Há precisamente 3 anos escrevi este texto. Desde que este assunto começou a ser falado ninguém tugiu nem mugiu. Tudo na mesma, ou seja, o assunto continua actual e pertinente.
“O assunto que me leva hoje a escrever sei que é polémico e que divide a população de Elvas, mas mesmo assim vou arriscar. Trata-se do S. Mateus e da data da celebração da festa que reúne anualmente todos os elvenses.
Em minha opinião esta deveria ser antecipada de um mês, ou seja, para 20 de Agosto. Mas vamos por partes:
1- Diz-nos o calendário que o dia 21 de Setembro se comemora o dia de S. Mateus. Esta data comemora-se há muitos séculos e isto desde que a Santa Sé instituiu para cada dia do ano o nome de um Santo. A tradição é a tradição e quanto a isso nada a fazer.
2- O dia de S. Mateus celebra-se há muitos anos na nossa cidade por um motivo fundamental: representava o final de um ano agrícola e o inicio do seguinte. Era por estes dias que quem vivia no campo vinha à cidade fazer as compras do ano, como as botas novas, o casaco e as calças e todos os artigos que não conseguia produzir. Aproveitava-se também para negociar o gado. Estes dias eram como que as nossas férias actuais só que mais curtas, e isto se o patrão estivesse de boa maré! Deslocavam-se para Elvas nos tradicionais carros de canudo que lhes servia de residência. Os bailaricos eram também o prato forte. Estas eram portanto as tradições, mas que devido aos avanços do tempo se foram alterando.
3- Em relação ao ano agrícola estamos conversados pois as alterações foram radicais e como tal a tradição perdeu-se. Quanto ao facto de os agricultores virem fazer as suas compras anuais já foi. As coisas mudaram e hoje aí estão os imponentes hipermercados a venderem tudo os que as pessoas necessitam (e não necessitam) desde manhã à noite incluindo sábados, domingos e feriados. Lá se foi a tradição!
4- Tal como atrás disse as pessoas deslocavam-se nos belos carros de canudo. Depois passaram a vir de autocarro (lembro-me de nas proximidades do parque da Piedade haver uma sementeira de placas que anunciavam o destino dos autocarros da Setubalense e na parte lateral da igreja lá estava o velho autocarro branco dos Painhos pronto para nos trazer e levar para o centro da cidade). Chegavam às dezenas de todos os lados. Havia que trouxesse a trouxa atrás e passasse aqueles dias festivos na mata da Piedade. Pois bem, a tradição também se perdeu. Dos que vinham para ficar, restaram os Camponeses (Campomaiorenses) que vêm armados de tendas e caravanas e de toda a mobília atrás
Estas eram as tradições e como elas se perderam. Falemos agora de coisas mais práticas:
1- Até ao 25A as aulas da miudagem começavam sempre no 1º dia útil a seguir ao 5 de Outubro. Hoje as mesmas aulas começam a 17 de Setembro e com tendência a começarem ainda mais cedo. Ora se a festa era para a rapaziada e para os pais, como é que se conseguem conciliar as duas coisa?
2- Cada vez mais as pessoas fazem as férias em Agosto precisamente por causa das férias dos filhos. Então não seria juntar o útil ao agradável, ao termos as festa a coincidir com as férias?
3- As festas, tanto as religiosas como as pagãs, sempre estiveram condicionadas pelo número de visitantes e do vil metal que aqui deixavam. Quando há menos gente, é a bandeja da igreja que se ressente, são os comerciante que se ressente, o aluguer dos terrenos a descer, etc. Ora o inverso é verdadeiro ou não?
4- Os caprichos meteorológicos: como é sabido nessa altura do ano o S. Pedro é pródigo em pregar umas partidas e com as respectivas consequências. Ou não é assim?
Ora bem, se as tradições já não são o que foram, se tudo se modernizou nas nossas vidas, então porque não antecipar num mês as Festas da Cidade, as do Senhor Jesus da Piedade e do S. Mateus?
Exmos. Senhores da Mesa da Confraria do Senhor Jesus da Piedade, porque não pensarem no assunto, ou será que são tradicionalistas que os impedem de ver as coisas como são? Lembre-se que até há pouco tempo o sacerdote rezava a missa virado para o Senhor e agora o faz de costas para Ele. Como vêm até aqui as coisa mudaram.
