sábio Hubner, que data do tempo de Augusto, porque a legião não tinha ainda cognome ( Soromenho. Not. archeol. de Port. pelo Dr. Emílio Hubner. pag. 21. )
A outra, que esteve por muito tempo encravada na antiga porta dos Santos (arco da Alcáçova), e o estava ainda em meados do séc. XVII, deixava apenas perceber, que pertencera ao jazigo de um tal Felix Severo filho de Capalão.
FEL. CAPALONIS
F. SEVERVS. AN.
Também nos conta este antiquário, que junto ao convento das dominicanas se encontrara outra lápida, de cuja inscrição se depreende, que Anthymo Reburrino dedicara aquele monumento, em cumprimento de voto, a uma divindade, cujo nome não mencionou:
ANTHYMVS. REB.
SCIENTINI. ET. CE
LERIS. SER
V. S. A. L.
Até aqui as memórias transmitidas pelos antigos. Nos últimos anos algumas descobertas se tem feito ainda de lápidas sepulcrais.
No quintal das casas que foram do Dr. João Pedro de Aquino Figueiredo e Souza, na rua de S. Lourenço, com serventia para a de Lopo da Ponte, achámos o epitáfio do jazigo, que ao septuagenário Caio Julio Gallo, de Merida, veterano da 7ª legião ( Gemina Felix ), erigiu sua mulher, outrora sua liberta, Julia Prima:
G . IVLIO . GALLO .
EMERITE SI . VETERANO.
LEG. VII. G. F. STIPENDIS.
EMERITIS. ANN. LXX.
H.S. E.S.T.T.L, IVLIA.PRIMA.
LIB. ET. CONIVX. PATRONO.
BENEMERI D. P. S. F.
Esta pedra servia de cobertura a um cano de águas; ignora-se donde fora extraída, e como para ali levada. Hoje está na secção de arqueologia junta á biblioteca municipal, mas quebrada em quatro pedaços por inabilidade do pedreiro a quem foi incumbido o trabalho de arrancá-la.
Neste presente ano se descobriram outras lápidas: uma, que já também foi adquirida para a secção, de cujas poucas letras inteligíveis se depreende ter marcado o sepulcro de Márcia Tusca, de 20 anos, filha de Quinto, e duma outra pessoa de 30 anos de idade, cujo nome está ininteligível:
MARCIA. Q. F. TVSCA.
ANN. XX.
GERM TVSC
ANN. XXX. L
L. N O
MTI SC
e a outra, que supomos virá dentro em pouco reunir-se ás precedentes, que cobria os débeis restos duma criança de 9 anos, Comínia Ávita, a quem seus angustiados pais, Marco Cominio Clemente, e Víbia Avita erigiram aquele singelo monumento, pedindo aos transeuntes, que dissessem ao passar: «A terra te seja leve»
COMINIA. M. F. AVITA.
ANNOR. VIII.
H. S. E. T. R. P. D. S. T. T. L.
M. COMINIVS. CLEMENS.
VIBIA. M. F. AVITA.
FILIAE. FACIENDVM. CVRAR.
No claro que forma o meio da segunda linha estão esculpidos dois passarinhos voltados para uma folha de era, alusão aos brinquedos de criança, e á amizade mutua que ligava os pais e a filha.
A primeira destas duas lápidas estava metida numa parede derribada da casa que está construindo o Dr., António Fausto Namorado, na rua de Olivença, com serventia para a rua dos Chilões; a segunda foi achada com outras mais há, quatro ou cinco anos, por uns homens que lavraram na herdade do Falcato, aquém do casal, e se conserva embebida na parede do mesmo, graças aos cuidados do Sr. Silveira Falcato, proprietário da herdade, que ali a mandou colocar.
Da primeira e ultima lápida nomeadas em ultimo lugar, fez o Sr. tabelião Paz Furtado comunicação aos Srs. Eduardo Allen, director da secção arqueológica junta á biblioteca do Porto, e ao Dr. Emílio Hubner, de Berlim, os quais, com pequenas correcções, aceitaram a interpretação, que o Sr. Furtado lhes dera; quanto á segunda vai ser enviado um calco a Berlim, sobre o qual se espera que o sábio Hubner emita a sua opinião autorizada. (Continua)
Hoje falando com amigos, o tema não poderia ser outro a não ser a Troika, e pelo andar da conversa pareceu-me que tínhamos mais ou menos a mesma opinião, apesar de ideologicamente até estarmos distantes.
