Dois aviões, 3 aeroportos e quase 12 horas depois cheguei a Goa. Cheguei aqui já de noite e não deu para ver rigorosamente nada.
Depois do dia terrível de ontem, já hoje de manhã e através dos jornais tive notícias mais precisas do que aconteceu. As vítimas do acidente aéreo eram americanos e japoneses. Mas o que ainda mais me chocou é que por uma grande casualidade conheci nessa mesma manhã o piloto do avião acidentado. Era uma senhora. E a casualidade deu-se pelo facto de eu e mais dois portugueses ficarmos admirados pelo facto de ser uma senhora que ia pilotar o avião antes do nosso. Ela esteve com os passageiros na pequena sala de embarque do pequeno aeroporto. Só nos apercebemos que era ela por uma fotografia no jornal. Por uma sorte tremenda deveriam ter embarcado dois compatriotas nossos do Porto em lua-de-mel. Não cheguei a saber o porque de não terem embarcado. Não era também o dia deles.
Contra tudo aquilo que pensava, tenho encontrado grupos de portugueses em todo o lado. Parece que o Zé Tuga começa a abrir os olhos e a sentir a necessidade de ver novos horizontes. Fico satisfeito. Encontrei um grupo de 60, todos eles funcionários das Finanças do Distrito de Leiria, que levam o ano todo a poupar uns tostões para em grupo viajarem todos os anos durante as férias. Rapaziada afinada, mas um estranho hábito: juntavam-se na sala do hotel, 4 em cada mesa, a jogar à sueca.
Estranho, mesmo muito estranho, foi ter encontrado no hotel onde também eu estava, 40 juízes que até tinham uma sala só reservada para eles. Fiquei sem saber se estavam por conta própria se estavam por conta de todos nós. Reunirem-se aqui por estas paragens leva a que se desconfie. Espero que seja um caso idêntico ao outro grupo, mas …
Por hoje é tudo! Amanhã começarei a explorar esta antiga colónia de Portugal e ver o que por cá deixamos. Uma coisa já eu fiquei a saber: um dos pratos típicos daqui é feito com “chouriço”. Isso mesmo. Na forma, no conteúdo e no próprio nome que permaneceu inalterado.
Uma continuação de boas férias para todos.
PS – Não vale a pena darem-me notícias do SLB já que como podem depreender a Net também chega aqui. No entanto agradeço o “cuidado” de me manterem informado.
Jacinto César
Ontem, não sei porquê, tive o pressentimento que ainda não era hoje que iria ver o Everest. Às 6 da manhã lá voltei para o aeroporto, mas o tempo estava muito mau. Às 5 da manhã tinham-me telefonado para o hotel dizendo que todos os voos estavam cancelados. Até fiquei satisfeito, pois com um tempo daqueles não seria agradável. Meia hora depois voltam a telefonar dizendo que afinal havia voos. E lá fui. Um bocado contrafeito, mas fui.
Estava dentro do autocarro parado junto ao avião quando mandaram tudo novamente para a gare. Voos cancelados.
Bem, isto pode ser um contratempo, mas bem pior foi para aos passageiros do avião que nos antecedia. O avião despenhou-se nos Himalais e os 19 desgraçados que seguiam a bordo presume-se que tenham morrido todos. Quando regressei ao hotel ainda não se sabia mais notícias, mas segundo o que consegui saber no aeroporto não havia nenhum português no malfadado avião. Se calhar morreram fazendo o que gostavam: percorrer o mundo.
Hoje vou-me ficar por aqui. Amanhã vou para Goa ver se consigo ver um pouco de sol.
Jacinto César
Ontem depois de ter saído de Varanasi de uma coisa a que os indianos chamam aeroporto, e depois de ter sido apalpado mais umas quantas vezes (espero não começar a gostar), cheguei finalmente ao Nepal como escala para os Himalaias.
Um aeroporto decente, gente decente e uma limpeza que não se pode comparar à Índia.
Vim parar a um hotel em Kathmandu, que é até agora a grande estrela. Um palacete a lembrar a Quinta da Espanhola em Elvas mas de porte maior e com uma reconstrução primorosa. Uma maravilha. Como cheguei cedo deu tempo a dar uma volta pela cidade. Simplesmente fantástica. A praça principal é uma preciosidade (Património da Humanidade e com muito mérito). Consegue deslumbrar qualquer um por mais insensível que seja a estas coisas.
Como não há bela sem senão, a partir das 8 da noite (hora a que fecha o comércio) é ver os ocidentais a correr para os hotéis. A cidade pura e simplesmente não tem iluminação pública, ou seja, a partir da hora de fecho do comércio que é quem fornece iluminação às ruas, se queremos demorarmo-nos um pouco mais, como por exemplo jantar, só nos resta a solução de chamar um táxi ou então sujeitar-se a ser assaltado.
