Ouvimos nestes últimos dias, primeiro o Senhor Secretário-Geral do Partido Socialista José Sócrates, em entrevista à RTP e depois e Senhora Ministra da Educação em declarações na Escola de Albufeira, virem reconhecer que talvez não tivesse havido suficiente delicadeza no tratamento da relação com os Professores ( no caso do Senhor Secretário Geral do PS) e que houve dificuldades de comunicação entre o Governo e os Professores (no caso da Senhora Ministra da Educação). Claro que falarmos de “suficiente delicadeza” é puro eufemismo, tratou-se de uma declaração de guerra aos professores efectuada pela Sr.ª Ministra da Educação logo no inicio do mandato quando declarou “Perdi os professores mas ganhei a opinião pública” como se cada aluno, o objecto último da Educação, pudesse ser encarado como um campo de batalha com professores de um lado e Governo e opinião pública do outro, e isso fosse uma vitória do Ministério e uma melhoria do sistema de ensino. Por outro lado penso que também não pode ser classificado apenas de insuficiente delicadeza o tratamento “professorzecos” pela equipa do Ministério em reunião com deputados, esse tratamento insultuoso é no mínimo falta de educação, o que é grave na equipa responsável pela pasta do mesmo nome. Quanto à sinceridade destes reconhecimento e à anunciada vontade de "tudo fazer para corrigir isso” convive mal com a afirmação de ontem da Sr.ª Ministra segundo a qual “paz com os professores vai sair muito cara ao país”.
Mas independentemente desta questão da “forma” assumida em palavras pelos responsáveis referidos, há um problema de conteúdo.
Se alguém pensa que os professores se deixam agora iludir por uma nova bonita embalagem para o mesmo conteúdo, desengane-se, o problema real não está na comunicação, que mais que desastrosa foi ofensiva, mas nas medidas em si. Que vão de um estatuto que criou artificialmente duas categorias para o mesmo conteúdo funcional, a um sistema de avaliação tão bem pensado que estando há dois anos lectivos no terreno ainda não foi possível aplicá-lo da forma como foi concebido, e que, ainda agora foi promulgado o diploma que determina a sua simplificação para um terceiro, passando por uma alteração da legislação que veio concentrar vários grupos disciplinares no mesmo grupo de docência, o já celebre 530, permitindo por exemplo que um professo de Têxteis possa ser colocado a leccionar Mecânica, um de Dactilografia a leccionar Têxteis e um de Mecânica a leccionar Dactilografia. Não, não é ficção aconteceu este ano o caso de uma professora de Têxteis colocada a leccionar Mecânica em Elvas!...
Senhor Secretário-Geral do PS, dirijo-me a si por ser o responsável pelas políticas dos últimos anos e pelo programa com que se apresenta aos portugueses, é verdade que houve um grave problema de forma, mas, e isso o senhor ainda não reconheceu, houve um ainda mais grave problema de conteúdo.
António Venâncio