Pela parte que me diz respeito, não gosto deste governo nem “com molho de tomate”. Acontece que tenho que admitir que estão a pôr em prática as medidas impostas pela Troika, ou seja, se a coisa está a descambar, a culpa não é do governo que se limitou a por em prática as medidas “impostas” e pelos vistos bem. Assim sendo, como é? Quem é que é responsável pela situação a que chegamos? O governo ou o “outro governo exterior”? Acho que as medidas impostas pelos “estrangeiros” estão a dar o resultado que todos vemos. Como na próxima inspecção vão verificar que o governo cumpriu, sempre quero ver que desculpas é que vão dar, ou que medidas vão tomar. Ontem ouvi alguém importante dizer que o mais certo é a Troika dizer que estamos a cumprir e depois lá para o ano quando se acertarem as contas e o défice for maior, vão fingir que não viram nada e terão que de uma forma menos ortodoxa dilatar o prazo para o cumprimento do malfadado défice.
Cá estamos para ver.
Jacinto César
VESTIGIOS DA DOMINAÇÃO ROMANA
A dominação romana, estabelecendo-se na Península 206 anos antes de Cristo, extinguiu-se, ao cabo de seis séculos, diante da irrupção dos bárbaros do norte, quando se instalaram nela pelos anos 409 da era vulgar.
Posto que vão decorridos quinze séculos desde que os romanos passaram a ser em Espanha um povo estrangeiro, alguns monumentos do seu tempo chegaram até nós, para evidenciar a sua presença em Elvas; e outros, de que se ignora o paradeiro, ficaram-nos memorados pelos antiquários.
As descobertas mais frequentes tem sido de sepulturas, dispersas nos terrenos maninhos, ou de profundar os cultivados.
Na entrada deste século deparou o caso três destas sepulturas, quando Ezequiel do Espírito-Santo da Costa Teixeira mandava escavar um terreno da bacelo no sitio da Alpedreira.
Eram as três em tudo semelhantes; media cada uma dois metros de comprimento, por60 centímetrosde largura média, e 65 de profundidade. Seis lajes fechavam estes fúnebres depósitos, uma no leito, outra no tampo, e quatro nos lados; estavam revestidas exteriormente duma obra de alvenaria, para Maior resguardo ainda.
De um destes monumentos tiraram-se alguns objectos, que havia depositado neles a piedade, ou a superstição dos parentes dos finados; do lado da cabeceira um frasco de óleo, que se partiu, uma taça da vidro, com os sinais vazados das extremidades de cinco dedos, e um cachimbo de peças de madeira assaz pesadas, e bem torneadas; do lado dos pés uma lâmpada, e um como perfumador de barro cosido. Dentro de cada monumento repousava um esqueleto de estatura mais agigantada, que o comum. (Vereação de 12 de Maio de 1803.)
Também nalgumas memórias avulsas achámos, que pelos mesmos sítios se descobriram, poucos tempos depois, outras sepulturas, formadas de tijolos, e telhões, de dimensões Maiores que as de uso hodierno, e de pedras de cantaria, ligadas por cadeias de ferro tão deterioradas, que, ao removê-las, se desfizeram.
Ainda noutros lugares foram pelos mesmos tempos achadas outras sepulturas romanas.
Na linde que divide a herdade de Mor Alves da de Fangueiros, junto da margem do Caiola, descobriu-se uma, formada de lajes com a espessura de três centímetros.
Em vários sítios por onde serpeia o ribeiro de Gil Navalha se tem achado outras, de diferente construção, e até parece, que ruínas de edifícios. Designadamente na horta da Oliveira descobriram uns trabalhadores o esqueleto duma criança, metido numa caixa de chumbo, e tudo envolto em grosso maçasse de pedra e cal. Na horta do Macedo, e margem do ribeiro, encontraram outros em 1825 uma sepultura tosca, formada de grandes tijolos soltos, manifestamente aproveitados dalgumas demolições; a camada que lhe servia de leito assentava sobre a terra, sem ligação de argamassa; da cabeça até meio corpo os tijolos laterais estavam aprumados, e servindo de base á camada superior; do meio para os pés estavam dispostos do mesmo modo que as crianças começam os castelos de cartas.
Tanto destes, como dos tijolos referidos antes, não declaram as memorais que temos á vista se tinham ou não estampada a marca, em sentido diagonal, que nos poderia dar a conhecer o nome do imperador romano, que ocupava o trono, ao tempo da sua fábrica, como dá a entender o padre Rademaker, que era costuma fazer-se. ( Rademaker- Mem. Hist. sobre umas lápidas romanas descobertas na cidade de Leon; manuscrito ).
Nem acrescentam mais pormenores as memorais avulsas que possuímos; mas encontramos em Varela ( Theat. Hist. cap. IV ); que na quinta do Zambujeiro, que é dos Vasconcelos, próxima á aldeia de S. Vicente, se descobriu nos princípios do século XVII outro jazigo, contendo um esqueleto de grande estatura, que ao tocar-se, se desfazia em pó, tendo a cada um dos lados um objecto de barro vidrado, cinerários talvez, e cingindo uma espada, que necessariamente devia estar assaz carcomida pela acção da humidade. (Continua)
O Agosto continua e a pasmaceira também. Nada se passa na nossa terra e no país também, a não ser o estarmos todos à espera da sentença da Troika. Parecemos um povo atordoado à espera da sentença de um julgamento. Eu sinto-me na mesma. Para atenuar um pouco a pasmaceira tivemos o Benfica a dar uma mão cheia de golos aos sadinos e foi tudo.