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Elvas, presumo que para o senhor tanto se lhe dá que seja numa data como noutra deste que o “povo” esteja contente. Pois bem, se se gasta tanto dinheiro para tudo e para nada, promova um REFERENDO Municipal que a lei lhe permite e assim ficaríamos a saber a vontade de todos nós.
Cá por mim, que se mude!
PS. Não mencionei por lapso um grupo importante: os nossos emigrantes, e que não são poucos!”
Adenda
Desmistificação do 20 de Setembro
Era vontade minha continuar a argumentar sobre as razões da proposta que tenho vindo a fazer para que a Procissão dos Pendões e a Feira de S. Mateus passassem a iniciar-se a 20 de Agosto.
Pelos comentários que se têm feito e que apontam sempre na mesma direcção, ou seja a tradição, não me resta outra alternativa que apresentar o argumento último. Era em princípio para ser o último, depois de apresentar todos os outros argumentos que tinha para fundamentar a minha proposta. Acredito que nenhum demoveria aqueles que pensam que o 20 de Setembro É A TRADIÇÃO. Errado. Não é. Adiante.
Vou contar-vos uma história. Então é assim:
“Recuando no tempo, até ao século XVIII, encontramos aí o início da história daquele Santuário. Num dia de verão, no ano 1736, num local denominado da Saúde, a pouco mais de mil metros a oeste da cidade de Elvas, na antiga estrada que ligava Elvas a Varche, existia uma singela e deteriorada cruz de madeira que assinalava a morte por queda, naquele sítio, de um lavrador da região.
O sacerdote Manuel Antunes, numa das suas frequentes deslocações a uma propriedade nos arredores da cidade, montando uma mula, por duas vezes foi atirado ao chão, ficando bastante maltratado das quedas. Tendo retomado o marcha a pé, sentindo que as forças o abandonavam e temendo já não chegar ao seu destino, o Padre Manuel Antunes ajoelhou-se diante daquela cruz e em oração fez a promessa solene de a mandar reparar e nela pintar a imagem do Senhor e ainda de ali dizer uma Missa votiva em acção de graças, se durante aquele verão, outra queda não voltasse a dar e a sua débil saúde não se agravasse.
Tendo as suas súplicas sido atendidas e em cumprimento do voto, mandou reparar a singela cruz e pintar-lhe a imagem de Jesus Crucificado, que justamente intitulou de Senhor Jesus da Piedade. Mandou ainda levantar um poste com um nicho, em alvenaria, onde foi colocada a cruz com a imagem para que ficasse convenientemente resguardada. A Missa foi rezada em altar próprio erguido junto daquela milagrosa Cruz e teve a assistência de muita gente. Era o início de uma importante romaria, que se repetiria e crescendo ao longo do tempo. Devido à fama dos milagres chegaram peregrinos de toda a parte, inclusive de Espanha, predominantemente de Badajoz, das províncias da Extremadura e da Andaluzia.
Crescendo a fama dos muitos milagres e também da devoção popular, levando ao aumento sucessivo dos peregrinos e das suas ofertas, esmolas e ex-votos, tornou-se necessário construir uma ermida.
Para que a edificação daquela ermida (a primitiva) se concretizasse, Luiz Manuel Marquês, proprietário daqueles terrenos, deu como esmola o terreno necessário, para o traçado ofereceu-se o artista elvense João Fernandes e ainda as esmolas do povo para custear as obras de construção.
A 20 de Outubro de 1737, com a autorização do Cabido, teve lugar a primeira procissão para a transferência solene da Cruz para a ermida. Na procissão participou todo o povo devoto, as autoridades civis, militares e eclesiásticas, a nobreza da cidade e as confrarias com os seus estandartes.
Nesta capela, de arquitectura singular e de planta octogonal, que ainda hoje existe incorporada no corpo da actual Igreja, encontra-se a primitiva Cruz de madeira.”
Reza assim a autorização do Cabido:
“Illl.mo Sr. Diz o Bn.º Manuel Antunes, que elle e varios devotos do Senhor da Piedade edificaram uma capella no sitio da Saude, extramuros d’esta cidade, a fim de collocarem n’ella a imagem de Christo Crucificado, que se acha exposta à inclemencia do tempo no meio d’uma estrada; e porque não pódem transferir a ditta imagem para a nova capella sem licença de V. Ill.ma, e sem primeiro ser a mesma por V. Ill.ma visitada, e approvada, para ver se está com decencia, e que tudo dispõem as Constituições d’este bispado, tit. 18.º, parágf. 1º portanto, P. a V. Ill, ma seja servido mandar visitar a ditta capella; e, achando-a com decencia, approval-a, para se poder collocar a ditta imagem, e juntamente seja servido dar-lhes licença para que a translação se faça com a pompa devida, cantando-se n’ella hymnos e psalmos; como nas procissões se costuma. E. R. M."
