Há quem culpe tudo e todos pela falta de desenvolvimento de Elvas e vá disparando em todas as direcções. Vamos a factos.
1 – O antigamente
Elvas dada a sua localização sempre teve uma vida muito especial. Por um lado os militares davam uma grande vida à cidade e depois a agricultura que à custa de uma mão-de-obra quase escrava. A juntar a isto a vizinhança de Badajoz dava um contributo apreciável ao comércio em particular e à cidade em geral. E assim se foram passando décadas e décadas. Melhor ou pior ia-se vivendo. A cidade era animada, tinha uma vida nocturna bastante agitada e o dinheiro ia circulando.
Portalegre nesta mesma época vivia fundamentalmente à custa do funcionalismo inerente à capital de distrito e ao operariado. Era uma sociedade extremamente bipolarizada: uma classe mais abastada por um lado em contraste com o resto da população pobre. O comércio era pouco desenvolvido e a cidade cinzenta e meia morta. Tinha nessa época um Liceu Nacional onde todos os elvenses que queriam continuar a estudar eram obrigados a ir.
Por essa época Elvas tinha entre o 2 e 5 mil habitantes a mais.
2 – O passado recente
Com o advento do 25 de Abril tudo deu uma grande volta. Se Portalegre já tinha muita influência mais passou a ter. O funcionalismo aumentou de uma maneira desmesurada. Eles eram Direcções Distritais disto e daquilo, eram as sedes distritais deste ou daquele organismo, eram os bancos com as direcções distritais, eram os comandos das forças de segurança, Governo Civil, etc. etc.
Ao mesmo tempo que Portalegre aumentava, Elvas foi encolhendo. Veja-se os casos dos militares. Não sei se alguém se recorda, mas Portalegre teve um Destacamento de Portalegre do Regimento de Infantaria de Elvas. Enquanto não transformaram o dito destacamento em Regimento de Infantaria de Portalegre não descansaram. Enquanto isto a guarnição dos quartéis em Elvas ia decaindo com o fim da Guerra do Ultramar, até se finar por completo. Já em Portalegre o Regimento de Infantaria se transformava em Escola da GNR (não sei bem o nome). Mas mesmo assim continuavamos em frente porque ainda tínhamos uma fronteira que gerava muitas receitas e empregava muita gente com um poder de compra alto. Também isto acabou com a nossa entrada na CEE.
A agricultura definhava, o comércio começava a dar sinais de colapso e o que ia mantendo a cidade de pé ainda era o funcionalismo público. Industria sempre andou arredada da cidade por conveniência dos agricultores em não perderam a mão-de-obra barata.
3 - O presente
O presente pouco ou nada se modificou em relação ao passado recente e o que se alterou foi sempre a favor de Portalegre. Eis alguns exemplos.
3.1 – Todos os organismos “residentes” em Portalegre foram reforçados e aumentados.
3.2 – Aquilo que era o Magistério Primário e a Escola de Enfermagem, transformou-se no Instituto Politécnico de Portalegre com um sem número de escolas superiores. Veja-se até o caso recente da Escola Superior de Turismo e Hotelaria que acabou por assentar arraiais em Portalegre quando fazia todo o sentido vir para Elvas, já que esta cidade é detentora de um número de camas em estabelecimentos hoteleiros superiores ao resto do distrito junto. Mas não, o lobi continuou a funcionar. Como ontem aqui disse deram-nos como esmola a ESAE.
3.3 – Sobre a saúde todos sabemos o que se está a passar. O Hospital de St. Luzia não é fechado, mas vai sendo esvaziado progressivamente de competências. Um dia estaremos perante um caso consumado de esvaziamento total. Para consolidar a minha ideia vejam-se as declarações do deputado Cristóvão Crespo e está tudo dito.
3.4 – O PIDAC é mais um exemplo como a capital do distrito faz pressão. A pretexto de que as verbas do PIDAC são sempre maiores em Elvas, Portalegre quer compensações. É demagogia pura, já que a maioria destas verbas se destinam as obras de âmbito nacional (TGV) e não para a cidade propriamente dita. Mas por lá isso não interessa.
4 – Considerações finais
Muita gente em Elvas e alguns analistas vieram nestes últimos dias a chorar baba e ranho devido às estatísticas que tinham saído sobre a riqueza e poder de compra das várias cidade do Alentejo. Caros amigos, lamento dizer, mas a maioria não sabem ler uma estatística e de números pouco entendem. Leiam o que anteriormente escrevi e tirem-se conclusões. Mas eu explico.
Elvas tem actualmente menos 2 ou 3 mil habitantes que Portalegre. E quem é essa gente a mais? São precisamente todos aqueles que engordam os vários organismos públicos e que têm um poder de compra maior que o resto da população. Assim sendo, a média aritmética lida a frio dá resultados quem impressionam os mais incautos. Estes resultados têm que ser lidos não na totalidade mas sectorialmente e por classes sociais. O mesmo é válido para a comparação com Évora e Beja. Se Évora ainda é possuidora de alguma riqueza, Beja não passa de uma “aldeia” grande com toneladas de funcionalismo. Tirem destas 3 cidades todos os organismos inerentes a uma capital de distrito e depois comparem. Iriam ter uma surpresa.
Jacinto César
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