Bem, à falta de assunto, lá vai mais um capítulo dos escritos de Vitorino d’Almada.
Uma boa semana para todos.
A FUNDAÇÃO D'ELVAS
Do muito que se tem escrito a respeito dos primeiros povos que se fixaram na Península, apenas se supõe verdadeiro, que esta região foi povoada por duas migrações sucessivas da Ásia, que mais tarde se denominaram iberos e célicos.
Depois, uns aventureiros gregos, descobrindo a costa do país, colonizaram algumas terras do litoral; e os fenícios, ou cartagineses, tão aventureiros como eles, fizeram outro tanto, por seu turno, chegando a ocupar a melhor a melhor parte de Espanha, primeiro como aliados, depois como conquistadores.
O domínio cartaginês firmou-se definitivamente na Península, três séculos antes de Cristo e foi Amílcar, pai do grande Aníbal, quem subjugou os celtas das margens do Guadiana (Herculano Hist. de Port. introd. I pag.18).
Se Elvas, durante este longo lapso de tempo, deixara de ser um simples monte para receber o nome de povoação, e agora abria as suas portas ao conquistador não o deixou escrito o romano Plínio, nem o grego Strabão.
A acreditar André de Rezende, Elvas devia ter sido fundação dos helvios originários da Galia Narbonense ( Rezende- De Antiq. Lusit. 1790. tom I. pag. 25 e 279 ); e a aceitar as afirmações de Fr. Bernardo de Brito, antes da ocupação de Amílcar, o cartaginês Mahárbal, explorando o país interior, adoecera em Elvas, e fizera voto de erigir um santuário ao deus Endovéllico se escapasse da enfermidade ( Brito - Mon. Lusit. part. 1.ª pag.180 ).
Mas Brito, que deturpou o seu trabalho, inventado onde não achou memorais, não tem para nós autoridade, principalmente quando narra um sucesso, como este, sem uma referencia a escritor antigo que tivesse afirmado outro tanto, e Rezende, com quanto dos nossos antiquários o melhor conceituado, porque baseou a sua obra nos escritos de historiadores e geógrafos antigos, e no descobrimento de lousas e cipos autênticos, nos pontos em que historiadores e geógrafos lhe faltaram, arriscou, como qualquer outro mortal, umas indecisas suposições, baseadas apenas na semelhança de vocábulos; assim os helvios deviam ter fundado Elvas, os eburões Évora, etc.
Não nos parece aceitável que, sendo Elvas tão antiga, se conservasse povoação insignificante, como se conservou, até ao desmembramento de califado de Córdova. O que se nos afigura mais verosímil é, que os celtas das cercanias, até então comerciando em paz com os estrangeiros, não tendo pensado nunca em fortificar-se, ameaçados agora pelas hostes africanas, tratariam de associar-se na resistência, acolhendo-se ao vizinho monte, e estabelecendo na sua cumeada uma rude fortaleza para receber o invasor em tom de guerra.
Assim concilia-se melhor a insignificância da Elvas árabe com a Maior certeza da sua existência; e admite-se, que a fortificação se conservasse grosseira e provisória até á entrada das primeiras legiões romanas de ocupação com o pretor Marco Helvio, a quem é mais provável dever-se o nome que recebeu a povoação nascente.
Esta probabilidade, já recebida por alguns autores ( Bluteau, citado por José Avelino, Annaes, pasta. III, nota 361.- Varela, Theatr. Hist. cap. II ) é também a que nos parece mais razoável, e diremos em que nos estribamos para julga-lo assim.
É sabido, que as duas republicas Roma e Cartágo, olhando-se por muito tempo com emulação, não puderam deixar, num momento dado, de romper cruamente as hostilidades.
Nesta luta de gigantes, os lusitanos, mais que nenhum outro povo peninsular, fizeram causa comum com os cartagineses, foram verter o seu sangue no Trasimeno e em Cannas, colhendo com Aníbal os louros da vitória; e mais tarde quando Scípião o moço, na declinação da glória cartaginesa, submeteu a Península, e atravessou o estreito de Hércules (Gibraltar) para ferir no coração a sua orgulhosa rival, os lusitanos, dizíamos, acompanharam dedicadamente os aliados até á batalha de Zama, onde se perdeu a flor desta nação belicosa, deixando a pátria á mercê dos novos dominadores, sem elementos alguns de força e de vida.
Prova esta asserção a neutralidade da Lusitânia nas revoltas que desde logo se atearam na Bética e na Tarraconense contra a dominação romana.