Hoje logo pelas 6 da manhã, estava este rapaz pronto para a aventura dos Himalaias e nada. Os aviões que deveriam levantar voo e devido ao mau tempo, ficaram em terra. Grande desilusão. Espero que amanhã possa ter a segunda oportunidade (e última já que não posso ficar aqui eternamente à espera que faça bom tempo). Tal como as coisas estão ponho as minhas dúvidas de que é desta vez que vejo o Evareste “ao vivo e a cores”. Como o tempo é dinheiro há que arranjar destino alternativo e ponho-me a caminho de Patan. Não foi tempo perdido pois que é outra preciosidade. Simplesmente fabulosa a cidade, cuja praça principal é também Património da Humanidade. Como nesta cidade passa um afluente do Ganges, este também é considerado sagrado. Como tal tem também as cremações públicas. Desta vez vi mesmo ao pé para ficar a saber como se processava toda a cerimónia. Impressionante. Só pode ser mau para quem tiver um estômago fraco. Abstraindo-me do cheiro (obviamente a carne queimada) vale a pena assistir. Só não coloco aqui uma das muitas fotografias que fiz por serem um pouco próprias.
Bem, amanhã de madrugada vou fazer a segunda tentativa se o tempo não me pregar nova partida. Se não tiver que ser, lá terei que arranjar alternativa.
Continuação de boas férias para todos
Jacinto César
Desde que me recordo de andar nestas aventuras, hoje tive que me “render”. O corpo já não dava mais.
Ontem e depois da “maravilhosa” viagem de comboio até Varanasi, à noite ainda fui assistir às cerimónias nocturnas de preparação dos defuntos desse dia para serem cremados no dia seguinte. Significa isso que cheguei ao hotel por volta das 11 da noite.
Eram 3 e meia da manhã estava a tocar o telefone do quarto a tocar e uma voz do outro lado a dizer-me que me tinha que levantar. Eram 4 da manhã, quando ainda em jejum me pus a caminho do Ganges. Contra todas as expectativas havia um trânsito infernal. Os carros, dado o movimento dos peregrinos e dos familiares dos defuntos, tinham que ficar relativamente longe. Por meio de labirintos apinhados de gente, não sei bem como é que cheguei ao rio. Parece-me que houve momentos que caminhei meio a dormir.
Às cinco da manhã estava a entrar para um “barco” que iria percorrer um troço do rio e paralelamente à margem.
O que ali se vê é indescritível e é necessário um certo estofo psicológico para ver aquelas cenas.
Milhares de pessoas a tomarem banho no rio imundo, mas sagrado para eles, com um cheiro a “churrasco” à mistura. Como não podia deixar de ser as cinzas são lançadas à água. Eu não vos digo nem vos conto o que se vê durante aquelas horas. O pior era que tinha os olhos a fecharem-se-me e por pouco não fui parar também ao banho. Tinha tido uma vantagem: a esta hora estava puro como à nascença e teria espiado todos os meus pecados.
Um pouco antes das 10 da manhã tive que regressar ao hotel para poder tomar o pequeno-almoço, pois de seguida ainda iria a um templo Hindu.
O pequeno-almoço bateu com estrondo no fundo da “pança” e aí fiquei com uma “moca” tremenda. Estava rendido. Os olhos recusavam-se a abrir e o corpo pedia uma cama. O guia se quisesse que fosse sozinho para cumprir “calendário”, que o meu corpinho recusava-se a entrar no carro.
Fui para a cama. Dormi até às 2 da tarde, hora a que fui descomprimir na piscina. Quando voltei ao quarto e olhei para a cama, pareceu-me ter visto um dedo a chamar-me para nela me meter outra vez. Com um grande “sacrifício” fiz-lhe a vontade. Só acordei por volta das 6 da tarde e porque a barriga estava a dar horas.
Amanhã é dia de abalada para o Nepal. Bem, espero bem que sim porque com o tempo que aqui está nunca se sabe se o avião levanta voou ou não. Só em cima da hora é que se sabe.
Uma continuação de boas férias para quem as esteja a gozar ainda.
Jacinto César
A partir de hoje fiquei com duas certezas!
1 – O Taj Mahal é das “coisas” mais belas que vi em toda a minha vida;
2 – Não vou continuar a dizer mal do meu país.
1 – O Taj Mahal é na verdade deslumbrante. Enche o olho de uma forma que jamais se pode esquecer. Bem, penso que nunca conseguirei passar para palavras o que senti perante o mausoléu. INDESCRITÍVEL!
2 – Por volta das seis da tarde fui para a estação de caminhos-de-ferro de Agra para apanhar o comboio com destino a Varanasi. O dito apareceu eram quase 10 horas. Tinha bilhete de 1ª classe executiva.