Despacho: Commettemos ao M. R. Sr. conego Manuel Garcia para visitar a ermida, que nos representão, e para assistir á mudança da Imagem com a decencia devida; porém não se dirá missa na ditta ermida sem expressa licença nossa. Elvas em cabido de 8 d’outubro de 1737.”
De salientar que a data do Despacho do Cabido é datado de 8 de Outubro e como tal, posterior a 20 de Setembro.
Para aqueles que possam duvidar do que aqui escrevo podem consultar “A egreja do Senhor Jesus da Piedade - Estudos e notas elvenses, vol. III, p.13.” escrito pelo nosso conterrâneo António Thomaz Pires.
Como acabei de demonstrar as celebrações a 20 de Setembro são posteriores, e a partir de um ano que não consegui ainda determinar. Tão pouco consegui ainda saber qual o motivo da mudança do mês de Outubro para o mês de Setembro. De uma coisa tenho a certeza: a data de 20 de Setembro não tem qualquer significado e o mais provável é que tenha sido alterada por uns dos argumentos que ainda iria utilizar, ou seja, a instabilidade meteorológica.
Daqui para a frente pode-se argumentar com tudo o que se queira, mas o argumento TRADIÇÃO morreu!
Jacinto César
É verdade, ter um Porsche era uma das grandes ambições que sempre tive.
Era, digo eu, porque mesmo que com sacrifício comprasse um dos mais
baratos, nunca teria dinheiro para o manter.
E dirá V. Exª: mas o que é que eu tenho com isso? Nada, evidentemente.
Só que a Câmara por vezes comporta-se assim, ou seja, compra as coisas
e depois não tem maneira de as manter. Eu explico.
Quem vai dos Arcos das Amoreiras para a Boa-Fé pela circular, se olhar
para a sua direita vai encontrar uma faixa de terreno inclinado e que
presumivelmente deveria estar relvado ou com qualquer outro tipo de
plantas. E eu digo presumivelmente porque existe um sistema de rega
montado, que vai dos Arcos até um bocado além da rotunda da Belhó.
E que vimos nós? Um sistema de rega que deve ter uns milhares de
metros de tubo e ervas secas. Pois, ervas secas. Ora se a barreira era para
ficar amarela não precisava de rega, mas se tem rega deveria estar verde.
Ou não? Com as faixas junto ao Emigrante e Viaduto acima, acontece
quase o mesmo. Aí o sistema funciona mas mal. O mesmo acontece com
as barreiras junto à Srª. Da Nazaré.
Então como é? Temos dinheiro para o sistema de rega (o meu Porshe) e
depois não temos dinheiro para a água (a manutenção do carro)?
Algo vai mal no reino de V. Exª.
Jacinto César
Sou um teso e pronto! Quanto a isso não há nada a fazer.
O único bem que possuo é o meu apartamento e que um
dia será dos meus filhos. Só que eles ainda são mais tesos
que eu. Se for por diante o que o Sr. Silva de Boliqueime
propõe, coitados deles que não irão ter dinheiro para pagar
o imposto sucessório e lá se vai o apartamento.
Em contraponto, sugeriu que a taxação das grandes fortunas
não será lá muito boa ideia. Coitados, lá terão que ter o
trabalho de levar a “massa” para fora do país.
Num momento em que as economias ocidentais estão a dar
sinais de uma recessão grave, que as maiores democracias
ocidentais estão a preparar-se para cobrar um imposto
extraordinário sobre as grandes fortunas, incluindo a minha
grande “amiga” Angela, em Portugal não.
E quem vai pagar a crise? Adivinhem lá? Nós os tesos,
quem havia de ser.
A electricidade, que é um bem essencial, passa a ser
taxada com 23% de IVA. E aqueles que ganham uma pensão
de miséria de pouco mais de 300€? Se já não dá para comer
e comprar os medicamentos, se calhar terão que voltar ao
tempo dos candeeiros a petróleo. E atenção fumadores
(os grandes criminosos), preparem-se que também estão na
lista dos penalizados. E esperem pela lista de produtos que
vão passar da taxa mínima para os 23%.