Estas revoltas tinham tomado um grande incremento dez anos depois da anexação da Península; dois chefes poderosas da Betica tinham arrastado á rebelião grande numero da cidades ( Tito Livio- lib. 32º XXVIII. 33º XXI ) e nestas criticas circunstâncias, os cônsules enviaram á Península os dois pretores, a que os comícios populares haviam entregado o governo das novas províncias de Espanha Citerior, e Ulterior.
Um dos pretores, Marco Helvio, entrando na posse da administração da província Ulterior, no ano 197 antes de Cristo, conseguiu a custo pacificar a Betica, já demasiadamente agitada, e avançando naturalmente sobre a Lusitânia, encontrou a paz tão apetecida, e um povo amogo, que o aclamava na sua passagem.
É a esta ocasião que nós referimos uma provável digressão do pretor ás povoações celtas das margens do Guadiana. Aproveitando a tranquilidade do país, curaria de reformar alguns castelos, dos que os cartagineses fundaram ao modo dos gregos, e as toscas fortificações de Elvas, que, passando a ter foros de povoação acastelada, enjeitaria qualquer nome, que já tivesse, para adoptar o do pretor Marco Helvio, como passados tempos, outras povoações tomaram os nomes de Julia, e de Augusta, em honra dos césares que as encheram de benefícios.
Pode muito bem não ter acontecido assim. Hoje ninguém irá, á face de documentos afirmai-lo, nem nega-lo; apresentar mais ou menos probabilidades, sim. Contudo, o que não oferece duvida é a existência de Elvas durante a dominação romana, provada por muitos monumentos, que se tem nela descoberto e dos quais trataremos no seguinte capítulo.
Nota - No ultimo numero do excelente semanário El Recreo, que se publica em Olivença, enviou-nos o seu proprietário, e nosso prezado amigo, D. Marcelliano Ortiz Lopez, a propósito deste nosso trabalho, umas palavras tão benévolas, e tão animadoras, que nos penhoram sobremaneira.
Agradecemo-las do fundo da alma, e tanto mais reconhecidamente, quanto mais persuadidos estávamos, de que os dez anos que vão decorridos desde que nos não correspondemos lhe teriam apagado a memória o nosso humilde nome, e do coração a amizade que entretínhamos.
Ainda bem que nos enganávamos; pedimo-lhe portanto mil perdões, e que nos não prive em nenhum tempo da sua amizade, que muito prezamos, e muito nos honra.
Jacinto César
Ontem apareceu nos jornais uma notícia muito engraçada: com a excepção do IRS e do IUC que aumentaram, todos os outros diminuíram. Assim o défice não baixa. Estou farto de dizer que nada entendo de economia, no entanto gostaria de fazer um pequeno exercício teórico. Os entendidos do assunto que me digam se estou certo ou errado.
“Ganhava de vencimento 100 e pagava de IRS 10. O que me sobrava era destinado à minhas despesas mensais. De um momento para o outro, o IRS passou a ser 20 e já só me sobravam 80. É indiscutível que aumentando os impostos directos a toda a gente, a receita de IRS aumenta. Penso que não estou enganado.
Aquilo que normalmente consumia com 90, passeia a consumir só com 80. E como resolvi o assunto?
1- Deixei de andar tanto de carro – Logo consumi menos gasolina, paguei menos ISP e as petrolíferas pagaram menos IVA e IRC.
2- Nos supermercados passei a consumir menos ou a comprar marcas brancas – Logo paguei menos IVA e as empresas de distribuição menos IRC.
3- De vez em quando almoçava ou jantava fora – Deixei de o fazer, logo as receitas dos restaurantes diminuíram, fizeram menos compras e o IVA que deveria melhorar o desempenho, diminuiu e o IRC também por arrasto.
4- Dava-me jeito comprar mais uma camisa e umas calças, mas dada a situação as que tenho ainda aguentam. – Logo consumi menos, o IVA e o IRC vieram por aí abaixo.
Poderia levar o resto do dia a dar um sem número de exemplos, mas acho que com estes já expliquei o meu raciocínio.
Como o défice teima em não baixar, à que aumentar novamente o IRS e diminuir os vencimentos. E volta tudo ao mesmo, ou seja, é uma bola de neve a desfazer-se.
Que ninguém me pergunte como é que se resolve a situação, mas a opinião do Prémio Nobel da Economia é que se deve fazer uma “fuga em frente” com fizeram os EE.UU.
Não sei que dizer, mas estou confuso.
Um bom fim-de-semana para todos
APONTAMENTOS PARA A CRÓNICA DA CIDADE DE ELVAS
(continuação)
Além do que fica apontado, que é no que reside, por assim dizer, todo o interesse da historia de Elvas, devemos a diversos outros cavalheiros mais alguns apontamentos inéditos, ou o empréstimo das crónicas impressas, para conferencia, e complemento das noticias que já possuíamos.
É ocasião azada para deixarmos consignados os nossos agradecimentos a uns e a outros, pelos obséquios que nos dispensaram, e pela confiança que lhes merecemos, e a que cremos ter correspondido cabalmente.
