O período pós 25 de Abril
Para os que se lembram deste período, fosse na condição em que fosse, devem recordar-se ainda o que foi a Educação e o Sistema educativo na altura.
Poucas serão sempre as palavras para descrever o que se passou nesses “gloriosos anos” nas escolas e universidades portuguesas. Foi aquilo que na gíria se pode dizer o “regabofe total”. Valeu tudo.
Mas recordemos: no pós 25 de Abril a Escola abriu-se a toda a sociedade, ou por outras palavras, massificou-se. Só que as condições existentes na altura eram muito carentes em todos os aspectos: as Escolas não tinham instalações, não tinham professores, não tinham meios materiais e tinham alunos de sobra. Era o caos! As salas chegavam a comportar 40 e 50 alunos: sentados nas carteiras que havia, no chão ou então de pé. Há falta de melhor construíam-se barracões provisórios que por vezes era o mesmo que estar na rua. Material pedagógico nem vê-lo. Programas existiam os antigos que foram sendo alterados e adaptados aos tempos que corriam. Como não podia de deixar de ser (a política, sempre a política) uns professores cumpriam-nos, outros não. Novos programas, novos conteúdos a cada (des)governo. Como estes eram de curta duração é bom de ver o que acontecia. Se o professor era “canhoto” os temas leccionados pendiam sempre para a análise e discussão das sociedades ditas “de democracia popular e avançada” e a palavra fascista era dita e redita um sem número de vezes. O progressismo, a reforma agrária, as ocupações e nacionalizações eram temas recorrentes. Se o professor era “destro” a conversa era exactamente a contrária, sendo que o adjectivo “comuna” era o mais utilizado.
Resultado de toda esta caldeirada foi, e não podia deixar de ser, as passagens administrativas, ou seja, passava toda a gente.
Para colmatar a falta de professores o sistema não foi de intrigas, e fez professores de toda a gente. Alunos que acabavam o 7º ano num ano, no ano seguinte estavam feitos professores de matérias que como toda a gente pode calcular, estavam “preparadíssimos”. Era uma festa para todos e um caos total. Era o tu cá tu lá entre os professores e os alunos, a amena cavaqueira das aulas entre duas cigarradas, era eu sei cá que mais. Uma coisa era certa: toda a minha gente andava satisfeita: os professores passaram de repente a ganhar mais, os alunos estudavam menos e os pais contentes de verem os filhos passar de ano.
Depois inventou-se o serviço cívico para entreter a rapaziada mais um ano longe da universidade que passava um mau bocado devidos às mesmas circunstâncias. Finalmente lá se seguia invariavelmente a caminho de Lisboa ou de Coimbra. Por estas paragens o ambiente não era melhor. O faz que faz continuava, umas cadeiras feitas sabe-se lá como, outras compradas, outras conseguidas à custa do “cabedal” (presumo que meia palavra baste), outras até feitas pelo telefone. Era um vale tudo. De vez em quando lá se tinha que fazer mesmo a cadeira, porque o “prof” era um fascista e não dava abébias. Mas poucos professores tinham a coragem de ser exigentes, pois este era o caminho mais curto para o saneamento político. As festas eram o dia a dia. O estudar era quando Deus quisesse. E não é que não queria mesmo.
Jacinto César
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