Mas agora taxar os Srs. Belmiro, Amorim e companhia?
Bolas, não lembra nem ao diabo!
Jacinto César
E vai já em 27 anos de “velha” as Festas do Crato. E mais uma vez
tenho que recorrer a um ditado popular: “é como o vinho do Porto,
que quanto mais velho melhor”.
É verdade, as festas e o festival vão-se renovando todos os anos
para melhor e o visitantes por sua vez aumentam.
Salvo um ano ou outro que falhei, lá voltei este ano a fazer a
peregrinação àquela vila alentejana. E sabem uma coisa? Cada
vez que lá vou venho sempre cheio de inveja porque em Elvas não
se consegue evoluir daquela maneira, antes pelo contrário, andamos
como o caranguejo, ou seja, para trás. É um regalo para os olhos ver
tudo organizado, tudo a funcionar sobre rodas. E eu a roer-me todo
cá por dentro!
Mas será que Elvas não consegue por pessoas inteligentes e evoluídas
à frente do NOSSO S. Mateus. Eu começo a acreditar que não.
Aqui pratica-se o culto do deixa andar, do conservadorismo, do
tradicionalismo bacoco, da falta de visão. Aqui ao leme das festas da
cidade, temos pessoas com uma falta de visão monumental (que me
perdoem os que fazem o favor de ser meus amigos) e não posso
perdoar tal. O importante é ter uma opa toda pomposa, ir-se inchado
na procissão e ter-se um lugar de destaque na igreja. PROVINCIALISMO!
E um dia vão-se ver gloriosamente SÓS. Nesse dia, vão olhar para o lado
e assobiar como se nada fosse com eles. Mas se ainda cá estiver, nesse
dia que não andará muito longe, direi bem alto: CULPADOS.
Há uns anos atrás estava convencido que uma das razões que levava as
pessoas a querer ter poder era o vil metal. A experiencia de vida veio-me
a ensinar que não é só essa a razão. Nos cargos importantes, sim. Agora
nos cargos menores não. O ser-se presidente duma junta de freguesia
pobre, ser-se director de uma qualquer colectividade ou coisa do género,
não dá dinheiro e só traz problemas. Então qual a razão de haver sempre
candidatos para estes lugares? O ser-se tratado por Senhor Presidente,
por Senhor Director, ou ter-se um lugar de destaque, “manda muita nice”
como dizem os jovens. É uma DROGA e as drogas viciam.
Exmos. Senhores membros da Mesa da Confraria do Senhor Jesus da
Piedade: por favor vão-se embora, por favor dêem o lugar a outros
que tenham ideias, por favor dispam a pomposa opa e dêem lugar a
quem arregace as mangas da camisa. Por favor, vão jogar às cartas ali
para o tabuleiro da Praça da República e deixem que outros o façam.
Sei que a esta hora haverá por aí muita gente a chamar-me nomes, mas
tenho a certeza absoluta que há por aí muitos mais a concordarem comigo.
Só que calam e eu NÃO.
Voltarei ao assunto tantas as vezes que forem necessárias para que as
coisas mudem.
Passei a minha meninice entre o Largo de S. Domingos e a Quinta do
Pendão. Vi nascer e crescer não sei quantos S. Mateus. Recordo-me
aqui com saudade alguns dos elementos que faziam parte da Confraria
nessa época. Recordo-me de um Dr. Pires Antunes, do Sr. Figueira, do
Sr. Tianza, do meu querido PAI, do Sr. Capelão, do Sr. Jorge Pinheiro
(ainda vivo) e de alguns dos funcionários que punham as festas de pé
como o Sr. António e o Miguel (ainda vivos), o Angelino, o Sr.
Diamantino (electricista), o velho Baleca Brazão e o Cabo (o pintor)
e outros mais que já não recordo.
Recordo-me com saudade desses tempos.
Não podemos deixar morrer o S. Mateus. Cabe aos verdadeiros elvenses
acabar com este estado de coisas.
Jacinto César
Estava mais que visto que o inevitável iria acontecer: a adopção de
crianças por casais homossexuais.
Aquando da aprovação da lei que
permitia o casamento entre homossexuais (que para mim continua a
ser uma aberração), dizia-se que a adopção de crianças estava fora
de questão. Para mim, e expressei-me aqui sobre o assunto, era só
uma questão de tempo.
