Na numeração árabe, aquela que nós utilizamos diariamente, existem dez algarismos.
Com os algarismos, isolados ou justapostos, escrevemos os numerais cardinais ou ordinais (hoje vamos apenas dedicar atenção aos cardinais), que são uma forma de representação dos números.
Acontece que entre os algarismo há um o 0 (zero) que tem propriedades muito particulares. Quando isolado representa o cardinal (número de elementos) de um conjunto vazio, isto é a inexistência de qualquer elemento. O mesmo algarismo, quando colocado â esquerda de outro, não altera o seu valor, por exemplo se tivermos o algarismo 1 ele representa uma unidade, ou seja o cardinal de um conjunto com apenas um elemento, se lhe colocarmos um 0 é esquerda, 01 representa exactamente o mesmo, uma unidade, e se acrescentarmos mais um 0 à esquerda, 001 continua a representar a mesma unidade, e se acrescentarmos ainda outro 0 à esquerda, 0001 estamos ainda a representar uma e uma só unidade, e assim acontece qualquer que seja o número de algarismos zero que acrescentemos à esquerda. No entanto sempre que acrescentamos o algarismo zero à direita de outro algarismo diferente de 0 estamos a multiplicar por dez, por exemplo se tivermos o algarismo 1 isolado ele representa uma unidade, com ficou dito acima, mas se lhe acrescentarmos um 0 à direita, 10 ele passa a representar dez unidades, e se lhe acrescentarmos mais um 0, 100 passa a representar cem (dez x dez) unidades, se acrescentarmos ainda outro 0, 1000 passa a representar mil (cem x dez) unidades, e o mesmo acontece qualquer que seja o número de zeros que acrescentamos à direita, por cada novo algarismo zero que acrescentarmos à direita teremos uma nova multiplicação por dez.
Certamente que os caros leitores se estarão a perguntar, a que vem hoje uma “aula” de Matemática, ainda mais à volta de um conteúdo tão elementar, e os comentadores do costume por certo estarão a dizer que é um tema que não interessa. Permitam-me que discorde, e dê um exemplo de uma situação hipotética em que este conceito tão simples se torna de extrema importância e o seu desconhecimento ou inobservância acarreta graves consequências.
Suponha os leitores que, ao avizinhar-se a época de chuvas, que aliás todos aguardamos com uma certa impaciência, um comerciante a que vamos chamar senhor “A” resolvia encomendar à empresa “Água a Toda a Hora” 1000 (mil) guarda-chuvas de um modelo exclusivo. Sendo um modelo exclusivo, fabricado por encomenda, foi acordado que o pagamento seria efectuado na íntegra antes do início da produção, uma vez que os referidos guarda-chuvas só interessavam mesmo àquele cliente.
A nota de encomenda foi enviada ao escritório da empresa “Água a Toda a Hora” que lhe deram o tratamento habitual, emitindo a factura e o recibo, uma vez que a cobrança deveria ser feita antecipadamente e efectuando a respectiva cobrança. Uma vez recebido o pagamento, foi enviada à produção a respectiva nota de encomenda com a indicação que deveriam ser produzidos 1000 guarda-chuvas e enviados o mais rapidamente possível ao cliente. O problema é que o encarregado da produção que recebeu a referida nota de encomenda, ou porque desconhecia o elementar conceito matemático atrás exposto, ou porque tinha um problema de lateralidade não distinguindo bem a esquerda da direita, confundiu 1000 (mil) com 0001 (um) e em vez de mil guarda-chuvas produziu e enviou apenas um.
Imaginam os caros leitores como ficou indignado o senhor “A” que tinha pago antecipadamente mil guarda-chuvas e só recebeu um? E como ficou a imagem no mercado da empresa “Água a Toda a Hora”?
Expressões como:
“Quem anda à chuva molha-se”
“Mete muita água”
Podem mesmo ter resultado de uma situação como esta.
Aqui têm caros leitores o porquê da pertinência desta “lição” de Matemática Elementar.
António Venâncio
Blogs de Elvas