Quando o comboio apareceu, não faço a menor ideia quantas carruagens passaram por mim até parar e tão pouco fiquei a saber quantas ainda ficaram para trás.
As horas de espera foram anedóticas dignas de um drama de Felinne. Havia gente por todos os lados, a fazerem de tudo, acompanhados pelas ratazanas enormes a passearem-se por entre elas. Uns comiam, outros dormiam no chão, os amigos do alheio a praticarem a profissão, a polícia com cassetetes de bambu tentando meter todos na ordem. Estou a falar de muitas centenas de pessoas, para não errar ao dizer uns quantos milhares. A casa de banho eram os carris. Os homens nem se dignavam a descer, já que o repuxo era mais vistoso cá de cima. Os colies (carregadores) com montanhas de malas à cabeça de um lado para o outro. A gaiatagem local vendia de tudo: de comidas muito duvidosas, a bebidas, a “souvenirs” e até preservativos. Resumindo, uma confusão total.
Entro para o comboio e lá chego ao meu compartimento de classe executiva. Qualquer carruagem de 3ª classe de há 50 anos atrás era melhor. O compartimento imundo. Uma coisa parecida com uma “cama” com uns lençóis que até um porco tinha pejo em se deitar em cima. Uma coisa do outro mundo. Se o compartimento era assim, imaginem a 3ª classe. Até os camiões em Portugal que transportam animais têm que ter melhores condições. As pessoas amontoavam-se em todos os cantos. Havia pessoas que dormiam de cócoras nos locais para por as malas. E porquê de cócoras? Para caberem mais. Autêntica ficção. E as casas de banho? Bem, é melhor nem falar nelas. Contra todas as previsões, deitei-me vestido em cima da presumível roupa de cama e ferrei a dormir até que alguém me deu umas pancadas na porta e dizer que esta a chegar ao destino. Consegui dormir 10 horas seguidas. Não me perguntem como, mas consegui.
Comecei dizendo que não diria mais mal do nosso país. Perante o que tenho visto nesta primeira semana, prefiro continuar a ter a nossa economia em 28º lugar mundial a estar em 11º como os indianos estão. Preferia ser muito pobre em Portugal do que rico por aqui.
Boa continuação de férias para aqueles que ainda as estão a gozar.
Jacinto César
Hoje depois de algumas tropelias, depois de finalmente ter almoçado em condições, sete horas depois cheguei a Agra. Uma autêntica aventura.
Amanhã logo pelas seis da manhã, irá cumprir-se um dos grandes sonhos da minha vida: ver o Tal Mahal “in loco”.
Como já cheguei ao entardecer, acabei por ir assistir a um espectáculo “tipo Broadway” sobre a história do Taj Mahal. Como tem tradução simultânea em muitas línguas, incluindo o português, lá entendi a história. Não é recomendável a senhoras, a não ser que levem um lençol para limpar as lágrimas. Toda a minha gente chorando e fungando. Bem feito, com uma música excelente e boas interpretações. Casualidade das casualidades, dou de caras com os primeiros portugueses e não eram poucos, também a assistir ao referido musical.
Eu que não sou dado muito a comer pizas, hoje ao jantar comi uma que até me soube a “bacalhau com batatas”. Para cumulo da sorte, uma pastelaria com café italiano (bem à nossa maneira). Quanto a comes e bebes hoje foi um dia perfeito.
Vou agora para a cama que já são 11 horas e amanhã o despertador toca às 5 da manhã (mais uma martelada na cabeça). Mas o motivo é bom.
Continuação de boas férias para todos
Jacinto César
Hoje o dia foi passado por inteiro em Jaipur.
Cidade tão porca e caótica como Delhi, mas só que em ponto mais pequeno. Faz calor como nunca e a humidade é mais que muita. Leva-se um dia inteiro como se de uma sauna se tratasse. Mas lá se vai suportando.
Desde que aqui cheguei ainda não comi outra coisa senão frango. É ao almoço e ao jantar. Com caril ou de outra maneira qualquer.
A vaca é sagrada e como tal está fora de questão. O porco é um animal “desprezível” que só a casta mais baixa da sociedade come (os intocáveis). Assim sendo frango e mais frango.
À tarde lembrei-me de Elvas e da sua candidatura a património mundial.
Quando há uns tempos atrás afirmei que a nossa cidade nunca será Património da Humanidade, eu tinha as minhas razões e as minhas informações para fazer tal afirmação. A concessão de tal título é puramente político e por razões de ordem económica (leia-se aqui, os lóbis das cadeias hoteleiras).
Hoje visitei um observatório astronómico do século XIX que foi já este ano agraciado com o tão desejado título. Ridículo! Ridículo!
Como é possível tal construção, que por original que seja, ainda hoje continua em construção? Só “favores” muito grandes fazem disto Património da Humanidade. Quando a vida do blog voltar à normalidade e o teve vier outra vez à baila, então publicarei uma série de fotos e factos que farão rir muita gente.