Pela exploração que fizemos de todos os papeis sobreditos, denunciou-se-nos a incúria repreensível de algumas das pessoas a quem estava incumbida a guarda dos documentos que se prendiam á historia de Elvas.
Fr. Francisco Brandão, propondo-se averiguar os pormenores duma digressão de D. Diais ao Alentejo, embaraçado com a falta de guia, escreve que «faltam os primeiros cadernos da chancelaria deste rei no seu primeiro livro, e Damião de Goes deixou advertido nele, que eram as escrituras todas de Elvas e seus moradores ( Mon. Lusit. XVI 27.)
Quando isto ocorria na Torre do Tombo, não admira, que outro tanto acontecesse nos outros arquivos.
Em 1625, estando o cartório municipal em péssimas condições de resguardo, entrou nele, em certo dia, o escrivão da câmara, e achou-o alagado das aguas do temporal (Ver. de 30 dez.) Ficaram inutilizados muitos livros, e Deus sabe quantos desapareceram com tal desculpa.
O Teatro Histórico de Varela, reputava-se perdido, e não havia rasto que pudesse encaminhar á sua descoberta.
As memorais genealógicas de João do Quintal do Lobo, noticia circunstanciada das famílias ilustres da terra, haviam tido a mesma sorte do Teatro Histórico.
Finalmente nas nossas descensões políticas, entre realistas e constitucionais, quantos papeis valiosos a titulo de papeis velhos, foram servir de invólucros de cartuchame! E quantos dos arquivos do forte da Graça foram queimados no baluarte do casarão por um vândalo, que se chamou Calixto José de Oliveira!
Apesar destas contrariedades, ha ainda material bastante que aproveitar para construir uma crónica da cidade de Elvas quem, apreciando a terra pelos seus relevantes serviços á independência portuguesa, quiser dar-se a esse trabalho. Nós não nos comprometemos a isso. Tem-nos cansado muito copiar quanto nos tem vindo á mão, conferir depois uns com outros papeis, folhear as crónicas impressas (quantas vezes para achar dez linhas apenas a respeito de Elvas ), e, o que é mais, gastar a vista, já meio apagada, no exame de documentos manuscritos de quase cinco séculos de existência; porque o pouco de valor que ha no cartório da câmara já foi também explorado por nós.
Com que canseira porém!
No arquivo da câmara ha dez livros de cartas regias, alvarás, e provisões chamados Livros de Propinas, pela Maior parte encadernados em grande desordem, tanto a respeito da natureza dos assumptos, como da sua sucessão cronológica.
Foi preciso perder um tempo precioso em elaborar um extracto, em oitavo de papel, e coloca-los depois em ordem cronológica para podermos seguir os acontecimentos e os personagens contemporâneos.
Estes documentos lançam muita luz na historia de Elvas, e, se exceptuarmos os pergaminhos, alguns dos quais alcançam o XVI século, são os mais importantes de todo o arquivo.
Foi de antemão convencidos disso, que nos aventurámos a tão custoso trabalho, tendo de estar algumas vezes meia hora, e muito mais, diante dum documento reconhecidamente importante, mas quase ilegível, ou porque a inundação de 1625 desbotara as letras, ou porque a caligrafia do século XVI fora executada muito á pressa, ou porque o encadernador levara adiante da plaina as margens, e parte do texto, ou finalmente por todas estas circunstâncias reunidas.
Em dois compridos documentos, realmente interessantes, como são as cartas de el-rei D. Manuel, comunicando aos municípios os sucessos do Oriente (Propr. II. 29 e 38 .), nós teríamos desanimado diante das dificuldades na leitura daqueles hieróglifos, se não fora a poderosa colaboração de António Pires, actual escrivão da câmara, nosso antigo condiscípulo e amigo, e tão interessado nas coisas da terra como nós mesmos.
Como os livros de Próprias estão de Vereações, e parte dos poucos pergaminhos que no cartório existem ainda ... por milagre; e o trabalho que temos tido em decifrá-los; não tem sido mais suave que o outro.
Toda esta canseira, porem, damos por bem empregada, quando pensamos, que nos habilitou a apresentar aos nossos conterrâneos estes apontamentos, que hão de servir de guia a quem se propuser a escrever a crónica sobredita.
Antes de concluirmos esta conversa preambular, daremos uma boa noticia aos amigos destas velharias. O Teatro Histórico de Varela não esta perdido.
Por muito tempo assim o acreditámos com os autores das memórias manuscritas; mas, quando mal o pensávamos, achámos o fio que nos deu a conhecer, que, se o original se perdera como efeito, restavam duas copias daquele trabalho importante, uma das quais já estivera em nossa mão. Foi num volume manuscrito que existe hoje em poder do Sr. António Teixeira Felix da Costa, obra do académico Estêvão da Gama de Moura de Azevedo, governador que foi de Campo Maior durante o sitio de 1712, e que ele escreveu em 1723.
