Efemérides do dia
Em 21-3-1823 saiu de Elvas o Batalhão de Infantaria 8
Em 21-3-1833 chegaram a Elvas vindos de Espanha, às 9 horas da noite, a Infanta D. Maria Thereza, filha de el-rei D. João VI; seu filho D. Sebastião Gabriel de Bourbou e seus filhos.
Por mero acaso, ouvi hoje recitar um poema, já meu conhecido de há muito, mas que reconheço, estava no “arquivo morto” do esquecimento. Reconhecendo no entanto a sua actualidade, não resisti a ir procurá-lo num velho livro e deixá-lo hoje aqui para reflexão.
A autoria pertence àquele que, para além de um dos maiores poetas da língua portuguesa, foi um dos maiores sátiros da sociedade do seu tempo.
O Leão e o Porco
O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.
Bocage, in 'Fábulas'
Penso que se Manuel Maria Barbosa du Bocage vivesse nos nossos tempos não escreveria algo muito diferente.
António Venâncio
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