Quando se fala que a nossa cidade está degradada, então o que dizer desta que mais parece uma cidade onde passou um furação e a grande maioria das pessoas vivem como animais?
Fico-me hoje por aqui já que amanhã é dia de me deslocar para Agra onde irei ter o prazer de ver mais uma das 7 maravilhas do Mundo: o Taj Mahal.
Continuação de boas férias para todos.
Jacinto César
Hoje o dia acordou normal. Ao que parece ontem era esperado um atentado. Pelo menos foi o que consegui saber.
Pela manhãzinha, carregaram comigo para Jaipur. Somente 200 Km., mas quase 7 horas de viagem. Uma loucura! Conduz-se de qualquer maneira, incluindo na auto-estrada. Tudo o que tem rodas por lá anda circulando, e muitos em sentido contrário. Pessoas a atravessar a via são às centenas, para já não contar com as vacas. Se alguma se lembra de descansar um pouco no meio da via, o trânsito lá vai ter que parar até a “maldita” vaca se lembre de mudar de poiso. É a loucura total.
Ao longo dos anos já vi de tudo! Ou antes, assim pensava! Jamais me passava pela cabeça que qualquer país do 3º mundo, incluindo os africanos, fossem um modelo de limpeza comparados com a Índia. É absolutamente anormal. De uma nojeira tão grande que até fazia corar os mais porcos. É a falta de higiene total. Penso que pior será impossível.
O que estranho, e ainda voltando ao trânsito, é que não há acidentes. Deve haver por aqui alguns santos a proteger esta gente. Penso que nem o mais audaz teria coragem de conduzir por aqui. Autênticos malabaristas ao volante.
Que continuem a ter umas boas férias.
Jacinto César
Cidade estranha esta.
Hoje é 15 de Agosto e como tal é feriado por cá: Dia da Independência Nacional.
Acordou tranquila, sem o bulício do dia de ontem, mas uma tranquilidade pouco normal. Jamais tinha vivido uma situação destas. Em cada esquina um “bunker” feito de sacos de areia, um militar com uma metralhadora e mais uns quantos espalhados pelas imediações equipados com coletes à prova de bala e espingardas automáticas. E quando digo em cada esquina é issso mesmo que quero dizer. As barragens militares são uma constante. O carro em que me desloco, é mandado parar mil e uma vez, o compartimento do motor e a mala são abertas, enquanto outro militar coloca um espelho por debaixo do carro. Parece uma situação quase de guerra. O comércio está fechado e os cafés ou restaurantes onde entro sou inspeccionado por um polícia. Se o detector de metais toca por qualquer motivo, lá tenho que levantar os braços e alguém aparece para me “apalpar”. Coisas da vida.
Cidade feia por natureza, buracos por todo o lado, esgotos que correm a céu aberto, lixo aos montes e pedintes por todo o lado. Quase como se de uma paradoxo se tratasse, nunca tinha conhecido uma cidade com tantas zonas verdes (de muitos hectares cada) e extremamente bem cuidadas e limpas. Campos relvados a perder de vista e com flores por todo o lado. Até admitia o contrário, mas não.
Como grande satisfação do dia foi ter estado no memorial a Gandhi onde estão as suas cinzas. Foi para mim emocionante já que para mim, é das figuras marcantes do século XX.
São por aqui quase as oito da noite e vou jantar, procurando não ser “apalpado” mais nenhuma vez por hoje. Claro que para entrar no hotel mais uma vez tenho que passar pelo pórtico detector de metais, mas aí são mais permissivos.
Para quem está de férias ainda que continuem a gozá-las bem.
PS- Estes votos estendem-se ao meu corrector ortográfico particular pois já verifiquei que tem uma particular simpatia por mim.
Jacinto César
24 horas depois eis que desaguei num autêntico caos: Nova Deli cá na longínqua Índia. É na verdade um autêntico caos, mas onde toda a gente se consegue entender, ou seja, um caos organizado. Os carros e as motas são aos milhares e aparecem de todo o lado, sendo que é curioso que ninguém bate. Devem estar protegidos por Buda.
É uma enorme metrópole de 15 milhões de habitantes. Claro está que a grande maioria vive numa miséria atroz.
Ainda não tive tempo de ver grande coisa, mas já deu tempo para notar que se “destila” autenticamente as 24 horas do dia. Os índices de humidade são na ordem dos 90% e com temperaturas pouco superiores aos 30 graus. São bem mais suportáveis os mais de 40 de aí.
Irei tentar escrever todos os dias dando conta desta aventura a solo enquanto andar por locais que tenham net.
Deixo-vos aqui também uma imagem recorrente do que é a 11ª economia mundial.
Que tenham também boas férias.
Jacinto César
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