Diz ele, referindo-se á dita obra, que «se não imprimiu, e se acha fielmente trasladada por Afonso da Gama Palha, fidalgo muito verdadeiro, e bem instruído na lição dos livros e famílias, e sogro de D. João de Aguilar Mexia, morador naquela cidade, em cujo poder se acha, como também na livraria de Estevão da Gama de Moura de Azevedo, governador de Campo Maior».
Ora no próprio volume em que vem esta noticia, esta encadernada a copia a que alude Estevão da Gama, escrita por sua própria mão; quanto á copia de Afonso da Gama Palha, está no volume manuscrito, a que já nos referimos, que nos emprestou o professor Manuel Justino Pires, tendo de mais apenas algumas breves referencias ao ano em que dito Palha a estava escrevendo.
Estas duas copias, confrontadas parágrafo por parágrafo com o extracto que esta em poder do Sr. major Mata, tiram todas as duvidas, que se poderiam levantar, sobre a autenticidade do escrito.
Cremos também ter descoberto parte do Nobiliário de João do Quintal Lobo, intercalado noutro, que pertenceu á casa de Simão de Sousa, de que a Maior parte dos volumes existem hoje do Sr. Joaquim José de Almeida, ignorando-se o que foi feito dos restantes.
Depois destas explicações, que entendemos indispensáveis para dar noticia dos elementos de que dispomos para a coordenação deste trabalho, nada mais nos resta senão reiterar os protestos de gratidão aos cavalheiros sobreditos; agradecer ainda a António Pires, porque nos tem franqueado de boa vontade o cartório a seu cargo, e coadjuvado na leitura dalguns documentos, e por ultimo pedir desculpa aos que nos lerem, se, percorrendo este trabalho, entenderem, que ele não corresponde á sua expectativa.
Jacinto César
Ando há uns poucos de dias sem vontade alguma de escrever seja o que for e os assuntos também não abundam para poder “dizer mal”.
Assim sendo resolvi, com assunto ou sem assunto, começar a publicar os escritos de Vitorino d’Almada sobre a história de Elvas e não só, que tive a paciência de compilar há uns anos atrás. Irei tentar publicar um todos os dias, no português original. O tamanho da letra terá que forçosamente diminuir, já que alguns só muito grandes, ou então dividirei cada escrito em duas ou três partes. Ora aqui vai o primeiro.
APONTAMENTOS PARA A CRÓNICA DA CIDADE DE ELVAS
INTRODUÇÃO
Sabe-se pouco da história de Elvas geralmente. O povo, que devia transmitir as tradições de seus Maiores ás gerações que lhe sucediam, descuidado no oficio das armas, ou ocupado na cultura dos campos, não curou de fazê-lo, legando apenas, por excepção, aos nossos contemporâneos, uma remota ideia da entrada dos cristãos na Elvas árabe, duma das empresas de Gil Fernandes, e do cerco de 1658.
Nós que escrevemos estas linhas desejamos saber mais alguma coisa, que o pouco que se conservara na memória do povo; mas por muito tempo ignorámos a que porta ir bater, que se nos franqueasse sem hesitações.
Estávamos de posse, é certo, duma resenha publicada na Revista Militar, ano 1853, de alguns artigos comunicados pelo falecido professor Manuel Justino Pires, á Estreia Literária, de Coimbra, e dum folheto saído da oficina do Transtagano, historiando os sucessos de 1641.
Isto estava longe de satisfazermos. As velhas crónicas não apareciam no mercado, e ainda quando aparecessem, custariam bom dinheiro; os manuscritos estavam velados como um mistério, em mãos de pessoas, que os estimavam demais para empresta-los a um qualquer, que podia trata-los com menos cuidado, que o que eles mereciam.
E os nossos desejos recresciam com a idade.
Quis então o acaso, que nos encontrasse-mos, no primeiro quartel de 1871, com o velho Francisco de Paula Oliveira, noviço que foi no convento de S. Paulo, e conhecido agora na cidade por frei Catimbarro, um dos homens, que temos conhecido, mais amigo de coleccionar apontamentos sobre as antiguidades de nossa pátria comum, e menos cioso de empresta-los a quem lhos pede com interesse; franqueza esta, que tem ocasionado sumirem-se-lhe alguns, provavelmente para nunca mais lhe serem restituídos.
Anuindo ao nosso pedido, franqueou-nos a pouco e pouco tudo o que tinha, que quase era tudo o que existia de mais interessante sobre o assumpto.
Foi desde então, que começámos a ter noticias seguras e desenvolvidas da antiga e moderna Elvas, porque Francisco de Paula teve desde rapaz a paciência de copiar todas as memórias que lhe chegaram á mão.
