Vamos recuar uns anos até aos finais de 2004. Atentemos naquilo que Jorge Sampaio afirmou aquando da dissolução da Assembleia da República quando o 1º Ministro era Santana Lopes e era apoiado por uma maioria. “O Presidente da República anunciou, no dia 30 de Novembro, a sua intenção de dissolver a Assembleia da República. Jorge Sampaio decidiu dar uma oportunidade à maioria PSD/CDS para continuar a governar após a demissão de Durão Barroso, mas ter-se-á cansado da instabilidade política e dos sucessivos escândalos que marcaram os 4 meses do Governo de Pedro Santana Lopes. Na decisão do Presidente terá também pesado o distanciamento face ao Governo de economistas e empresários de referência, como Ferraz da Costa, Belmiro de Azevedo, João Salgueiro e Cavaco Silva, entre outros.” Estes foram os argumentos que utilizou Jorge Sampaio para a dissolução da AR. Esperou 4 meses pela saída de António Guterres, esperou pelo congresso do PS, esperou que José Sócrates fosse eleito secretário-geral do partido, e quando este estava em condições de ir a eleições procedeu à dissolução. Para mim foi um golpe muito feio. Atentemos agora a algumas palavras proferidas no discurso de demissão de Santana Lopes. “Devemos perguntar: porque não foi dissolvida a Assembleia da República quando havia Ministros do Governo Socialista que se demitiam sucessivamente, várias vezes em confronto público com o Primeiro-Ministro António Guterres? Porque não foi dissolvida a Assembleia da República quando todos os indicadores apontavam para um descontrolo das contas públicas e para a degradação da situação económica? Porque não foi imediatamente dissolvida a Assembleia da República quando o então Primeiro-Ministro, sem o apoio de uma maioria parlamentar, disse que se ia embora para não enfrentar o pântano em que o País se ia atolar? Pelo contrário, o mesmo Presidente da República insistiu para que o Eng. António Guterres se mantivesse à frente dos destinos de Portugal?” Bem, isto pertence ao passado. Concordássemos ou não com a decisão do Presidente da República, o que é certo é que ninguém morreu por isso. Houve eleições e José Sócrates tal como o Presidente planeara, ganhou-as. Hoje gostava de perguntar ao actual Presidente da República que também deu uma mãozinha para que tudo o que atrás se disse tivesse acontecido, o seguinte: 1 – É indiscutível que o anterior governo teve maioria absoluta à qual se sucedeu uma maioria relativa. É um facto. Mas será que o dito governo não esteve e não continua a estar envolvido em sucessivos escândalos? Não chegam já os escândalos sobre a licenciatura do PM, sobre as obras que não projectou mas que assinou, o caso Freeport e finalmente o caso Face Oculta? Que mais é necessário fazer para ser demitido? 2 – Alguma vez o governo de Santana Lopes sofreu tanta contestação social como o actual sofre? Alguma vez o governo de Santana Lopes teve casos de corrupção nas empresas pública como o actual? (por acaso estão lembrados que foi Santana Lopes que afastou da área do poder alguns do barões de PSD, facto que o partido jamais lhe perdoará?). Então porque é que o actual 1º Ministro não é demitido? 3 – O governo Santana Lopes não era muito do agrado de alguns ilustres economistas. E este, a começar por alguns de muito peso dentro de PS como Campos e Cunha ou Medina Carreira, para já não falar de muitos que não navegam em águas socialistas? Se este foi um argumento para a demissão de Santana Lopes, porque não pode agora ser utilizado? Ou será que o Senhor Presidente da República está de acordo com as medidas económicas que os governos socialistas têm tomado? 4 – Será que o actual presidente está com esperança que o PS o apoie numa futura recandidatura? Estou muito farto da actual situação e não lhe vejo um fim. Já começo a estar farto de ler jornais e ver telejornais: deixam-me deprimido. E eu a pensar que o país já tinha batido no fundo. PS – Senhor Presidente: quando é que põe em ordem o Supremo Tribunal de Justiça (?) e a Procuradoria-geral da República? É um espectáculo lamentável! PS2 – Caros comentadores, não vale a pena dizerem que eu estou furioso porque me querem avaliar. Começo a ficar tão farto de tal argumento que qualquer dia corto-vos o pio. Jacinto César
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