Deixava-se baixar a poeira provocada pela lei e mais tarde voltava-se
então à carga.
Bem dito e bem feito: eis que surge novamente o defunto Bloco de
Esquerda a levar o assunto ao Parlamento.
Mas será que o país não tem problemas mais graves para tratar do
que este? Ou será que querem aproveitar a preocupação legítima
dos portugueses com a crise económica para fazer passar o
diploma sem dar muito nas vistas e sem um verdadeiro debate?
E será que desta vez o Presidente vai também promulgar a lei sem
passar cavaco a ninguém?
Num país em que a ética e o civismo estão pelas ruas da amargura,
em que os fumadores quase são considerados criminosos em
contraponto com os utilizadores de drogas, em que a educação está
de rastos, em que as famílias estão desfeitas, que mais falta para
sermos uma anarquia perfeita?
Sou por natureza um liberal convicto, mas não confundo liberalismo
com libertinagem. Estamos a entrar numa fase do “salve-se quem puder”
e os últimos que apaguem a luz e fechem a porta.
Que Deus nos acuda!
Nota final – O menino chega à
escola no primeiro dia e a professora pergunta:
Então como é que se chama o teu pai?
João!
E a tua mãe?
Manuel!
Gargalhada geral e o menino sem saber que fazer.
É isto que pretendemos?
Jacinto César
(Foto de Victor Mascarenhas)
Começou no fim-de-semana passado mais uma Feira de S. Mateus.
Não, não estou enganado, pois estou a referir-me à romaria de Viseu
e que é uma das maiores do país.
Mas já que falo desta festa em Viseu, apetece-me voltar à carga com
a sua homónima de Elvas.
Há infelizmente invisuais, mas piores cegos são aqueles que não querem
ver. São aqueles que se recusam a ver.
São aqueles que nem que se lhes ponham as coisas à frente continuam a ver.
Isto vem a propósito de há uns quantos anos ter vindo a bater-me pela
alteração das datas das festas da nossa cidade.
Já aqui expliquei, até com documentos, que a festa inicialmente até era
em Outubro, mas como nesse mês já se estava no início do novo ano
agrícola, resolveu-se mudar as festas para 20 de Setembro, data que
marca o fim do ano da lavoura e o início do seguinte. Ou seja, os nossos
antepassados altearam a data das festas em função das necessidades
dessa época. Foram inteligentes.
E como é a nossa vida actualmente?
Em primeiro lugar quero referir-me às crianças e jovens, que em parte,
são dos principais frequentadores das festas. Como é sabido, nestes
últimos anos, as férias escolares têm-se contraído bastante. O próximo
ano escolar começa a 8 de Setembro. Isto quer dizer que quando as
festas começam já as aulas vão em velocidade de cruzeiro.
Isto obriga também os pais a gozarem as suas férias no mês de Agosto.
Tal facto obriga a que toda a gente vá para a cama mais cedo.
Em segundo lugar, quero referir-me aos nossos conterrâneos a viver fora
de Elvas ou mesmo fora do país.
Se nós que vivemos cá temos os problemas que atrás enunciei, esses
problemas são exponenciados para todos aqueles que vivem fora de Elvas.
Em terceiro lugar queria referir-me aos turistas. Como todos sabem,
Agosto é o mês em que Elvas recebe um maior número de visitantes.
As festas seriam mais uma atracção a oferecer a quem nos visita.
Por fim e talvez o mais importante: o clima. Como toda a gente sabe a
meio do mês de Setembro começam a cair as primeiras chuvas,
acompanhadas muitas vezes de trovoadas. Depois é o que se vê: o
imenso parque vazio.
Dito isto, qual é o problema de avançar num mês as Festas da Cidade?
O argumento da tradição não colhe como já o demonstrei mais que uma vez.
Sobre o assunto, já uma vez fiz chegar às mãos da Confraria do Senhor
Jesus da Piedade uma cópia do documento emitido pela Diocese de
Évora a autorizar as primeiras festas. Ninguém o conhecia. Mas também
ninguém quis saber.
Sei que o assunto é polémico, mas ponha-se à discussão da população e
em última análise, faça-se um referendo aos elvenses.
Agora manter as coisas como estão, é matar o S. Mateus aos poucos.