É certo, que naqueles manuscritos se embrulham uns com outros séculos, e aparecem em desalinho uns com outros acontecimentos; porque o coleccionador aproveitou por fim os claros das noticias para apontar outras, á falta de papel, e de dinheiro para o comprar; não podemos contudo negar, que este trabalho material nos foi de grande proveito; porquanto, á falta das crónicas, e dos demais livros e documentos originais, ele nos apresentava a copia, ou o extracto, aguçando-nos cada vez mais o gosto de procurar completa-lo com Maior desenvolvimento.
Por este tempo, munidos duma grande cópia de esclarecimentos, começámos a entreter algumas correspondências noticiosas para o Diário Ilustrado, mais com intento de fazer conhecida a historia de Elvas, que vangloriado pelo titulo de colaborador de um jornal daquele importância.
Estas correspondências abriram-nos de par em par os arquivos dos coleccionadores, e assim devemos ao Sr. major Silva Mata, além de alguns outros papéis avulsos, um extracto do Teatro Histórico, que escreveu o cónego Aires Varela, e os Anais de Elvas, metodicamente coligidos por seu pai, de que uma parte saiu na Voz do Alentejo, e a mais interessante ficou inédita; ao falecimento do professor Manuel Justino Pires um livro manuscrito de Afonso da Gama Palha, contendo o dito Teatro Histórico de Varela, e uma memória dos sucessos de guerra da Liga; ao Sr. Miguel Augusto César de Vasconcelos dois volumes escritos por João Eliseu Viegas, vereador e muitos anos escrivão da Câmara; e ao Sr. Caetano José Lobo de Vasconcelos outros dois livros da mesma proveniência: nos quase quatro se transcreviam alguns dos mais curiosos documentos do cartório municipal; a Maior parte porem do seu conteúdo já havia sido copiada deles por Francisco de Paula, e portanto existia em nossa mão.
(continua)
Nota - Se acharem que não interessa, digam.
Jacinto César
Sempre achei e tal como o povo diz, “no meio é que está a virtude”, e tem sido quase sempre assim que tenho pautado o meu pensamento. Isto vem a propósito do que escrevi aqui nos últimos dias.
Desde que os países adoptaram modelos económicos, sempre se defrontaram duas grandes correntes de pensamento: o socialismo de estado e o capitalismo. Umas vezes a dominarem mais uns, outras a dominarem mais os outros. No pós-guerra surgiu uma terceira via: a Alemanha com a Social-democracia e a Itália com a Democracia Cristã. E vendo bem as coisas, até concordava com estes sistemas. O estado entregava toda a economia ao sector privado, reservando-se para si os sectores estratégicos da economia e todo o sistema social. As regras eram aquelas e toda a gente sabia com as linhas com que se cozia. E hoje o que é que se passa? As ideologias políticas foram mandadas às urtigas e passou-se ao salve-se quem poder e sem regras. O resultado está à vista. O resultado é aquele que todos nós sentimos no dia a dia. A corrupção alastra de uma maneira incontrolável, o compadrio e as amizades valem mais que a competência e a luta pelo poder é cada vez mais selvagem.
Isto faz-me lembrar dos anos 60 quando a luta das feministas estava no seu auge. Havia um machismo predominante que não queria abrir mão do seu poder. Depois vieram as lutas pela igualdade dos sexos (o que concordo), e depois veio o abuso por parte de alguns sectores da sociedade. E porque não o RESPEITO uns pelos outros sem extremismos? Porque é que temos que andar sempre no 8 ou no 80?
Voltando à economia, penso que estamos a passar por uma época de liberalismo económico selvagem. O capital é rei e senhor. Quem tem dinheiro safa-se. Os outros, os pobres e desfavorecidos, que se lixem. Há no entanto um fenómeno muito peculiar: quando as coisas estão a correr bem, o estado que se lixe, mas quando as coisas se põem feias todos clamam pelo guarda-chuva do estado.
No meio disto tudo encontra-se o povo que trabalha. Confuso, desconfiado de tudo e de todos, aldrabado e explorado por todos. É o bombo da festa.
Atente-se a dois exemplos muito recentes.
1 – Uma empresa de construção civil bem cotada na praça, administrada por ex-ministros e secretários de estado. Sempre se arvoraram como das maiores empresas privadas do país. Pois, mas sempre a chupar na teta do estado. Agora que o estado está falido, ai que desgraça e os empregados que vão para a rua. São privados, mas pouco.
2 – Já hoje li nos jornais que o Centro de Saúde (?) de Cascais vai ser gerido por estrangeiros. Mas aonde é que nós vamos parar?
Resumindo, hoje o que há é uma enorme falta de respeito pelo cidadão, sejam lá os serviços públicos ou privados. Haja bom senso.
Jacinto César
Houve aqui um comentador que se manifestou contra a municipalização de um parque de campismo em Elvas, sendo que é a favor de um campismo privado. Entretanto o colega Cidad'Elvas, escreveu sobre o mesmo assunto acrescentando o caso do Parque de Campismo de Campo Maior que é privado e tem clientes. Pois é, mas o caro comentador está a esquecer-se de “um pequeno” pormenor. Eu explico-me.
Há fundamentalmente dois tipos de parques de campismo: os do interior e os situados junto à praia.
Vamos então ver onde estão os municipais e onde estão os privados. Os privados ou de clubes de campismo estão situados normalmente junto às praias. E governam-se como? Com aqueles amantes da modalidade que colocam uma tenda ou caravana o ano inteiro e estas funcionam como segunda casa de férias e de fim-de-semana. Verdade? Posso acrescentar aqui um sem número de exemplos de parque desse tipo, mas deixo aqui alguns dos mais conhecidos: o de Monte Gordo, o de Albufeira, o de Lagos, os dois da Costa da Caparica entre outros.
Vamos agora ver o que se passa no interior ou que não estão mesmo “montados” em cima da água.
A sua frequência é constituída fundamentalmente por passantes ou por visitantes por dois ou três dias. Assim sendo, não há privado que aguente tal situação, só sendo superada pela construção e gestão autárquica. Vamos a exemplos? Então aqui vão: Parque de campismo de Lisboa, do Porto, de Beja, de Serpa, de Alcácer do Sal, de Tomar, de Leiria, de Coimbra, de Braga, de Bragança, ….. Bem, nunca mais acabavam.
Isto vem reforçar a ideia que em Elvas é IMPOSSÍVEL um parque de campismo privado, a não ser aquele lamentável do Parque da Piedade a que chamam de CAMPISMO.
Eu não tenho nada contra a iniciativa privada, antes pelo contrário, mas há actividades que pelas suas características não conseguem subsistir, e esta é uma delas.
Para os “mais antigos” como eu, devem lembrar-se do cinema em Elvas. Era privado, sendo o seu último “industrial”, penso eu, o saudoso Sr. Painho. Foi morrendo aos poucos até que a autarquia tomou conta do “negócio”. Mesmos assim vemos o que é que acontece. Este é mais um exemplo daquilo que é a função de uma câmara municipal, quando os privados não podem suportar a manutenção de tais “negócios”.
Espero que a explicação faça mudar de ideias a todos aqueles que pensam que a iniciativa privada pode resolver tudo.
Jacinto César
Já há muito tempo que tenho sido aqui “encostado” politicamente aos mais variados quadrantes políticos. De socialista a fascista tenho sido tudo. Claro que não me incomoda nada esses carimbos, o que aliás é para mim um orgulho pois é sinal que não me vendo a nenhum e nenhum me pode comprar. Se virmos bem as coisas, esses carimbos já fazem parte de um passado, pois os partidos políticos há muito que puseram na gaveta os seus programas ideológicos, passando mais a funcionar como uma espécie de clube de futebol com os seus sócios. Eu sempre me assumi, sem ser fanático, como adepto do Benfica. Alias até sou sócio. Penso que sempre o serei, ganhem eles ou percam, façam coisas do outro mundo ou as maiores besteiras. Os partidos políticos funcionam mais ou mesmo da mesma forma. Os seus dirigentes podem cometer as maiores barbaridades que os sócios lá estão para os desculpar com os argumentos mais estapafúrdios, tal como no futebol, que quando a nossa equipa perde a culpa é sempre de terceiros e em última análise do árbitro que nos roubou.
Eu pessoalmente e ainda em relação ao futebol, já fui ver jogos do Porto, do Sporting e de outros clubes, mesmo não estando a jogar o Benfica. Gosto de futebol e pronto.
Na política comporto-me mais ou menos da mesma forma só que não sou “sócio” de nenhum. Neste assunto sou mais rebelde. Tanto aprecio uma boa medida vinda do PCP como uma do PP, passado pelos outros todos. Para mim e na minha opinião o que é bem feito, é bem feito, seja lá a medida proposta por quem quer que seja e não é pelo facto de apreciar uma medida proposta por A ou B que me vincula a estes.
Como cidadão que sou reservo-me o direito de aplaudir ou protestar em função das medidas que me agradam ou não, independentemente de onde elas são produzidas. Na política local passa-se exactamente a mesma coisa: aquilo que é bem feito e que me agrada, aplaudo. Aquilo que não gosto, protesto. Hoje estão lá uns e o dia em que lá estiverem outros farei exactamente o mesmo. É assim que funciono e não há nada que me faça mudar de opinião. Nem que a “vaca tussa” como é costume dizer-se. Se for útil para o bem comum, colaborarei sempre e de uma forma DESINTERESSADA independentemente de quem estiver aos comandos da “nau”. Como tal, podem continuar a colocarem-me os rótulos que entenderem, que tal esbarra na minha indiferença.
Um bom fim-de-semana para todos e façam o favor de ser felizes (como dizia o outro).
Jacinto César
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