Depois, bem, depois é como sempre e ninguém é culpado.
Acabe-se com a teimosia. Abram os olhos. Oiçam as pessoas.
Voltarei ao assunto mais à frente.
Jacinto César
Nota introdutória – Foram-me dadas explicações sobre o
assunto que aqui coloquei e que era o facto da montagem de palcos
gigantes em frente à Sé. A explicação pareceu-me satisfatória, não
podendo ser assacadas culpas à Câmara Municipal, mas por motivos
técnicos à EDP. Ficou também a promessa de que os próximos
concertos já serão realizados do outro lado da praça.
Em nome da Sé, obrigado.
Vejam bem a notícia que ontem saiu na comunicação social.
“Representantes das 16 maiores fortunas de França
oferecem-se para pagar mais impostos, de forma a contribuir para
a resolução dos problemas financeiros do país. Entre as
personalidades surge o dono da L'Oreal (Jean-Paul Agon) e o
chefe da companhia petrolífera TOTAL (Christophe de Margerie).”
Ora aqui está um bom exemplo de cidadania. Se foi através dos
cidadãos franceses que obtiveram as fortunas que têm, é de louvar
que em situação de crise ajudem o país.
E por cá? Será que tinham a mesma coragem de o fazer? Ponho muitas
dúvidas.
Os Tios Patinhas de Portugal, não conseguem abrir mão de um cêntimo
que seja, pelo contrário, se conseguirem obter mais algum, mesmo que
seja “atropelado quem quer que seja, é sempre bem-vindo.
Tenham um bocadinho de vergonha e ajudem o país a erguer-se. Os
nossos filhos agradecerão.
Jacinto César
Quando um cão é tinhoso toda a gente lhe atira pedras, diz o povo.
Nunca um ditado popular se aplicou tão bem a uma situação como
a que se está a passar na Líbia com o Coronel Kadafi.
Kadafi à parte, olhemos para a situação do seu país nestes últimos
40 anos. Parece que ninguém sabia o que lá se passava, incluindo
os americanos e europeus. Era uma ditadura tão ou mais feroz do
que na antiga Birmânia, actual República de Myanmar ou na Rodésia,
actual Zimbabwe.
Acontece que estes dois últimos, como outros mais, não têm petróleo
mas a Líbia tem. Os outros têm que à força ser democráticos, mas os
poderosos não. Eu ainda não vi nenhum político meter-se com a
China ou com a Arábia Saudita por estes motivos. Hipocrisia!!!!
Em relação a Kadafi, todos nós temos presente a sua estadia em
Lisboa e o espavento da sua comitiva. Nessa época era um
amigalhaço. O mesmo se pode dizer em relação a outros países
ocidentais onde era recebido com toda a pompa e circunstância.
Hipocrisia!!!
Bem, tenho estado a falar sobre tiranias às claras. E as outras?
Aparentemente o mundo ocidental vive em democracia. Mas
será que vive mesmo? É certo que cada um de nós pode dizer
e escrever o que quer. Nas verdadeiras ditaduras a resposta é
à bala ou então cadeia. Para nós, a resposta é a indiferença.
Bem pode berrar um país inteiro que os poderes continuam a
fazer de conta que nada se passa e vão “governando” ao seu
belo prazer.
Naqueles países os “xerifes” vão-se governando a eles, às
famílias e amigos. E entre nós “democratas?
Governam-se os eleitos, as famílias e os amigos. Então onde é
reside a diferença? É que nas ditaduras são sempre os mesmos
a governarem-se e nas democracias vão-se governando
alternadamente.
Pobre povo que tudo aguenta.
Hoje saiu na comunicação social uma notícia que dava conta
da satisfação do FMI do modo como o povo português
pacificamente aceitou as medidas de austeridade. É comovente.
E já que falo no FMI, que dizer das ditaduras dos bancos, das
multinacionais e outras tais? Estes, na verdade, não dão nas vistas
mas lá que são eles a ditar as leis, disso não me restam
dúvidas.
Jacinto César
Parece um paradoxo, mas por vezes, mesmo que se perca,
ganha-se!
Já há muito que ando arredado do futebol. Penso que até aqui
já tinha falado sobre o assunto, devido à falta de profissionalismo dos
jogadores. Estão a fazer um sacrifício em fazer aquilo pelo que lhe pagam
fortunas. Desculpem-me o termo, mas para mim não passam de “chulos”.
Casualmente, segui o Campeonato do Mundo de sub-20.
Olhando para a selecção, salvo o nome de um ou outro jogador, não
conhecia ninguém.
Fazendo uma apreciação geral, os seleccionados em termos
técnicos são muito fraquinhos comparados com gerações anteriores.
Penso que não andarei muito longe da verdade.
Mas, e há sempre um mas, houve um factor que foi verificável
durante todos os jogos a que assisti e que me deixou feliz: o espírito
de grupo e a entrega.
Há um par de “luas” que não via nada igual ao que me foi dado a
presenciar. Notável!
Reportando-me agora somente ao jogo último com o Brasil,
fiquei encantado. Comovido mesmo! Aqueles rapazes merecem o
nosso aplauso e poderiam servir de exemplo para a nossa juventude.
Aquele prolongamento foi dramático. Vi ali jovens que já tinham
dado tudo o que tinham e mesmo assim não desistiram. Não me sai
da memória a imagem de um jogador, do qual não me
recordo o nome (africano), que a poucos minutos do final teve que
sair. Já não conseguia coordenar os movimentos, sinal de um tremendo
esforço físico. Fiquei comovido.
Outro jogador ainda, avançado, também já não podia com uma
“gata pelo rabo”, mas aguentou pé firme até ao derradeiro apito. Resumindo,
todos eles deram o litro ou comeram a relva como se diz na gíria desportiva.
Perderam é certo, mas para mim foram uns HERÓIS. Caíram pelo resultado,
no entanto, caíram com dignidade e verticalidade.
Comparando este grupo de jovens com aqueles que se arrastam
todos os domingos por esses relvados é injusto.
Gosto que os meus ganhem, mas perder-se assim é uma vitória.
Assim, sim, dá vontade de ver futebol.
Jacinto César
Vista aérea do Mercado Roque Santeiro
Hotel de luxo de Luanda
Como muitas pessoas sabem, servi o meu País em Moçambique como
militar nos anos 72 a 74 do século passado.
Pondo de lado as questões da guerra, o ambiente que se vivia nas
principais cidades era de puro colonialismo de inspiração britânica
(influências da África do Sul e da Rodésia). Os colonos que aí viviam
eram donos e senhores de tudo e de todos e até os militares que aí se
encontravam a defendê-los não eram bem aceites.
Numa das férias que tive, para vir a Portugal, como o avião fazia escala
em Angola, resolvi passar aí uns dias. Como era diferente o modo de
vida em Angola.
A primeira impressão que tive, era a de que estava em Portugal.
Em Luanda vi aquilo que para mim era impensável: estando sentado
numa esplanada da avenida marginal, vi um branco a vender lotaria
e a engraxar sapatos no mesmo instante em que estacionava junto ao
passeio um Alfa-Romeu Montreal (na época era qualquer coisa da
categoria de um Ferrari) e dele saiu um africano de fatinho branco.
Em Moçambique era impossível. Para dizer a verdade, senti-me bem.
Tanto havia pobres negros como brancos e com os ricos passava-se da
mesma forma. Era bonito de se ver.
Isto vem a propósito do que li na última edição da revista “Sábado”
sobre Luanda.
Fiquei envergonhado, para não dizer enojado com o que li! Como é
que é possível haver milhões de angolanos a passar fome e meia
dúzia de corruptos a viverem à grande e à francesa e ostentarem essa
mesma riqueza? Não, não é definitivamente a Angola que tive a felicidade
de conhecer.
Um qualquer tipo que nem tem coragem de dar a cara, a gabar-se de
gastar um milhão de Euros numa festa de aniversário, um casal com dois
filhos pequenos que tem 5 carros topo de gama, com os respectivos
condutores e que gasta 20 mil euros mês num batalhão de criados e outros
casos igualmente escandalosos! Para dar uma ideia final, Luanda é simplesmente
a cidade mais cara do Mundo!
Como é que é possível haver um grupo de lambe botas do poder maltratar assim
um povo inteiro?
E o que mais me espanta é essa canalha chamar ainda hoje colonialistas aos
portugueses.
Colonialistas? Nós? Comparado com o que se está a passar há uns anos a esta
parte em Angola, os portugueses eram uns meninos de coro. Uns anjos!
Até o “António” se levantasse a cabeça de novo ficaria horrorizado com a situação!
Que fazer a isto?
Jacinto César
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